terça-feira, 29 de setembro de 2009

27.º Domingo Comum

27.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Genesis 2,18-24 – Salmo 127 – Hebreus 2,9-11 – Marcos 10,2-16

A Palavra de Deus deste domingo tem dois temas interrelacionados, que é a unidade do casal homem-mulher e a humildade.
A Leitura do Livro do Genesis proclama que o casal humano deve ser uma só carne. Isto é uma semelhança divina, pois Deus é Três Pessoas, mas uma só Vida Divina. Assim como o Pai e o Filho se amam, cada um se esvaziando de si para viver verdadeiramente no Outro, e deles procede a Terceira Pessoa, que é o Espírito Santo, Espírito de Verdade e de Unidade de Pessoas, assim também o homem e a mulher devem formar uma unidade por meio do Espírito Santo, Espírito de Unidade de Pessoas. Assim a pessoa humana realiza a imagem e semelhança divina na qual foi criada.
“Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher (Gn 1,26-27). (...) Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24). Repare neste texto que a semelhança divina não é a razão e a liberdade da pessoa humana, mas ser homem e mulher, uma só carne, semelhança da Santíssima Trindade, Trina e Una.
A Obra de Jesus Redentor é restaurar a pessoa humana na sua condição original, de Paraíso. Por esta razão Jesus, no Evangelho de hoje, rejeita toda separação entre o marido e sua esposa, sob pena de adultério.
A Leitura da Carta aos Hebreus relembra que Jesus se colocou não só abaixo dos anjos, mas também abaixo das pessoas humanas, como servidor delas, sofrendo morte infame. O Evangelho faz suceder à questão da separação do casal, logo o tema das crianças. E Jesus afirma “Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10,15). Parece fazer alusão que as separações dos casais se deve sempre a mecanismos de poder e que a criança é o modelo para entrar no Reino, pela própria natureza do Reino de Deus. Nós dizemos na Santa Missa: “Vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre”. Então o cristão não deve ambicionar o poder sobre os seus irmãos e sim o serviço a eles. O poder que um pai e uma mãe tem sobre os seus filhos é para servir a eles, educando-os e dirigindo sua liberdade para o bem. Jesus ensinou: “O maior dentre vós será vosso servo” (Mt 23,11). A criança é aquela que se sabe dependente do pai e da mãe. Pode estar até fazendo malcriação contra o pai e a mãe, mas se estes se retiram ela vai atrás deles, na sua completa dependência. Assim também nós somos absolutamente dependentes de Deus, como uma criança o é de seus pais. Por esta razão Jesus coloca a criança como paradigma dos que entram no Reino de Deus. A criança sabe que não tem poder e se coloca na dependência daqueles que lhe dão segurança. O pecado é justamente buscar a segurança no poder sobre as criaturas e não se colocar dependente totalmente do Criador.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

26.º Domingo Comum

26.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Números 11,25-29 – Salmo 18 – Tiago 5,1-6 – Marcos 9,37-42.44.46-47

A oração antes das leituras pede a graça a Deus. A graça também são os dons do Espírito Santo e entre estes o dom da profecia, ou seja, falar em nome de Deus.
A tendência ao poder que se seguiu ao pecado original levou a achar que só alguns poderiam falar em nome de Deus. É o que está expresso nas preocupações de Josué na Primeira Leitura e nas preocupações dos discípulos no Evangelho. Na Primeira Leitura, Moisés profetiza sobre o povo cristão no qual todos são chamados a ser profetas. Ainda mais no momento atual em que somos chamados a realizar a Missão Continental. Devemos professar nossa fé sem respeitos humanos e sem a menor timidez. No Evangelho Jesus, que havia dito a Nicodemos que o Espírito sopra onde quer (cf. Jo 3,8), não rejeita uma pessoa que profetiza em seu nome, mas não pertence ao grupo dos Doze discípulos. “Quem não é contra nós é por nós” (Mc 9,40).
Após esse ensinamento Jesus ensina sua presença não só nesse “pregador”, mas também em qualquer necessitado, ou pequenino. No mundo atual muitos escandalizam os pequenos ensinando-lhes o pecado, as drogas, o sexo antes da idade, o turismo sexual e outras aberrações como a violência. Contra todos se insurge o Senhor, afirmando que seria melhor serem afundados no mar com uma pedra de moinho no pescoço (cf. Mc 9,42). E nos previne para, com energia retirarmos de nossa vida qualquer realidade que nos arraste ao pecado.
A Segunda Leitura, da Carta de São Tiago tem um tema diferente. E trata de como todas as coisas que não usarmos para a caridade para promover o próximo voltarão contra nós. A nossa segurança deve estar somente em Deus, como Adão e Eva no Paraíso, e não nas coisas, nos afetos, fama ou prazeres humanos. Todas essas coisas voltarão contra nós. Todos os dons de Deus devem ser usados para fazer bem ao próximo, ao nosso irmão. Aquilo que for recebido de graça e não for dado de graça voltará contra nós no juízo divino. Tornaremos estéreis os dons de Deus? É o que aconteceu com o rico epulão, da parábola contada por Jesus.
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava. Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: - Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas. Abraão, porém, replicou: - Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá. O rico disse: - Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos. Abraão respondeu: - Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos! O rico replicou: - Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão. Abraão respondeu-lhe: - Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos” (Lucas 16,19-31). Nesta parábola, as festas que o rico dava não lhe renderam pois não eram uma renúncia a si mesmo para fazer bem a outrem, mas era um deleite pessoal. O pobre, que não tinha em que confiar, pois não tinha coisas nem amigos encontrou seu apoio em Deus, que socorre os deserdados. Não substituamos jamais Deus, que é a nossa segurança, nem por coisas nem por pessoas. As criaturas não nos podem dar vida eterna, mas somente Deus, que nos deu essa vida mortal nos dará, se nos apoiarmos somente n’Ele, a vida divina e sem fim.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

25.º Domingo Comum

25.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Sabedoria 2,12.17-20 – Salmo 53 – Tiago 3,16-4,3 – Marcos 9,30-37

“De onde vem as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?” (Tiago 4,1). Os conflitos que aparecem nas relações entre as pessoas começam no interior das pessoas, onde surgem as paixões e os desejos orgulhosos. Jesus já tinha ensinado: “Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem. Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem” (Marcos 7,20-23). O que rebaixa a natureza humana, para Jesus Cristo, não é como no judaísmo, as coisas exteriores, carne-de-porco, tocar em cadáveres, trabalhos no sábado etc., mas as coisas interiores que procedem de dentro da pessoa. O que aparece na história é apenas o reflexo das almas manchadas dos homens ambiciosos. Este é o tema principal da liturgia de hoje.
As pessoas boas, na sua virtude, provocam o ódio dos maus, como aconteceu a Nosso Senhor Jesus Cristo. A Leitura do Livro da Sabedoria, hoje, é a previsão do ódio dos inimigos de Jesus. Eles O mataram sobre a Cruz. Mas Deus veio em seu auxílio, não durante a Paixão, mas dando algo muito maior do que se o Pai Celestial O livrasse de Sua Paixão. Deu-lhe a vida divina, divinizando Sua natureza humana e dando-lhe toda a glória, o poder na terra e nos Céus (cf. Mt 28,18).
No Evangelho Jesus Cristo está falando de Sua Paixão e Morte. Surdos às suas palavras, seus discípulos ficam discutindo sobre quem deles é o maior. Como a grandeza da pessoa humana não está na concorrência com seus semelhantes, mas em ser plenamente dependente de Deus Jesus lhes diz: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Marcos 9,35). E lhes apresenta uma criança, que sabe ser dependente de seus pais e aceita tranquilamente essa dependência, como o modelo dos que entram na glória de Deus! No caso, o desejo de ser maior do que os outros e cobiçar é que causa as tensões entre as pessoas humanas e assassinatos, como o despeito de Caim em relação a seu irmão Abel (cf. Gn 4). Por isso devemos recordar o Evangelho do domingo anterior em que Jesus diz: “Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: “Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Marcos 8,34-36). Se as pessoas não renunciarem a si mesmas, cheias de orgulho, caminharão para a destruição mútua, para os conflitos de interesses.
O Evangelho quer que sejamos apenas criaturas de Deus, sem nenhuma idolatria, nem de nós mesmos com nossas manias de grandeza. O que ganharemos se ganharmos o mundo inteiro e não conseguirmos que o nosso espírito domine o nosso corpo? O que levaremos desse mundo, de todas as vitórias que alcançarmos, se a morte nos colhe? Não tenhamos pois nenhuma inveja das pessoas mais bem sucedidas do que nós. A verdadeira vitória não são os sucessos que alguém tenha na vida, mas a salvação eterna, que se consegue servindo aos outros. O serviço aos outros nos faz semelhantes a Deus pois nos faz ser “fontes de graças” para nossos irmãos. A graça que vem de Deus passa por nós e beneficia os nossos irmãos. Somos assim canais da graça de Deus, algo como a mão de Deus para os outros, e isso nos dá a comunhão divina, fonte de vida eterna. A vida eterna é a vida divina compartilhada por nós na comunhão com o Filho de Deus por meio do Espírito Santo, que une duas ou mais pessoas numa unidade de amor, como Ele é a Unidade do Pai e do Filho de Deus.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

24.º Domingo Comum

24.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Isaias 50,5-9a – Salmo 114 – Tiago 2,14-18 – Marcos 8,27-35

A Leitura do Livro de Isaias sublinha a absoluta liberdade com que Jesus Cristo se expõe à Paixão, fazendo a vontade salvadora do Pai. O sofrimento é um teste para sabermos se amamos a Deus. O sofrimento é como um questionamento ao amor de Deus. Se Deus ama essa pessoa, por que ela sofre? Agora, se a pessoa que sofre diz: “mesmo sofrendo eu creio no amor do Pai e espero n’Ele”, ela derrota aquele que produziu o sofrimento humano, o demônio ou satanás. Foi o que aconteceu com Jesus Cristo. No meio das torturas que o levaram à morte, seus adversários diziam: “Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele!” (Mt 27,42). Se Jesus descesse da Cruz, não teria nos salvado e continuaria mortal. É o drama que pensa salvar-se a si mesmo. Só Deus pode dar a vida eterna à pessoa humana, como deu esta vida mortal. Jesus então nada faz para salvar-se, mas entrega-se à morte, esperando que Aquele que lhe deu a natureza humana no ventre de Maria Santíssima Lhe daria também a ressurreição e a vida gloriosa. Por isso diz-se na Leitura: “o Senhor Deus é o meu Auxiliador; quem é que me vai condenar?”; eu confiei na Sua Providência e Ele, que é Fiel, me dará a vida eterna.

A Leitura da Carta de São Tiago mostra que a fé opera pela caridade (Gl 5,6). Uma fé sem caridade é mera admissão psicológica de alguns eventos sobre Jesus Cristo, mas não é inserção no Seu Mistério e de nada vale. A fé de que se fala no Novo Testamento é sempre uma semelhança de comportamento com Jesus Cristo, que renunciou a si mesmo para que nós tivéssemos a vida eterna. O cristão pode não ser capaz de dar vida eterna aos outros, mas pode renunciar aos bens desta vida e proporcionar-lhes ao seu próximo, sem discriminações e sem considerações de mérito, pois Deus se nos tratasse segundo os nossos méritos, ninguém seria salvo. Ter fé é renunciar a si mesmo como Jesus Cristo fez em relação a nós. Ele renunciou a si mesmo para que nós tivéssemos salvação, e assim fazendo nos fez membros de Seu Corpo, ou seja Ele vive em nós. Ter fé é renunciar a si mesmo e proporcionar os bens que recebemos de graça de Deus e assim como que vivemos no nosso irmão.

O Evangelho nos traz a confissão de fé de São Pedro. E a revelação do tipo de salvação que Jesus viria trazer para a humanidade. Ele não veio como um rei poderoso, por que os verdadeiros inimigos da pessoa humana não são outras pessoas humanas, mas o diabo ou satanás. E esse é derrotado quando a pessoa humana, no meio dos sofrimentos, que são a conseqüência do pecado espera no amor de Deus e nunca descrê de Deus. Jesus Cristo, então ensina essa senda de salvação. Não são as seguranças materiais desta vida que nos salvam, mas a auto-doação de nós mesmos, pois Deus é Amor e é Santíssima Trindade. Na Trindade cada Pessoa renuncia a si mesmo e como que vive na outra Pessoa. O Pai renuncia a Si mesmo e vive no Filho. O Filho renuncia a Si mesmo e vive no Pai. O Espírito Santo é o Espírito que procede do Pai e do Filho e é derramado sobre nós para que também nós tenhamos a vida divina. Se repararmos, Jesus Cristo nos tratou da mesma maneira com que trata o Pai. Ele não se amou. Ao contrário, Ele se imolou para nos amar e nos dar vida plena e divina. Assim como Ele renuncia a si mesmo para viver no Pai, renunciou a Si mesmo para viver em nós e formar conosco uma unidade, que é o Seu Corpo Místico. Se Jesus Cristo vive em nós ter fé é viver segundo o Mistério da Santíssima Trindade, e só vivendo assim seremos semelhantes a Deus e viveremos a vida divina eternamente.