Segundo Domingo do Tempo Comum – Ano C
Isaias 62,1-5 – Salmo 95 – Primeira Carta aos Coríntios 12,4-11 – João 2,1-11
Tal como nos Mistérios Luminosos do Rosário, ao Batismo de Jesus sucede o gesto simbólico do seu casamento com a humanidade. De fato a salvação não é um vestibular moral onde, pela misericórdia de Deus alguns pecadores “passam” e são salvos. É um casamento: Deus ama a todas as suas criaturas; agora resta às criaturas amarem o seu Criador para realizar esse casamento. Acontece que poucos amam o Criador e a maioria se consola nas criaturas mesmo, no dinheiro, nos afetos, no sucesso, no aplauso, na fama etc. Antes do pecado original a criatura humana vivia diretamente da vida que lhe proporcionava o Criador. Em tudo via o dom de Deus. Após o pecado original, a pessoa humana quis ser Deus e bastar-se a si mesmo. Como é criatura contingente não consegue bastar-se a si mesmo e deve apoiar-se em alguma coisa externa a si. Ao invés de apoiar-se em Deus preferiu apoiar-se nas criaturas e nos frutos de seu próprio trabalho. Só que nenhuma criatura dá vida eterna, só o Criador é terno e pode transmitir vida eterna. É terrível a sentença: “E disse em seguida ao homem: ‘Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar’” (Genesis 3,17-19). Mesmo que a pessoa humana trabalhe muito está votada à morte, porque é pó. Só o Criador pode tirá-la desse destino de morte, o que o Criador fez por meio de Jesus Cristo e do Espírito Santo.
A justiça de que fala a Leitura do Profeta Isaias é, em primeiro lugar, uma ação de graças em relação a Deus. É uma gratidão pelo fato de ter sido criado e gozar de tantos dons. O Criador não mais abandonará a sua criatura, mas tirará os Anjos do caminho do Paraíso e quer que a pessoa humana volte ao Paraíso (cf. Genesis 3,24). Não mais será a pessoa humana Abandonada, mas “Minha Predileta”. E termina a Leitura do Profeta Isaias com uma alusão ao casamento, como modelo da união de Deus com a pessoa humana.
O salmo é uma proclamação de que ser fiel a Deus é glorificá-lO e manifestar a salvação que Ele traz e reconhecer o Seu Poder. Aqui também o conceito de justiça que explicamos em relação à Leitura de Isaias se aplica.
A Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios mostra que os dons de Deus são diferentes para pessoas diferentes, mas que todos formam uma unidade, por receber do mesmo Espírito os dons. Cada dom recebido não é para a vaidade pessoal, mas para ser colocado a serviço dos demais. “Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mateus 20,28; Marcos 10,45). Cada um tem uma atividade diferente no corpo da Igreja, conforme os dons que recebeu de Deus.
O Evangelho de São João é simbólico. Há um casamento mas não aparece o nome nem do noivo nem da noiva. O noivo é o Senhor Jesus Cristo. A noiva é representada por Maria, a Mãe de Jesus, como figura da Igreja, e os discípulos de Jesus. A Mãe percebe a falta do vinho. E avisa a Jesus. Este diz: “A minha hora ainda não chegou” (João 2,4). É a hora do casamento verdadeiro, da redenção da humanidade,
A justiça, de que fala a Leitura de Isaias, que surge como um luzeiro, se identifica com a salvação e é a realização da suprema vocação da pessoa humana: “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Genesis 1,26-27). Essa criação à imagem e semelhança de Deus é para que a pessoa humana entre em comunhão com a Santíssima Trindade, pela comunhão com o Filho – a Segunda Pessoa – por obra do Espírito Santo que realiza a unidade das Pessoas. Por isso somos, desde o nosso batismo, membros do Corpo de Cristo e carregamos a Cruz de Cristo e a oferecemos ao Pai, junto com a d’Ele
A leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios afirma que os dons de cada um não são para essa pessoa, mas para o conjunto do Corpo de Cristo, que são todos os membros da Igreja, e por extensão, toda a humanidade, pois Deus não faz acepção de pessoas. “Então Pedro tomou a palavra e disse: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas” (Atos 10,34; 15,9; Romanos 2,11; 3,22; 10,12 etc.). Nenhum dom é para a vaidade da pessoa, mas todos são para viver o amor que se expressa em serviço ao próximo.
No Evangelho, Jesus afirma à Sua Mãe: “Minha hora ainda não chegou” (João 2,4), pois a hora da união final e da doação do Espírito para a união definitiva da pessoa humana com Jesus Cristo que é a Segunda Pessoa da Trindade, o Filho, se dá na sua morte redentora por nós, quando Jesus Cristo vence definitivamente o demônio: “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo” (Jo 12,31). Mas Jesus Cristo para atender Sua Mãe dá um sinal de que dará todo o seu preciosíssimo sangue por nós na Santa Cruz: transforma a água em vinho, água que é premonição da Eucaristia, Sangue precioso de Jesus Cristo por nós. O mestre-sala diz que todos servem primeiro o vinho bom e depois o vinho menos bom, mas que o noivo guardou o vinho melhor até o fim do casamento, porque o Antigo Testamento não realizava a justiça divina, não unia a pessoa humana à Santíssima Trindade, mas apenas manifestava a vontade de Deus através da Lei – os Dez Mandamentos – e significava dons apenas deste mundo como terra e vitórias militares.
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