terça-feira, 2 de junho de 2009

Santíssima Trindade

Domingo da Santíssima Trindade

Dt 4,32-34.39-40 – Salmo 32 – Rm 8,14-17 – Mt 28,16-20

Hoje, após o Tempo Pascal, a Igreja dedica um domingo ao Mistério central da Fé Cristã: Deus não é uma só Pessoa, mas são Três Pessoas, em perfeita comunhão de Vida, um só Deus. Deus é amor, é comunhão de Pessoas e nós somos chamados a participar dessa vida, pela comunhão com o Filho, na unidade entre Pessoas realizada pelo Espírito Santo. A oração feita antes das Leituras já nos esclarece que duas Pessoas foram enviadas a nós para essa finalidade: a Palavra da Verdade, que é o Filho, Jesus Cristo, e o Espírito Santo, pelo qual Jesus vive em nós e nos tornamos, pela comunhão de vida com Ele, filhos de Deus. Os antigos Padres da Igreja diziam que Deus se tinha tornado homem para que o homem se tornasse Deus, fosse divinizado pela comunhão de vida eterna com as Pessoas Divinas.

As leituras são direcionadas nesse sentido. A Leitura do Deuteronômio quer nos mostrar a intimidade com que o único Deus verdadeiro tratou a humanidade. E por esta intimidade, exortar a que seja obedecido nos seus mandamentos, Ele de Quem depende absolutamente toda criatura, especialmente a criatura humana. O Salmo festeja essa intimidade, felicitando não apenas um povo, que o Senhor Deus escolheu por sua herança, mas como se pode ler na Carta aos Romanos, toda a humanidade, chamada a essa comunhão com Deus em Jesus Cristo, no Espírito Santo.

Seja feita atenção ao trecho da Carta aos Romanos onde se lê: “vós não recebestes um espírito de escravos para recairdes no medo, mas um espírito de filhos ... no qual todos nós clamamos: ‘Abá, ó Pai!’”. De fato, pelo Evangelho, somos libertados dos medos que caracterizam o paganismo, do medo de sofrer, do medo das perdas da vida, do medo do azar, coisas que escravizam os pagãos aos falsos profetas, que lhes incutem medo de desgraças e castigos e os mantêm assim escravizados a si mesmos. Por isso, o trecho da carta lido hoje termina com a frase “se realmente sofremos com Ele, é para sermos também glorificados com Ele”. O cristão sabe que na terra, Deus não é amado pelos homens pecadores e ambiciosos de serem auto-suficientes e não mais dependerem do Deus Único – o que é uma mentira, pois são criaturas e por isso são sempre dependentes. Portanto, aqueles que são de Deus são alvo da mesma condenação que atingiu Jesus Cristo e participam da Sua Cruz.

O Evangelho quer mostrar o batismo “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Nos Atos dos Apóstolos se menciona o batismo em nome de Jesus Cristo. “Pedro lhes respondeu: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,38). “E (Pedro) mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Rogaram-lhe então que ficasse com eles por alguns dias” (At 10,48).

Atente-se também para o que Jesus diz: “Toda a autoridade (poder) me foi dada no Céu e sobre a terra”. Ele é o Senhor e é a Palavra que julgará toda a humanidade. “Quem me despreza e não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a palavra que anunciei julgá-lo-á no último dia” (Jo 12,48). Jesus é o Homem restaurado na sua plenitude, de quem Deus dissera: “Deus os abençoou: Crescei, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra” (Gn 1,28). A pessoa humana pelo pecado havia perdido esse poder para satanás: “Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todo jaz sob o Maligno” (1Jo 5,19). Jesus derrotou satanás na Santa Cruz e recuperou o poder para a pessoa humana. Não devemos mais ter medo, nem do demônio, se queremos viver na graça de Jesus Cristo que é viver segundo o Espírito Santo, uma vida semelhante à de Jesus Cristo. Em Jesus Cristo, recuperamos a nossa dignidade sobre toda a Criação e somos senhores de todas as coisas pois não nos colocamos na dependência de nenhuma delas, mas só e exclusivamente dependemos de Deus. Todas as coisas são graças de Deus proporcionadas a nós para o nosso bem, até aquelas realidades que nos fazem participar da Cruz de Jesus Cristo.

O Evangelho também diz que o Senhor Jesus mandou seus Apóstolos batizarem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Batizar, em grego, quer dizer mergulhar. Antes do pecado de Adão e Eva, a grande riqueza da pessoa humana era o próprio Deus, fonte de sua existência e de sua vida. Diante da tentação de “ser como deuses”, senhores do bem e do mal, nossos primeiros pais imaginaram Deus como um ser auto-suficiente que não precisa de ninguém para viver. A revelação da Santíssima Trindade nega essa suposição pois sabemos que o Filho vive do Pai e o Pai vive para o Filho, na unidade do Espírito Santo. A pessoa humana, de qualquer maneira é contingente, e precisa de uma fonte para sua vida. Ao rejeitar Deus, a criatura humana se fez carente das criaturas. Nasceu o amor pelo fruto do seu trabalho – o dinheiro – pelo afeto dos outros, pelo poder sobre os outros e pela fama. A criatura humana deixou de ser dependente de Deus para se fazer dependente das criaturas. Por isso, o Evangelho pede a renúncia a si mesmo e a todas as criaturas, para a pessoa humana voltar a depender somente de Deus e ser redimida. Como se faz isso? Todas as relações da pessoa humana devem ser renovadas. Não devem ser mais por causa das criaturas mesmas, mas todas elas devem ser por causa de Deus. Os filhos devem amar seus pais por causa de Deus, o marido amar a mulher por causa de Deus, devemos amar nossos vizinhos e próximos somente por causa de Deus, a pessoa humana deve ter uma relação com as outras criaturas somente por causa de Deus. Assim Deus está em todas as relações da pessoa humana e esta fica “mergulhada” em Deus. A união entre as raças e entre os diversos grupos de pessoas fica difícil porque as pessoas querem se amar por si mesmas e não por causa de Deus. Se Deus é a razão da nossa relação haverá perdão e paciência de sobra para suportar os outros. E também uma compreensão e uma misericórdia infinitas no coração da pessoa humana. Deus habitará em cada pessoa humana e haverá a PAZ.

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