sábado, 27 de fevereiro de 2010

2.º Domingo da Quaresma

segundo Domingo da Quaresma – Ano C - 2010

Genesis 15,5-12.17-18 – Salmo 26 – Filipenses 3,17-4,1 – Lucas 9,28b-36

Todas as religiões de superstição buscam a sorte contra o azar. Muitos pedidos de bênçãos também tem esta mentalidade: trazer sorte e afastar o azar. Até entre católicos existe a idéia de bênção como sorte contra o azar. Mas a nossa fé não se relaciona com a sorte e o azar, mas traz uma transfiguração do mal em bem. O principal tema deste domingo de quaresma é exatamente como da morte surge a vida, ou seja, a morte é transfigurada em vida. Jesus Cristo disse que bem-aventurados são os pobres, os que choram, os perseguidos, os que perdoam e não se vingam. Ou seja, inverteu todos os desejos humanos. Para Jesus é bem-aventurado os que dependem mais de Deus e tem menos consolação nas criaturas.

A Leitura do Genesis traz uma “transfiguração”. Abrão acredita em Deus que dará uma terra a seus descendentes. Deus estabelece uma Aliança com Abrão, antes ainda de mudar seu nome para Abraão.

O Salmo faz uma profissão de fé em Deus como luz e salvação e auxílio do que crê. Para além da morte há a terra dos viventes que o Salmo celebra, onde se verá a bondade do Senhor.

A Leitura da Carta aos Filipenses é onde São Paulo lamenta os que são inimigos da cruz de Jesus Cristo e só pensam nas coisas terrenas e não crêem nas coisas eternas. E diz: “Nós porém, somos cidadãos do Céu. De lá aguardamos o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará (transfigurará) o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Filipenses 3,20-21).

O Evangelho de Lucas, alguns afirmam que Jesus tinha a intenção de animar os discípulos para que não desanimassem por causa da paixão. Não concordamos com essa opinião. Porque, então, Jesus não chamou todos os Apóstolos. E sabemos que esse objetivo não foi conseguido, pois Jesus foi preso e todos os Apóstolos se dispersaram. Só João acompanhou Jesus até à Cruz. Aparecem Moisés e Elias, dois grandes profetas do Antigo Testamento e conversam com Jesus sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém. Esta cena parece bastante com a agonia no Horto das Oliveiras. Jesus ali está sofrendo, mas aos olhos do Pai está triunfante como na montanha. Os discípulos estão com sono nas duas cenas e são os mesmos discípulos. O Pai do Céu afirma na montanha que Jesus é o seu Filho amado, que deve ser escutado pelos homens.

A Cruz de Jesus Cristo era um instrumento de tortura, mas Jesus a transfigurou num símbolo de amor. O presépio em que Jesus nasceu ficou bonito por causa da grande humildade e pequenez de José e de Maria. Definivamente a fé cristã é transformar o mal em bem. Todos os mártires transformaram a sua morte em entrada na glória de Deus. É interessante o caso de Santa Maria Goretti. Tinha ela apenas doze anos e um rapaz de 19 anos, Alessandro Serenelli, a quis estuprar. Não conseguindo, enfiou-lhe um punhal no abdômen subindo até o tórax. Maria sobreviveu até o dia seguinte. Quando o padre veio perguntou-lhe se Maria tinha perdoado o rapaz que lhe tinha dado a punhalada. Ela respondeu: - Já o perdoei e quero-o muito perto de mim no Paraíso. Maria transfigurou a maldade do seu agressor pelo perdão e desejo de salvação para ele. Depois de passar trinta anos preso pelo seu crime, Alessandro foi libertado e se tornou um homem de bem, tornando-se até frade passionista, realizando o desejo de Maria Goretti. Assim também Santo Estevão morreu perdoando seus agressores e conseguiu o grande milagre da conversão de São Paulo, que concordava com a sua morte e se tornou um dos mais ardorosos Apóstolos de Jesus Cristo. O seguinte poema ilustra a idéia da transfiguração:

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

Tanta beleza há no mundo

E também tanta bondade.

Sabemos que tudo, no fundo,

Traz nossa felicidade!

Por isso, passamos a crer

Que tudo o que acontecer

Serve p’ra gente crescer! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

Houve um menino, do qual

Os pais, ninguém quis receber

E só encontraram um curral

Para o menino nascer!

Nem vimos cena daquela

Anjos, pastores e estrela

E humildade, que coisa mais bela! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

O filho cresceu bem criado.

Mostrou ser o Filho de Deus,

Mas logo foi odiado

Pelos que eram dos seus!

Na cruz, o prenderam e morreu,

E essa cruz na qual padeceu

Em prova de amor converteu! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

Para reverter mal em bem,

Façamos sempre oração:

Só Deus, que é Pai, é que tem

Poder de transformação!

Então pedimos, Senhor,

Saber p’ra tirar paz da dor,

Mudando o ódio em amor! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!


1.º Domingo da Quaresma

Primeiro Domingo da Quaresma – Ano C - 2010

Deuteronômio 26,4-10 – Salmo 90 – Romanos 10,8-13 – Lucas 4,1-13

Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres. Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: Então não pudestes vigiar uma hora comigo... Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade! Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Voltou então para os seus discípulos e disse-lhes: Dormi agora e repousai! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores...” (Mateus 26,36-45).

Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Esta frase resume o que a Liturgia da Palavra deste domingo quer dizer. Vigiar é estar atento ao que a Palavra de Deus diz para não se envolver em situações de pecado. Orar é elevar o coração a Deus pelo amor e isso também fortalece contra o pecado.

Jesus replicou-lhe [a Nicodemos]: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não poderá ver o Reino de Deus. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer do Alto.” (João 3,3-7). Aqui Jesus diz que é necessário nascer pelo Espírito porque a carne é fonte de pecado. Quem nasce do Espírito é filho de Deus. Porque não nasceu da carne, nem do sangue, mas de Deus mesmo (cf. João 1,13).

A Leitura do Deuteronômio traz o Credo de Israel. O arameu errante é Jacó, a quem Deus mudou o nome para Israel (aquele que luta contra Deus) e por esta razão os descendentes de Jacó são chamados “os filhos de Israel”. O Credo de Israel traz a Páscoa dos judeus, a libertação do Egito, como o nosso traz a nossa Páscoa, a Morte e a Ressurreição de Jesus e sua subida aos céus.

O Evangelho traz as três tentações de Jesus no deserto. Assim como a Eva, o demônio quer seduzir Jesus pelas tentações de poder. A Eva, desmentiu Deus e disse que ela não morreria, mas que se comesse o fruto da “árvore do bem e do mal” tornar-se-ia igual a Deus, senhora do bem e do mal, o que é uma mentira, pois Deus só faz o bem e nunca o mal. Por isso Jesus chama o demônio de mentiroso e pai da mentira (cf. João 8,44). Mas Jesus rejeita a três tentações de satanás. A primeira é a tentação de poder sobre a natureza em proveito próprio. Jesus Cristo nunca fez um milagre em proveito próprio: todas as suas maravilhas foram em favor de outras pessoas. A segunda tentação é a do poder político. Depois da multiplicação dos pães quiseram que Jesus fosse feito rei. “Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte” (Jo 6,15). Jesus só aceita o que lhe for dado pelo Pai. Após a sua Ressurreição, “Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28,18). Foi dada pelo Pai. Quantos políticos se prostram diante de satanás com mentiras e enganos para crescerem em poder!

A terceira tentação é fazer do Pai um servidor de Jesus. O diabo o tenta a que o Pai faça milagres quando Jesus quer. Jesus responde que não é correto tentar a Deus. Mas muitos fazem isso: os pastores de seitas dizem às pessoas para pararem de tomar os remédios porque Deus as irá curar, e isso já foi causa, até de morte, para alguns que pararam de tomar os indispensáveis remédios, que também são uma graça de Deus. Em certas igrejas de seitas estampam cartazes como este: “terça-feira de milagres”, ou seja, Deus deve fazer milagres quando o pastor decide que deve fazer, no dia em que o pastor decide. De sorte que o poder fascina as pessoas humanas, mas não seduziu Jesus, para quem tudo é obediência à vontade do Pai. Até a vontade de viver é uma vontade de poder.

A Leitura da carta aos Romanos que a Liturgia apresenta hoje é muito apreciada pelos protestantes, mas entra em conflito com algumas coisas do Evangelho. São Paulo fala muito em confessar Jesus como Senhor “com a boca”. Ora não adianta nada crer que Jesus é o Filho de Deus, que é o Messias, que ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus, de onde voltará no último dia, se não o tomarmos como o nosso “caminho”. “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. E vós conheceis o caminho para ir aonde vou. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho? Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai...” (João 14,1-9). Não se pode ir ao Pai a não ser pelo caminho que Jesus trilhou: o caminho da Cruz. Crer em Jesus Cristo é também crer no caminho da santa cruz. “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?... Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras” (Mateus 16,24-27). Renunciar a si mesmo é renunciar ao poder e deixar-se conduzir pelo Pai, como Jesus o fez.

Jesus também disse, em contraste com São Paulo neste trecho da Carta aos Romanos: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Certamente na mente de São Paulo, tudo isto que afirmamos estava presente. É ele mesmo que afirma: “Porque os verdadeiros circuncisos somos nós, que prestamos culto a Deus pelo Espírito de Deus, e pomos nossa glória em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. No entanto, eu poderia confiar também na carne. Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreus. Quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível. Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele. Não com minha justiça, que vem da lei, mas com a justiça que se obtém pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus pela fé. Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Filipenses 3,3-14). Por isto damos razão a São Paulo e nunca o colocaremos em contraste com o Senhor Jesus Cristo como os Evangelhos nos mostram.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quarta-feira de Cinzas

Quarta-feira de Cinzas

Joel 2,12-18 – Salmo 50 – 2Coríntios 5,20-6,2 – Mateus 6,1-6.16-18

A Quaresma surgiu quando toda a comunidade se unia aos catecúmenos que faziam, como Jesus ao início de sua missão, quarenta dias de penitência. Na Páscoa os catecúmenos recebiam o batismo, o crisma e a Eucaristia e toda a comunidade renovava o seu batismo. Por isto a Quaresma é um tempo de penitência.

A leitura do profeta Joel tem um trecho onde se diz: “Quem sabe se Ele se volta para vós e vos perdoa...” (Joel 2,14). Jesus Cristo é a Misericórdia de Deus para os pecadores. Aproximou-se dos pecadores para mostrar-lhes o amor de Deus e foi duramente criticado por isto, pelos fariseus, que dividiam a humanidade em “justos” (eles mesmos) e “pecadores”. Eles se consideravam justos porque se submetiam a um certo número de ritos no Templo de Jerusalém e nas sinagogas. Jesus porém ensinou à samaritana que Deus é Espírito e em espírito e verdade deve ser adorado, ou seja, na caridade da vida real. Os fariseus se sabiam pecadores, tanto é que quando Jesus diz: “Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra”, ninguém atirou e foram saindo todos a começar pelos mais velhos (João 8,1-11). Deus deve ser amado na vida cotidiana e não só através de ritos: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). O Salmo é a penitência de Davi depois do pecado com a mulher de Urias e a morte deste. Jesus é o Pastor que procura a ovelha perdida e dá sua vida pelas suas ovelhas. Mostrou a grande alegria no Céu por um só pecador que se converte: “Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15,7).

A Segunda Leitura também é um convite à penitência e à reconciliação com Deus, baseado na misericórdia de Jesus Cristo, que “não cometeu nenhum pecado e Deus o fez pecado por nós, para que n’Ele nós nos tornássemos justiça de Deus” (2Coríntios 5,21). Deus é sumamente misericordioso e se nós não nos salvarmos com um Deus tão bom é devido ao nosso próprio orgulho e concupiscência.

Das criaturas não devemos esperar nada. A recompensa que vem das criaturas não dá vida eterna. Só a que vem de Deus dá vida eterna. O Evangelho recomenda para a quaresma três atitudes: oração, esmola e jejum. Jesus Cristo recomenda que tais atitudes não sejam feitas na frente dos homens porque a recompensa deles é pura vaidade. A recompensa de Deus para os penitentes é vida eterna. Qual é melhor? O sucesso na terra, que acaba com a morte, ou uma vida que nunca mais se acabará? Então o Evangelho de hoje é muito espiritual pois nos coloca numa relação direta com Deus, exigindo que façamos tudo sob os olhares do Pai Eterno e não dos homens.

Um bom teste para a Quaresma é verificar se estamos fazendo tudo para agradar a Deus ou se estamos fazendo as coisas para agradar aos homens. Só se estivermos fazendo tudo para a gradar a Deus é que estraemos bem preparados para renovar o nosso batismo na Páscoa. Pelo batismo, morremos para este mundo e vivemos para Deus. “Então que diremos? Permaneceremos no pecado, para que haja abundância da graça? De modo algum. Nós, que já morremos ao pecado, como poderíamos ainda viver nele? Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição. Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo (outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado. (Pois quem morreu, libertado está do pecado.) Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele, pois sabemos que Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá mais domínio sobre ele. Morto, ele o foi uma vez por todas pelo pecado; porém, está vivo, continua vivo para Deus! Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Romanos 6,1-11).

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

6.º Domingo Comum

Sexto Domingo do Tempo Comum

Jeremias 17,5-8 – Salmo 1 – 1Coríntios 15,12.16-20 – Lucas 6,17.20-26

A Oração antes das Leituras já dá uma pista de interpretação das leituras: “Ó Deus, nosso Pai, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, daí-nos, por vossa graça, viver de tal modo que possais habitar em nós”.

A Leitura de Jeremias precisa ser matizada. Não há sociedade sem confiança mútua entre as pessoas. O que Jeremias quer é dizer que a confiança total da nossa vida não pode repousar em pessoa nenhuma, mas só em Deus. O filho precisa confiar no pai. O empregado precisa confiar no patrão. Acontece que a confiança mais profunda deve ser dada a Deus, o Senhor. As pessoas podem nos trair, como Jesus confiou em Judas chamando-o para ser até apóstolo e ele depois o traiu. É a cruz de cada um. Nem sempre a confiança depositada nas pessoas é correspondida. Isto tem a ver com o Evangelho de hoje. É uma interpretação que corresponde ao Evangelho de hoje.

A Leitura da Primeira Carta aos Coríntios quer rejeitar os que não acreditam na ressurreição da pessoa humana. E conclui: se Jesus Cristo não ressuscitou vã é a nossa fé e a nossa esperança. “Mas na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Coríntios 15,20). Como primícias dos que morreram significa que depois d’Ele muitos outros ressuscitarão, no fim dos tempos.

O Evangelho de Lucas coloca como desgraçados todos os que têm motivos para rir, os ricos, os que tem fartura, os que riem, e os que são elogiados, e chama bem-aventurados os sofredores, os pobres, os famintos, os que choram, os odiados e os perseguidos. Por que esta contradição? Porque as pessoas que podem contar com as criaturas geralmente se deleitam nelas e esquecem de Deus. Os pobres, os famintos, os que choram, os odiados e os perseguidos não podem contar com ninguém, só com Deus e aí caem na Verdade. Toda a Verdade das Sagradas Escrituras querem nos transmitir apenas isto: a pessoa humana é profundamente dependente de Deus. Após o pecado original quis se apoiar nas criaturas, mas nem por isto deixa de depender totalmente de Deus, que deu esta vida mortal e é o único que pode dar vida imortal. Por esta razão, Jesus Cristo mostrou muito poder durante sua missão curando cegos, mudos, surdos, aleijados, acalmando até o mar e os ventos, multiplicando os pães, transformando água em vinho, expulsando demônios etc. Mas nos salvou quando nada disso fez, e ficou sem ação na Santa Cruz, somente esperando a ação vivificadora do Pai, que ao terceiro dia de sua morte deu-lhe a ressurreição e a glorificação. Por esta razão, o Evangelho tem relações com a Primeira Leitura, o Salmo e a Segunda Leitura também.

5.º Domingo Comum

Quinto Domingo do Tempo Comum

Isaias 6,1-2a.3-8 – Salmo 137 – 1Coríntios 15,1-11 – Lucas 5,1-11

A Leitura de Isaías traz a vocação deste profeta. Traz algumas curiosidades como a razão porque se representam os anjos com asas e a origem do Santo, Santo, Santo, na Missa. Mas o que mais importa é que Isaías tem seu pecado perdoado e logo se apresenta para ser enviado por Deus: “Aqui estou: envia-me” (Isaias 6,8). Nós também somos perdoados em nosso batismo do pecado original e dos pecados atuais, se formos adultos e o batismo nos marca com três características de Jesus Cristo: sacerdote, profeta e rei. Sacerdote porque devemos sempre nos oferecer a Deus; profeta, porque como Isaías de nossa boca deve sair a Palavra de Deus; e rei porque, despegados de tudo e de todos, nenhuma criatura deve impedir nosso caminho para Deus. Aqui se destaca que se fomos perdoados temos de falar da misericórdia de Deus para todos: isso é ser profeta de Jesus Cristo.

No Salmo se diz que “ante o vosso templo vou prostrar-me”. Qual é o templo verdadeiro do Novo Testamento? É o corpo humano. Então a nossa fé é toda voltada para servir à pessoa humana. Por hipótese, se uma pessoa que nunca vai à Missa, cotidianamente se coloca ao serviço dos outros, esquecendo-se de si mesma, essa pessoa é aprovada por Deus, porque parece-se com as pessoas divinas que vêm para servir e não ser servidas. Jesus mesmo prostrou-se diante de seus apóstolos e até de Judas Iscariotes para lavar-lhes os pés. Isto nos leva a falar do dízimo. A doação do dízimo mensal não tem a sua origem no Antigo Testamento, porque ali o Templo era uma casa de pedra. Tem origem nos Atos dos Apóstolos onde se diz: “punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um” (Atos 2,44-45). Hoje, devemos dizer que o dízimo de cada cristão, como naquele tempo é 100% de seus vencimentos. Aliás tudo o que temos pertence a Deus e somos só seus administradores. Não pomos todos os nosso bens aos pés dos Apóstolos, mas vivemos nossa vocação: quando um pai ou mãe de família compra comida ou remédios para os filhos e paga escola para os filhos está fazendo o que Deus quer, segundo a sua vocação matrimonial. Quando paga impostos também. Então, se o templo da Nova Aliança é a pessoa humana, tudo o que se faz para promovê-la é importante. “Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40). Como no Evangelho de hoje, São Pedro se prostra aos pés de Jesus, que é o verdadeiro templo. Por união a Ele, pelo Espírito santo recebido no batismo, também nós somos templos de Deus.

A Leitura da carta aos Coríntios traz hoje uma catequese sobre a ressurreição de Jesus Cristo, referindo-se a uma aparição que não aparece nos Evangelhos: de uma vez só Jesus apareceu a mais de quinhentos irmãos. São Paulo acha-se indigno de ser chamado Apóstolo pois perseguiu a Igreja. Mas corrige e diz: “É pela graça de Deus que eu sou o que sou” (1Coríntios 15,10). Nós também, tudo o que somos é pela graça de Deus que o somos. Não existe “direitos humanos”, tudo é graça divina. Existe, sim, dever humano, que é obedecer a Deus em tudo o que Ele determina. Se obedecemos a Deus, tudo se torna paz para nós. O pecado está em desobedecer a Deus e daí é que vem todas as desordens.

O Evangelho de hoje é um caminho catecumenal. A multidão se aglomera em torno de Jesus para ouvir a Palavra de Deus. E Jesus lhes fala da barca de Simão Pedro, ou seja, pelo Papa, que define a fé. “Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és a Pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16,15-18). São Pedro é a pedra da verdade. Define a verdadeira doutrina da Igreja. Por esta razão, Jesus ensina da barca de São Pedro. A partir da audição da Palavra de Deus vem a obediência. São Pedro era um pescador experimentado. Tinha pescado a noite inteira e nada tinha pescado. Mas “em atenção à palavra de Cristo” (Lucas 5,5) vai de novo ao lago e pesca grande quantidade de peixes. Da obediência à Palavra passa-se à caridade: chamam os pescadores da outra barca para dividirem os peixes. Daí se passa à penitência: diante da maravilha realizada por Jesus, São Pedro reconhece que é um homem pecador e diz a Jesus Cristo para afastar-se dele. Nenhum catecumenato é autêntico se não faz a pessoa se perceber pequena e sem valor diante de Deus, e levar a pessoa a espontaneamente pedir perdão a Ele. Só que no mesmo ato São Pedro se atira aos pés de Jesus, reconhecendo n’Ele uma maravilha de Deus. E Jesus responde: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens” (Lucas 5,10). A partir daí os Apóstolos deixam tudo e seguem a Jesus, que é o têrmo do catecumenato. O que é “deixar tudo”? É saber que todas as coisas são relativas e só a procura de Deus é Absoluta. Toda relação com as criaturas é relativa e pode ser “deixada de lado”, mesmo a relação com pai ou mãe. Só a relação com Deus é Absoluta e nos dá vida eterna, salvando-nos.