sexta-feira, 28 de agosto de 2009

23.º Domingo Comum

23.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Isaias 35,4-7a – Salmo 145 – Tiago 2,1-5 – Marcos 7,31-37
Mais uma vez a oração antes das leituras – oração coleta – nos dá uma orientação para as leituras ao pedir para os que crêem em Jesus Cristo “a verdadeira liberdade e a herança eterna”. Procuraremos nas leituras esse vínculo.
A Leitura do Livro de Isaias é uma palavra de ânimo para os israelitas evitarem o medo e terem esperança. Os milagres de Jesus realizam estas profecias. “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes de água” é uma promessa do Espírito Santo, da água viva que sacia toda sede. “Respondeu-lhe Jesus: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva. A mulher lhe replicou: Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é fundo... donde tens, pois, essa água viva? És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu e também os seus filhos e os seus rebanhos? Respondeu-lhe Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna. A mulher suplicou: Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la!” (Jo 4,10-15). O Espírito Santo é também dom de Jesus Cristo, de sua Paixão. “No último dia, que é o principal dia de festa, estava Jesus de pé e clamava: Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva (Zc 14,8; Is 58,11). Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado (sofrido a Paixão e ressuscitado)” (Jo 7,37-39).
No Evangelho, Jesus Cristo cura um surdo que falava com muita dificuldade. Jesus o cura com o “Efatá”. Na linha de esperança colocada pela Leitura do Profeta Isaias, a cura do surdo é um sinal do dom do Espírito Santo. É a capacidade de ouvir a Palavra de Deus e entendê-la e a capacidade de falar, de transmitir a Palavra de Deus. Isso tudo significa o dom da Sabedoria, maior dom do Espírito Santo, que sacia todo desejo humano. O dom da Sabedoria transmite à pessoa humana a Sabedoria de Deus e livra de todos os medos, dando total liberdade, porque livra também do medo da morte que nos escraviza: “Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele participou, a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio, e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão” (Hb 2,14-15). Assim, libertando da escravidão confere a plena liberdade, pela certeza da vida eterna, a “herança eterna” da oração coleta.
A Leitura da Carta de São Tiago comenta essa liberdade que leva a uma caridade que não faz diferença entre as pessoas, bonitas ou feias, ricas ou pobres. Segundo a Sabedoria de Deus a pessoa é sempre mais importante que seus acidentes. As características particulares não devem fazer-nos julgar as pessoas e diferenciar os direitos delas. Jesus Cristo aproximou-se dos pecadores e comia com eles, o que lhe causou muitas críticas das “pessoas importantes” de sua sociedade israelita. “Os escribas, do partido dos fariseus,. vendo-o comer com as pessoas de má vida e publicamos, diziam aos seus discípulos: Ele come com os publicamos e com gente de má vida? Ouvindo-os, Jesus replicou: Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos; não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2,16-17). Aprendamos de Jesus a não julgar, mas amar a todos sem fazer acepção de pessoas.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

22.º Domingo Comum

22.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Deuteronômio 4,1-2,6-8 – Salmo 14 – Tiago 1,17-18.21b-22.27 – Marcos 7,1-8.14-15.21-23

Também hoje a Oração antes das Leituras, chamada Oração Coleta, ilumina o entendimento das leituras. Diz: “Deus do Universo, fonte de todo o bem, derramai em nossos corações o vosso amor e estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o que é bom e guardar com solicitude o que nos destes”. Na Nova Aliança com Deus, estabelecida no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo, Deus se revela a fonte de todo o bem – “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5c) – e a Lei não é mais o centro da relação entre as pessoas humanas e Deus, mas a ação criadora e misericordiosa de Deus é que é este centro. Por esta razão a oração pede para estreitar os laços que unem a criatura com o Criador e que Ele guarde todos os dons concedidos às criaturas para que nada se perca.
A Leitura do Deuteronômio preza o dom da Lei como participação na Sabedoria de Deus. Na verdade a Lei de Deus é sabedoria divina, e Jesus disse que nem um til ou vírgula seriam retirados da Lei (cf. Mt 5,18). Mas na Nova Aliança ela não é o centro da relação entre a pessoa e Deus, mas este centro é a ação criadora de Deus, que continua criando a pessoa humana até ela atingir a perfeição da comunhão divina com a Santíssima Trindade. Disse Jesus: “O meu Pai trabalha sempre e Eu também trabalho” (Jo 5,17). Deus continua a criar a pessoa até ela atingir a sua perfeição. Este é o sentido da Leitura da Carta de São Tiago. Jesus é a Palavra criadora de Deus que se fez homem igual a nós.
Os judeus porém, acrescentaram à Lei de Deus uma série enorme de costumes que eram como um fardo pesado para quem quisesse cumprir a Lei. “Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo” (Mt 23,4). Por isso Jesus diz que “as doutrinas que (os fariseus) ensinam são preceitos humanos” (Mc 7,7). E os acusa de abandonar o mandamento de Deus para seguir preceitos humanos (Mc 7,8). A partir daí Jesus faz uma inversão. Não são as ações exteriores das pessoas que tornam impura a pessoa humana, mas o que vem do seu interior, do seu coração. Pois é do coração que saem as boas e as más intenções das pessoas.
Isto traz uma liberdade enorme para a pessoa humana. Por exemplo, as seitas, interessadas em angariar dinheiro e não em servir a Deus, resgatam do dízimo como era praticado no Antigo Testamento, com a diferença de que o Templo passa a ser qualquer barracão que os falsos pastores dizem ser uma igreja. Isto é uma prática e preceito humano e abusam de Ml 3,10 afirmando que Deus dará prosperidade a quem der o dízimo. Acaba como se Deus devesse às pessoas o sucesso material: isso é o que significa o “Deus é Fiel” que aparece frequentemente associado às pessoas que freqüentam essas seitas; quer dizer “Deus me dará o que me prometeu”. Só que Deus não prometeu nada. O falso pastor que para angariar dinheiro e enganar prometeu que Deus daria prosperidade a essas pessoas.
Outro aspecto da liberdade que a inversão que Jesus faz diz respeito às imagens. Se não é o exterior, mas o interior que decide, a Igreja cristã pode fazer imagens desde que não sejam ídolos nem objetos de superstição. As imagens não tem nenhum poder em si mesmas. São apenas símbolos que nos recordam a presença e a intercessão dos santos de Deus, nossos irmãos. A idolatria está no coração, quando a pessoa ama mais alguma coisa do que a Deus. Por exemplo, quando alguém cria uma “igreja” para ganhar dinheiro está usando o nome de Deus por amor ao dinheiro e este está servindo de ídolo para a pessoa. “Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). A idolatria está no coração. Não se pode ver de fora. Uma pessoa rezando diante de uma imagem, para um protestante é um idólatra. Pode ser uma pessoa mais piedosa do que o protestante que a acusa. “Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?” (Mt 7,3). A idolatria está no coração e não se pode ver de fora. Por esta razão, a Igreja, conduzida pelo Espírito Santo não viu mal nas imagens, mas fez delas um catecismo para os que não sabem ler. Antigamente só uma parcela muito pequena da população sabia ler. As imagens ensinaram a muita gente a fé cristã. Ainda é atual o que São Paulo escreveu na Carta aos Gálatas: “Mas, por causa dos falsos irmãos, intrusos – que furtivamente se introduziram entre nós para espionar a liberdade de que gozávamos em Cristo Jesus, a fim de nos escravizar” (Gl 2,4). Esses falsos irmãos são hoje os protestantes, que fazem o papel dos judaizantes do tempo de São Paulo, que queriam de novo retirar a liberdade que os cristãos gozavam e que lhes foi dada por Jesus Cristo. “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (Gálatas 5,1).

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

21.º Domingo Comum

21.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Josué 24,1-2a,15-17.18b – Salmo 33 – Efésios 5,21–32 – João 6,60-69

A Oração antes das leituras de hoje já orienta a interpretação da Liturgia da Palavra. Diz “Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo”. Este desejo não pode ser outro do que desejar o próprio Deus. E diz ainda: “para que na instabilidade deste mundo fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias”. Estas só se podem achar em Deus. De modo que o tema principal das leituras de hoje é a opção por Deus ou por ídolos que substituem Deus, mas não dão a vida à pessoa humana, pois não são o seu Criador.
Na Leitura do Livro de Josué, este interroga o povo sobre sua opção. “Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses (ídolos) a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia, ou aos deuses (ídolos) dos amorreus, em cuja terra habitais” (Js 5,15). E Josué faz sua própria opção: “Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (ibid.). E o povo faz também sua opção: “Nós também serviremos ao Senhor, porque Ele é o nosso Deus” (Js 5,18b). Agora a pergunta que se impõe é: o que significa “servir ao Senhor”? No Evangelho Jesus começa a dar a resposta. Diz: “O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida” (Jo 6,63). E continua: “Mas, entre vós há alguns que não crêem” (Jo 6,64). E diante do abandono de muitos dos antigos discípulos, vem a resposta de Simão Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus” (Jo 6,68-69).
De modo que fica claro o que é “servir ao Senhor”: em primeiro lugar acreditar n’Ele, mesmo que sua Palavra se nos pareça incrível. Isto é amá-Lo com o entendimento. Perguntaram os fariseus a Jesus: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? Jesus respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt 22,36-37). A fé é a aceitação, pela razão humana do que Deus lhe revela. Em segundo lugar, querer encontrar-se com Ele eternamente, isto é, viver a vida eterna. Isto é amá-Lo com todo o coração. No Evangelho, o coração humano é a sede dos desejos da pessoa humana. “Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6,20-21). Se o nosso coração deseja os bens materiais esse é o nosso tesouro, que não dá vida eterna. Se o nosso coração está no amor de Deus esse é também o nosso tesouro. “O homem de bem tira boas coisas de seu bom tesouro. O mau, porém, tira coisas más de seu mau tesouro” (Mt 12,35). Cada um dá conforme os tesouros que guarda no coração. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!” (Mt 5,8). Os que desejam, de fato, Deus, O verão. Pureza de coração é desejar Deus mais do que qualquer outra coisa e organizar todos os desejos do coração em harmonia com esse desejo de ver Deus. Cremos mesmo em Deus? Desejamos ver Deus mais do que qualquer outro desejo? Isto dá uma conformação nova à nossa vida, pois nem a morte nos tirará o nosso tesouro, que é o próprio Deus, nosso Criador. Claro que isto significa absolutizar somente Deus e ter todas as criaturas como relativas, e dar-lhes valor somente na medida em que nos ajudam a realizar o nosso objetivo principal que é ver Deus.
A Leitura da carta aos Efésios de hoje tem um significado diferente. Para entendê-la precisamos de uma ajuda da Primeira Carta aos Coríntios. “Mas quero que saibais que a cabeça de todo homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem, a cabeça de Cristo é Deus” (1Cor 11,3). Cabeça aqui não é em primeiro lugar sinal de superioridade, mas significa a fonte dos frutos de vida que cada um dá. “A cabeça de toda pessoa humana é Cristo” significa que a graça de Deus que dá vida à pessoa humana passa por Cristo. “A cabeça de Cristo é Deus” significa que a carne de Jesus Cristo é ungida pelo Espírito Santo, que procede do Pai, no rio Jordão, para realizar a obra da nossa redenção. O pai é a fonte dos frutos de Jesus Cristo. “A cabeça da mulher é o homem” significa que se o fruto da mulher são os filhos é o homem que a fecunda. A mulher e o homem formam uma unidade de vida e de carne. “Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. ‘Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem’. Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gn 2,21-24). Por isso o marido deve amar à sua mulher como ao seu próprio corpo. “Aquele que ama sua mulher ama-se a si mesmo” (Ef 5,28). Também a Igreja surge do lado de Jesus Cristo morto (dormindo) como Eva surgiu do lado de Adão: “Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais” (Jo 19,33-35). O sangue e a água que saíram do lado de Jesus significam a Eucaristia e o Batismo, que tornam cada pessoa membro da Igreja. Assim a união do marido e da mulher cristãos é sacramento do amor de Jesus Cristo pela sua Igreja. Cada pessoa pertencente à Igreja é esposa de Jesus Cristo – num esponsal que transcende a questão sexual – e a outra pessoa, o cônjuge, lhe é dado como sinal do Esposo eterno da pessoa humana. Por isso se diz nos casamentos “até que a morte os separe”. Isto significa que na eternidade só Jesus será o esposo de toda pessoa humana e uma pessoa não será mais, na eternidade, esposo de outra pessoa humana.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Assunção de Nossa Senhora

Assunção de Nossa Senhora

Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab – Salmo 44
Primeira Carta aos Coríntios 15,20-27a – Lucas 1,39-56

Maria, a mãe de Deus é a Arca da Aliança do Novo Testamento, pois a Aliança Nova e Eterna é o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, seu Filho. Ao aparecer a Arca da Aliança e logo em seguida o “grande sinal” da Mulher vestida de Sol, temos uma indicação joanina dessa verdade. O Evangelho de hoje tem profundas relações com o Segundo Livro de Samuel, capítulo 6,1-12.
“Davi reuniu de novo todo o escol de Israel, ou seja trinta mil homens, e pôs-se a caminho com toda a sua gente, indo a Baalé de Judá, para trazer dali a arca de Deus, sobre a qual é invocado o nome, o nome do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os querubins. Colocaram a arca de Deus num carro novo, e levaram-na da casa de Abinadab, situada na colina. Oza e Aquio, filhos de Abinadab conduziram o carro novo. (Oza ia) junto da arca de Deus e Aquio marchava diante dela. Davi e toda a casa de Israel dançavam com todo o entusiasmo diante do Senhor, e cantavam acompanhados de harpas e de cítaras, de tamborins, de sistros e de címbalos. Quando chegaram à eira de Nacon, Oza estendeu a mão para a arca do Senhor e susteve-a, porque os bois tinham escorregado. Então a cólera do Senhor se inflamou contra Oza; feriu-o Deus por causa de sua imprudência, e Oza morreu ali mesmo, perto da arca de Deus. Davi contristou-se por ter Deus feito essa brecha, ferindo Oza, e por isso chamou àquele lugar Feres-Oza, nome que traz ainda hoje. Naquele dia, Davi teve medo do Senhor, e disse: Como entrará a arca do Senhor em minha casa? E não quis deixá-la entrar em sua casa, na cidade de Davi; mandou levá-la para a casa de Obed-Edom de Get. Ficou a arca do Senhor três meses na casa de Obed-Edom de Get, e o Senhor abençoou-o com toda a sua família. Foi anunciado ao rei que o Senhor abençoava a casa de Obed-Edom e todos os seus bens por causa da arca de Deus. Foi então Davi e fê-la transportar da casa de Obed-Edom para a cidade de Davi, no meio de grandes regozijos” (2Sm 6,1-12).
Vejamos os pontos de contato:
a) Oza morre porque ousou tocar a Arca da Aliança; isso é um sinal da virgindade perpétua de Maria, que não podia ser tocada por José, ela a Arca da Nova Aliança, muito superior à antiga Aliança.
b) Davi dança diante da Arca com todo o entusiasmo. O Cântico de Maria, o famoso Magnificat é um paralelo dessa dança, e mostra todo o entusiamo da Mãe de Deus pela salvação oferecida aos pobres, aos que não colocam sua confiança em seus próprios poderes, mas se colocam na dependência de Deus.
c) Davi diz: “Como entrará a arca do Senhor em minha casa?” (2Sm 6,9). Isabel diz: “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43). Ambos se consideram indignos de receber a Arca da Aliança de Deus.
d) Maria se define como a “Serva do Senhor” (Lc 1,38), que em hebraico é “Obed-Adon”. A Arca da Antiga Aliança fica na casa de Obed-Edom, num pequeno trocadilho que lembra o paralelo entre as duas passagens.
e) A Arca da Antiga Aliança fica três meses na casa de Obed-Edom. Maria fica também três meses na casa de Isabel.
A Mulher que aparece na Leitura do Apocalipse só pode ser Maria Santíssima, a Mãe de Jesus. Diz-se: “E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro” (Lc 1,5). Essa expressão, em todo o Antigo Testamento só aparece no Salmo 2,9, identificado com o Filho que Deus gera (Salmo 2,7-8). “Vou publicar o decreto do Senhor. Disse-me o Senhor: Tu és meu filho, eu hoje te gerei. Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo. Tu as governarás com cetro de ferro, tu as pulverizarás como um vaso de argila” (Sl 2,7-9). O cetro de ferro em oposição ao vaso de argila mostra o poder do Messias e a fraqueza de seus adversários. Esta expressão “cetro de ferro” só volta a aprecer na Bíblia no Livro do Apocalipse, em três passagens:
“Ele as regerá com cetro de ferro, como se quebra um vaso de argila,” (Ap 2,27).
“Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono” (Ap 12,5).
“De sua boca sai uma espada afiada, para com ela ferir as nações pagãs, porque ele deve governá-las com cetro de ferro e pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus Dominador” (Ap 19,15).
Em todas as três passagens, refere-se ao poder do Messias, do Filho de Deus e de Maria.
Entre Maria e Deus não há a menor separação. Ela é a “cheia de graça” (Lc 1,28). Isto é, Maria não se apossa de nada que Deus lhe deu, tudo, absolutamente tudo que há em Maria continua sendo posse absoluta de Deus, e ela não lhe impõe a menor resistência. Por isso ela é também a Imaculada Conceição, pois não tem marca do pecado original, pretensões de poder humano nem se apóia em criatura alguma, mas somente em Deus. Por isso ela é a pobre e humilde, dependente de Deus que é elevada por Deus. A Assunção de Maria Santíssima é a realização do que ela mesma cantou em seu Cântico na casa de Isabel. O Senhor eleva os humildes. E a elevou logo em corpo e alma à glória celeste, ela, que não tinha a menor marca de pecado. A Assunção de Maria antecipa o que está afirmado na Leitura da Primeira Carta aos Coríntios. Lá se diz: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: em primeiro lugar Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião de sua vinda” (1Cor 15,22-23). Se, como os protestantes, não crêssemos no ministério petrino, que é confirmar os irmãos na fé, teríamos somente a Bíblia e não creríamos na Assunção de Maria Santíssima, como eles não crêem. Disse Jesus Cristo: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos” (Lc 22,31-32). Maria venceu a morte e isso é para nós, seus filhos, causa de grande alegria! Ela está, em corpo e alma, na plena comunhão de vida com seu Filho no Céu. Jesus vive para sempre em Maria e Maria vive para sempre em Jesus.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

19.º Domingo Comum

19.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Primeiro Livro dos Reis 19,4-8 – Salmo 33 – Efésios 4,30–5,2 – João 6,41-51

Na Leitura do Primeiro Livro dos Reis encontramos Elias desanimado e pedindo a morte. Mas Deus tem outros planos para Elias. Ele deve dar testemunho de Javé. E Deus o conduz ao Horeb, o mesmo que o Sinai, o monte onde foi celebrada a Aliança por meio de Moisés.
No Evangelho, os contemporâneos de Jesus não compreendem que, se conhecem os pais de Jesus - Ele era tido como filho natural de José - como diz Jesus que desceu do Céu. Não podiam ainda entender, como nós, a Encarnação da Palavra de Deus, do Verbo Divino, do Lógos.
O centro da Palavra deste domingo é “Ninguém pode vir a Mim se o Pai que me enviou não o atrai” (Jo 6,44). Isto está diretamente ligado ao Primeiro Mandamento da Lei de Deus, que diz que Deus deve ser amado com todas as potências da alma do homem. “Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5)” (Mt 22,36-37). Isto é, nenhum ídolo, nenhuma criatura poderá ser mais amada do que Deus, nosso Criador. Se o nosso coração está voltado para as criaturas e elas tomam no nosso coração o primeiro lugar, que é devido só a Deus, não seremos capazes de perceber em Jesus Cristo o Enviado pelo Pai. E não “iremos a Ele” (Jo 6,44) ou seja, não daremos nossa vida como Ele deu a Sua. Não perceberemos a essência do Evangelho, que é tornarmo-nos semelhantes a Deus por um amor que é o dom total de nós mesmos. Somos imitadores de Deus (Ef 5,1). E Jesus não viverá em nós. Não será Ele o nosso alimento e a razão de toda nossa esperança. Alimentar-se de Jesus não é só receber a hóstia consagrada, mas viver d’Ele, esperar n’Ele e descansar o nosso espírito n’Ele, e como Ele, dando a nossa vida “em oblação e sacrifício de suave odor” (Ef 5,2).
Por esta razão também, São Paulo, no trecho da Carta aos Efésios lido hoje, nos diz para não contristarmos o Espírito de Deus, com o qual fomos marcados como com um selo para o dia da libertação. Contristar o Espírito de Deus é não recebê-lO, é não se tornar semelhante a Jesus Cristo, com o qual Ele nos une em um só corpo. O amor de Deus, a dependência do nosso ser só a Deus, e a libertação da dependência às criaturas é que nos liberta. As criaturas nos escravizam porque passam e o medo de perdê-las nos atemoriza. Todas as criaturas passam. Mas Deus não passa. A dependência de Deus tira até o nosso temor da morte, pois sabemos que Ele nos dá vida eterna. Por isso, São Paulo nos convida a abandonar “toda amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, e toda maldade” (Ef 4,31) que são manifestações contrárias à Paz de Jesus Cristo e sinais de que se ama mais às criaturas do que a Deus. Se amarmos mesmo mais a Deus do que a todas essas coisas somos atraídos por Deus e escutamos o Pai e vamos a Jesus e temos a sua Paz. Essas atitudes serão banidas do nosso comportamento naturalmente. E viveremos no amor à semelhança de Jesus Cristo, dando a nossa vida pelos nossos irmãos (cf. Ef 5,2).
Na leitura do Primeiro Livro dos Reis, a figura de Elias nos anima, pois sabemos que Elias é um dos maiores profetas do Antigo Testamento e teve, também ele, momentos de fraqueza e desânimo. Deus, porém, o conduz, pois Elias se deixa atrair por Deus, que era a razão de sua vida. Elias se alimentou do Deus verdadeiro. Se às vezes desanimamos diante das cruzes de nossa existência, como Elias, nunca Deus deixe de atrair-nos a Si. Nunca amemos mais as criaturas do que a Deus. E ouçamos o seu anjo a nos dizer: “Levanta-te e come! Ainda tens um longo caminho a percorrer” (1Rs 19,7).
Seja a Verdade Eterna – Jesus Cristo é a Verdade – a alimentar de sentido e razões a nossa vida e a nossa morte. Só assim as nossas comunhões eucarísticas serão verdadeiras. Jesus Cristo é a Vida da nossa vida! Só Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida! (Jo 14,6).

18.º Domingo Comum

18.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Êxodo 16,2-4.12-15 – Salmo 77 – Efésios 4,17.20-24 – João 6,24-35

Na Leitura do Livro do Êxodo temos um exemplo do povo de Israel que não sabe o que quer. Quando estava no Egito clamava a Deus por libertação da escravidão. Deus ouviu o clamor do seu povo e o libertou. “O Senhor disse (a Moisés): ‘Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus’” (Ex 3,7-8). Agora, porém, atravessando o deserto rumo à terra fértil não aceita os sacrifícios da caminhada e deseja voltar para a escravidão e exagera como se quando eram escravos teriam comida em abundância, “panelas de carne e comíamos pão com fartura” (Ex 16,3). Quando temos um sofrimento e recordamos uma situação em que aquele sofrimento não era tão agudo costumamos exagerar como se tudo fosse ótimo na situação anterior. Deus, que cuida do seu povo, proporciona a eles as codornizes (carne) e o maná (o pão; em hebraico, maná significa ‘Que é isto?’).
No Evangelho, Jesus nega que o maná é o verdadeiro pão do Céu. A pessoa humana foi criada à imagem de Deus, que é Espírito, é espiritual também e o Pão descido do Céu, que o Pai dá é um pão espiritual. O maná era apenas um alimento corporal. Jesus diz que é Ele mesmo o Pão do Céu que o Pai Eterno nos dá (cf. Jo 6,35).
Jesus diz ao povo que O procurava não por causa de sinais do Céu, mas porque comeram o pão do corpo e ficaram saciados, que procurem o pão que permanece para a vida eterna (cf. Jo 6,27). E promete dar esse pão que permanece para a vida eterna, porque o Pai o marcou com o seu selo. O selo do Pai é o Espírito Santo, que realiza a nossa unidade com Deus pela união de vida com Jesus Cristo. Perguntam o que devem fazer para realizar as obras de Deus. Jesus responde que a obra de Deus é que creiam nAquele que Deus enviou, que é o próprio Jesus. Crer em Jesus é não somente admitir que Ele é o Filho de Deus e da Virgem Maria, que Ele padeceu e morreu na Cruz e depois, ao terceiro dia, ressuscitou e subiu ao Céu onde está à direita do Pai e de onde virá a julgar os vivos e os mortos. Crer em Jesus é acreditar que um motivo para viver, é também um motivo para morrer. Isto é que dá sentido às nossas vidas. É o alimento espiritual que Ele nos dá. Um grande amor pelo qual vale a pena dar a vida. Perguntemo-nos a nós mesmos: temos um grande amor divino pelo qual queiramos morrer como Jesus morreu consumido de amor pelo Pai e por nós? A nossa vida já tem um sentido cristão? Um cristão não vive porque um dia nasceu e os dias foram se sucedendo... Um cristão vive na esperança de um grande encontro com o seu Criador Divino, que se dá numa morte por amor, numa vida que recebida de graça é dada também de graça (cf. Mt 10,8c). Jesus dá um sentido à nossa vida porque dá um sentido para a nossa morte. Faz da morte uma doação total de si mesmo, que nos diviniza, porque significa a doação total de nós mesmos, por amor, e Deus é Amor (1Jo 4,8.16).
Portanto, na Carta aos Efésios, São Paulo exorta a que não continuemos a viver como os pagãos, “cuja inteligência os leva para o nada”. Os pagãos vivem na carne e para a carne. O cristão nasceu do Espírito. “Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele. Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,1-8).
O pagão vive para a carne e se preocupa com o bem estar da carne, do corpo. Não tem um motivo para dar sua vida, não vive do Espírito e não tem esperança de vida eterna na comunhão divina, não crê na divinização da natureza humana.