sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dia de Finados

Finados

Sabedoria 3,1-6.9 – Salmo 41 – Romanos 8,14-23 – João 11,21-27

O Dia de Finados está diretamente relacionado à Festa de Todos os Santos. Rezamos e oferecemos sacrifícios para que os nossos falecidos participem da assembléia dos Santos no Céu.

A leitura do Livro da Sabedoria afirma a fé. A morte aparece para os que vivem neste mundo como uma grande desgraça, mas nós sabemos, pela fé cristã, que após a morte começa a nossa verdadeira vida, à imagem e semelhança de Deus. Lembra ainda que “por um breve sofrimento receberão grandes bens. (...) os aceitou como holocausto” (Sabedoria 3,5.6). Isto nos lembra que é pelo caminho da Cruz que se alcança a vida eterna no Céu. Lembra ainda que “os que põem sua confiança no Senhor (...) são dignos de graça e misericórdia” (Sabedoria 3,9). Isto significa que é pela penitência que alcançamos a misericórdia divina. E penitência é arrependimento e propósito de luta contra o pecado.

O Salmo é um canto de plena confiança em Deus que não quer a morte do pecador mas que tenha vida eterna. É uma confissão de desejo de Deus, amado acima de todas as outras realidades. A vida eterna, de fato, é a posse de Deus, para aqueles que desejaram essa posse na terra.

A leitura da Carta aos Romanos lembra a filiação divina que recebemos por meio de Jesus Cristo e o desejo de unir-nos a Deus superando as fraquezas da carne, deste corpo mortal que serve de morada para a nossa alma. Ser-nos-á restaurado como um corpo imperecível a exemplo de Jesus Ressuscitado.

O Evangelho de João é uma parte da narração da ressurreição de Lázaro. Essa ressurreição foi uma mostra do poder de Jesus Cristo sobre a morte, mas Lázaro foi ressuscitado para a vida mortal e depois morreu novamente. Para Marta, a ressurreição que haveria no último dia se apresentava muito longínqua e incapaz de consola-la pela morte de seu irmão. Então Jesus Cristo lhe diz: “Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá jamais. Crês isto?” (João 11,26). Então Jesus Cristo traz a Ressurreição mais para perto de nós, pela sua proximidade de nós. A ponto de São Paulo dizer: “Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado no meu corpo (tenho toda a certeza disto), quer pela minha vida quer pela minha morte. Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Filipenses 1,20-21). Tenhamos, pois, toda confiança em Deus que nos dará a vida eterna, se formos fiéis ao Evangelho de Seu Filho.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Todos os Santos

31.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Apocalipse 7,2-4.9-14 – Salmo 23 – Primeira Carta de São João 3,1-3 – Mateus 5,1-12ª

Todos os Santos

A Festa de Todos os Santos inaugura o mês de novembro. É o último mês do Tempo Comum. Neste mês a Igreja reflete sobre as realidades futuras, que se chamam Novíssimos do Homem. Medita sobre o destino de todas as pessoas que deve ser o Céu ou o Inferno. A Festa de Todos os Santos não é a festa dos santos já canonizados, mas a de todos quantos estão ou estarão no Céu, vivendo a vida em comunhão com a Santíssima Trindade. Nesta festa a Igreja se vê antecipadamente participando da glória de Deus. Por isso, a leitura do Apocalipse nos faz contemplar “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do Trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas (vestes nupciais) e traziam palmas nas mãos (simbolizando a Cruz que portaram na terra)” (Apocalipse 7,9). “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas roupas no Sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7,14). O Salmo os saúda: “É assim a geração dos que procuram o Senhor” (Salmo 23,6).

A Leitura da Carta de São João nos dá o título de filhos de Deus. Na verdade Deus só tem um Filho, que é Jesus Cristo, a Palavra ou a Sabedoria Encarnada. Nós somos chamados filhos de Deus por causa da nossa união ao Filho Unigênito de Deus, pelo Espírito Santo. Por esta razão esta Leitura diz: “Sabemos que, quando Jesus se manifestar seremos semelhantes a Ele porque o veremos como Ele é” (Primeira Carta de São João 3,2). Na Eternidade não há separação entre Jesus e os que Ele uniu a Ele. Não se deve dizer: “depois de Deus, eu amo mais a Virgem Maria”, pois esta já está plenamente na comunhão com Deus. Não há mais separação. Quando dizemos “Virgem Maria, rogai por nós” estamos dizendo “Jesus, que vives em Maria, intercedei por nós!”. “Eis por que Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus” (Hb 9,24). “Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2,1). Jesus é o Intercessor. Cada um de nós só pode interceder pelos irmãos – e mesmo os santos – pela comunhão com Jesus Cristo.

Finalmente temos o Evangelho. Traz as bem-aventuranças como estão no Evangelho de São Mateus. Os pobres em espírito são os que se sentem pobres, mesmo tendo muitas graças e coisas, porque anseiam acima de tudo possuir Deus e não O possuindo ainda nesta terra, sentem-se pobres. Deles é o Reino de Deus porque amam a Deus acima de tudo. Os aflitos são os que desejam Deus e passam por tribulações nesta vida, participando da Cruz do Senhor, sendo cordeiros de Deus com Ele. Serão consolados porque Deus se revelará a eles e o seu sacrifício não será em vão. Os mansos são os que não conquistam as coisas por sua própria força, mas tudo recebem por graça de Deus, como a Terra Prometida foi dada a Israel por Deus e não pela valentia dos israelitas. “João replicou: Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu” (João 3,27). Possuirão a terra porque Deus dará a Terra Nova aos que vivem da sua graça e não pela sua própria força. Os que tem fome e sede de justiça são os que desejam que o nome de Deus seja santificado e glorificado, como rezamos no Pai-Nosso e no Magnificat de Nossa Senhora. Esta é a justiça do Evangelhos: ser justos para com Deus e dar a primazia em tudo a Ele. Tudo o que recebemos de Deus não é para nós para ser distribuído com os próximos. Assim a misericórdia que recebemos de Deus nos deve fazer misericordiosos com os nossos próximos, e se assim formos o Senhor sempre terá misericórdia de nós. Os que promovem a paz são os que renunciam a si mesmos para amar até os inimigos, como Jesus diz no mesmo Sermão: “Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,44-48). O filho é aquele que se parece com o Pai e faz as obras do Pai. Os que são perseguidos por causa da justiça são os que são perseguidos por causa da pregação do Evangelho que nos faz ser justos para com Deus. Estes participam diretamente da Cruz do Senhor Jesus. São muitos mártires, “que alvejaram suas vestes no Sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7,14). Estes são também os injuriados e perseguidos por causa do Evangelho. Terão a participação nos bens do Senhor Jesus, em sua Ressurreição. A alegria na dor é o grande paradoxo do cristão, pela esperança que o anima. “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus” (Mateus 5,12a).

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

30.º Domingo Comum

30.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Jeremias 31,7-9 – Salmo 125 – Hebreus 5,1-6 – Marcos 10,46-52

A Prece antes das Leituras muitas vezes orienta o sentido que se deve tirar das Leituras. No dia de hoje diz: “Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e daí-npos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis”. A fé é aceitar que Deus é veraz em suas revelações. Não duvidar delas. Adão e Eva, no Paraíso, aceitaram a palavra do demônio dizendo que Deus era mentiroso e comeram do fruto da árvore do bem e do mal que Deus havia proibido a eles de comer sob pena de morte. Não acreditaram em Deus para acreditar no demônio. Isto foi o começo do seu pecado. A esperança é a certeza de que o amor de Deus prevalecerá sobre os que Deus ama. Que os sofrimentos deste mundo terão um término e virá depois a vida bem-aventurada. A caridade é a situação final da pessoa humana em relação a Deus. Quando não houver mais necessidade de fé, porque o que foi revelado será manifestado, não houver mais necessidade de esperança porque o que se esperou já foi recebido, permanecerá a caridade, o amor eterno entre Deus e sua criatura. “A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade” (Primeira Carta aos Coríntios 13,8-13). A fé, a esperança e a caridade levam a obedecer a Deus na “porta estreita” desta vida para alcançar a vida bem-aventurada, que Deus promete aos fiéis.
Desta forma o tema central das leituras de hoje pode ser a diferença entre a miséria das pessoas nesta vida mortal e a esperança da vida bem-aventurada, sem misérias. “Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Filipenses 3,10-14). Como se pode perceber, para São Paulo, o conhecimento de Jesus Cristo é uma experiência da paz no sofrimento totalmente baseada na esperança. É a experiência do Reino de Deus que se manifesta na parábola da semente: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24).
Na Leitura do Livro de Jeremias a “primeira das nações” revela toda a sua miséria: cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes (mulheres que sofrem dor). E Deus promete um alívio para essas misérias, no retorno a Jerusalém terrestre, pois se faz um pai para Israel. O Salmo antecipa a alegria das maravilhas que o Senhor fará pelos seus fiéis com seu canto.
A Leitura da Carta aos Hebreus mostra que todos os bens, até o sacerdócio de Jesus Cristo é graça do Pai e tudo que a pessoa humana tem é recebido por graça divina.
O Evangelho finalmente mostra que a determinação do sofredor na fé em Jesus Cristo o leva ao alívio de suas dores. Nessa determinação o cego chega a dar um pulo, o que é raro ver um cego fazer. Este pulo simboliza o ato de fé que é um pulo no desconhecido pela pessoa humana e um ato de confiança em Deus. Jesus lhe diz: “Vai, a tua fé te curou” (Mc 10,52). O ato de fé é um ato de total confiança em Deus que Se revela. O ato de fé é um ato que atesta que Deus é verdadeiro e que empenha toda a vida daquele que tem fé. Tudo o que faz é confiado na Revelação que Deus lhe fez.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

29.º Domingo Comum

29.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Isaias 53,10-11 – Salmo 32 – Hebreus 4,14-16 – Marcos 10,35-45

Neste Dia Mundial das Missões, a Palavra de Deus atinge em cheio o coração do Evangelho. Não são os grandes dominadores que são recordados pelas gerações posteriores, mas sim, os que serviram com grande perseverança. Quem é maior aos olhos dos homens de hoje? César, Napoleão, Gengis Khan, ou Pasteur, Santos Dumont, Albert Schweitzer, Albert Sabin, Madre Teresa de Calcutá? Quem serviu vale mais do que quem dominou. O Evangelho denuncia que a sede de poder e de ser o maior é uma ilusão e não traz para a humanidade nenhum fruto.
Jesus Cristo sofreu por todos nós. Se repararmos bem não há nenhum bem que não venha com muito sofrimento, muito sacrifício. O poder muitas vezes destrói mais do que constrói. O serviço ao próximo constrói e salva. A Carta aos Hebreus fala do Sumo-Sacerdote que é Jesus Cristo. Foi Ele o que mais serviu à humanidade, pois não só curou doenças dos mortais, mas deu-nos uma vida eterna, a nós que, pelos nossos pecados não merecíamos.
No Evangelho de hoje, Tiago e João, levados pelo pecado, querem ser mais que os outros apóstolos. Quando os outros apóstolos souberam revoltaram-se também. No fundo todos queriam ser os maiores. E quando a gente quer os primeiros lugares, não suportamos os outros que também querem. Jesus, sabendo que os apóstolos tinham outra vocação diz-lhes: “Vós não sabeis o que pedis”. E entra na questão do batismo e do cálice que o Senhor vai beber. Ora esse batismo e esse cálice são a Paixão e a participação nos sofrimentos de Jesus Cristo, do qual eles vão participar. Tiago será o primeiro apóstolo a ser martirizado (cf. Atos 12,2). E Jesus chama os seus a serem realmente construtores, renunciando ao poder – no Reino de Deus é só Deus que tem o poder. Na Missa o povo católico exclama: “Vosso é o Reino, o Poder e a Glória!”. O poder não deve ser desejado pelos cristãos. O serviço, sim. Pois é o serviço que salva e constrói as vidas e não o poder, a não ser que esse poder esteja só nas mãos de Deus e dos que O temem. Jesus mesmo não veio para ser servido, mas para servir ao ponto de dar sua vida para o resgate de muitos. Os que O seguem também devem dar sua vida para a salvação de muitos. Seguir Jesus é renunciar a si mesmo e dar sua vida para que outros tenham vida (cf. Mateus 16,24; João 10,10).

Nossa Senhora Aparecida

Nossa senhora Aparecida – 12 de outubro – 2009

Ester 5,1b-2;7,2b-3 – Salmo 4 – Apocalipse 12,1.5.13a.15.16a – João 2,1-11

A Oração antes das Leituras diz: “Ó Deus todo-poderoso, ao rendermos culto à Imaculada Conceição de Maria...”. Isto significa que a festa de Nossa Senhora Aparecida é, na verdade, uma antecipação da Imaculada Conceição, pois a imagem achada no Rio Paraíba era de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Deste modo, podemos dizer que Maria é Imaculada não apenas por que seria a Mãe de Jesus, mas também em função da nossa salvação, para termos no Corpo de Cristo, que é a Igreja, um membro que jamais foi derrotado pelo poder de satanás. É na devoção a Maria Imaculada que adquirimos também uma capacidade maior de vitória contra o inimigo de nossas almas. Há um combate entre Deus e os anjos rebelados contra Ele e o campo dessa batalha é o coração de cada pessoa humana. Nesse combate Maria é um poderoso auxílio para a vitória de Deus. Não há vitória, porém, sem riscos. O preço da vitória é a Cruz de Jesus Cristo, partilhada por cada cristão. Vemos isso tanto na Primeira como na Segunda Leituras.

Na Primeira Leitura, Ester é alçada à condição de Rainha da Pérsia, no tempo do Rei Assuero. Acontece, porém, por indústria do ministro Amã, um genocídio contra o povo judeu na Pérsia. O Rei Assuero se casara com Ester sem prestar muita atenção na sua origem. O tio de Ester, Mardoqueu, recorre então a Ester para ver se salva o povo judeu. Esta, depois de muitas orações a Deus, se declara judia diante do Rei Assuero e pede a libertação de seu povo. O Rei poderia ter duas alernativas: atender Ester, ou manter o genocídio e nesse caso repudiar Ester, que seria morta com seu povo. Ester se arrisca. E o Rei a atende. O decreto contra os judeus é anulado e o Rei passa a perseguir o ministro Amã, que é enforcado. Essa história pretende mostrar a intercessão de Maria a favor do povo condenado por satanás à perdição eterna. A única sem pecado está a favor dos pecadores, pela sua salvação.

Na Segunda Leitura, aparece uma Mulher vestida de sol. É uma imagem presente nos Evangelhos, seja na Transfiguração de Jesus, como em suas palavras: “Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol. Aquele que tem ouvidos, ouça” (Mt 13,43). A Mulher tem a lua debaixo dos pés. Isso significa que a Mulher superou o tempo e entrou na eternidade. A lua era um modo de medir o tempo, na Antiguidade. Ela tem também, na cabeça, uma coroa de Doze Estrelas. Essas Doze Estrelas simbolizam seja as doze tribos de Israel, seja os Doze Apóstolos, isto é, a Igreja inteira. A coroa de Maria não é de ouro nem de prata, mas é formada pela Igreja salva com a sua ajuda do poder do pecado e de satanás. Cada um dos filhos de Maria participa de sua coroa. Como podemos ter a certeza de que esta Mulher é Maria? Pela expressão “cetro de ferro”. Esta expressão só ocorre no Salmo 2, uma vez e três vezes no Apocalipse. No Salmo 2:

1. Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações?

2. Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo.

3. Quebremos seu jugo, disseram eles, e sacudamos para longe de nós as suas cadeias!

4. Aquele, porém, que mora nos céus, se ri, o Senhor os reduz ao ridículo.

5. Dirigindo-se a eles em cólera, ele os aterra com o seu furor:

6. Sou eu, diz, quem me sagrei um rei em Sião, minha montanha santa.

7. Vou publicar o decreto do Senhor. Disse-me o Senhor: Tu és meu filho, eu hoje te gerei.

8. Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo.

9. Tu as governarás com cetro de ferro, tu as pulverizarás como um vaso de argila.

10. Agora, ó reis, compreendei isto; instruí-vos, ó juízes da terra.

11. Servi ao Senhor com respeito e exultai em sua presença; prestai-lhe homenagem com tremor, para que não se irrite e não pereçais quando, em breve, se acender sua cólera. Felizes, entretanto, todos os que nele confiam.

Neste Salmo, como se pode ler, é o Filho gerado por Deus que rege as nações com “cetro de ferro”. Nas passagens do Apocalipse também tem o mesmo sentido.

Ele as regerá com cetro de ferro, como se quebra um vaso de argila,” (Ap 2,27).

Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono” (Ap 12,5).

De sua boca sai uma espada afiada, para com ela ferir as nações pagãs, porque ele deve governá-las com cetro de ferro e pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus Dominador” (Ap 19,15).

Então a Mulher só pode ser Maria, a Mãe do Filho de Deus. Após a Ascensão de seu Filho, a Mulher trava um combate contra o Dragão. É a luta da Igreja contra o poder das trevas. A Mulher é socorrida pela terra. O que significa esse socorro da “terra”? A “terra” significa as coisas como Deus as fez e as considerou muito boas (cf. Genesis 1,31). As coisas devem ser consideradas como Deus as fez. A deturpação que a pessoa humana faz, acaba sempre em pecado. Pecado de homossexualismo, de poluição da natureza etc... A Verdade está sempre a favor da salvação da pessoa humana. “Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz” (João 18,37).

No Evangelho temos o casamento de Cana da Galiléia e o primeiro sinal de Jesus. Quem são os noivos desse casamento? Não se sabe. São João se apropria de um casamento para mostrar as núpcias de Deus com a humanidade. Estas núpcias tem dois tempos: o “casamento” entre Deus Pai e Maria “cheia de graça”, pela virtude do Espírito Santo, e a doação do Espírito Santo a todos para todos serem Igreja e se tornarem “esposa de Cristo”. A característica de Maria “cheia de graça” deve ser refletida aqui. Graça é um dom do Criador às suas criaturas, mas que continua sendo do Criador, totalmente sob o Seu Poder. Tudo é graça, o nosso corpo, a nossa vida e as coisas de que nos servimos. Tudo está sempre sob o poder de Deus. O pecado acontece quando a pessoa humana toma “posse” das coisas como suas esquecendo sua origem divina. Só Deus é que cria as coisas. A pessoa humana no máximo as transforma. Maria ser “cheia de graça” significa que de nada ela toma posse, porque nela não há pecado. Tudo nela continua a estar totalmente sob o poder de Deus. Daí a sua total disponibilidade a ponto de dizer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38). Em Maria não há a menor resistência à vontade de Deus. Daí, nessa disponibilidade, Maria se “casar” com Deus, em íntima união e gerar Aquele que é o Filho de Deus e o Filho do Homem. Filho de Deus e de Maria (humana). Com a doação do Espírito Santo em virtude da Paixão de Jesus, há o outro momento, em que com o auxílio de Maria, todo cristão se “casa” com seu Deus em um amor único.

A consagração que fazemos de nós a Nossa Senhora é uma consagração a Deus, pois, como vimos, Ela de nada se apossa e tudo que lhe é oferecido é posse plena de Deus. Por isso, ao dar alguém seu corpo e sua vida toda a Maria está dando-a a Deus. E vivendo aquela Palavra de Jesus Cristo que diz: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mateus 16,24). Ou seja, a devoção a Maria nos faz seguir o Evangelho como verdadeiro discípulo. O que se dá a Maria se dá a Deus e não pode ser retomado. Foi consagrado.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

28.º Domingo Comum

28.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Sabedoria 7,7-11 – Salmo 89 – Hebreus 4,12-13 – Marcos 10,17-30

Como expressa a Leitura do Livro da Sabedoria, o tema da Palavra de Deus de hoje é a busca da Sabedoria. A Sabedoria é o dom do Espírito Santo que abrange todos os outros. Como se diz na Leitura do Livro da Sabedoria ela vale mais do que o ouro e a prata, os cetros e tronos, mais que a saúde e a beleza, e mais que a luz dos olhos. Todos os bens nos vem com a Sabedoria e de todos os bens, o maior de todos, a vida eterna.

A Leitura da Carta aos Hebreus identifica a Sabedoria com a Palavra de Deus. De fato, entender a Palavra de Deus profundamente e vivê-la é um dom do Espírito santo e corresponde à Sabedoria. Claro é que nem todos na Igreja tem esse dom, mas como a Igreja é um Corpo, aqueles a quem é dada a compreensão mais profunda da Palavra de Deus devem ensiná-la aos outros. Nem a todos o Espírito Santo se comunica diretamente, mas quem recebe um dom deve colocá-lo para a vantagem de todo o Corpo da Igreja. Tudo está nu e descoberto aos olhos da Palavra de Deus, ou seja, da Sabedoria. Quem a possui compreende todas as coisas.

No Evangelho, uma pessoa se dirige a Jesus desejando a vida eterna. O caminho para a vida eterna é a Sabedoria. Jesus é a Sabedoria Encarnada, a Palavra de Deus que se encarnou e habitou entre nós (cf. Jo 1,14). Jesus aponta logo o centro da Sabedoria, que é buscar Aquele que só Ele é bom: Deus. Quem bota o seu bem em Deus está no caminho de adquirir a Sabedoria. Pelo pecado original a pessoa humana deixou de colocar o seu bem em Deus e começou a colocá-lo no seu poder sobre as criaturas. A pessoa que interpela Jesus diz que segue os mandamentos, ou seja, não prejudicava a ninguém. Mas será que fazia o bem a alguém? Quando Jesus lhe aponta o caminho da perfeição, que é colocar o bem em Deus só, o interlocutor de Jesus vai embora cheio de tristeza, porque estava cheio de idolatria e tinha seu verdadeiro bem nas riquezas. Pergunta-se: as riquezas eram dele ou ele que era das riquezas? Se ele não consegue dispor do que é seu é porque sua propriedade o domina e não é ele que tem poder sobre sua propriedade, mas sua propriedade tem poder sobre ele. A causa da tristeza é a condenação do pecado original: a pessoa não consegue viver da graça de Deus e tem o seu bem nas criaturas. Daí Jesus dizer que é muito difícil um rico entrar no Reino dos Céus. O rico, geralmente tem o seu coração, não em Deus, mas nas suas riquezas, que não lhe podem dar vida eterna. A Sabedoria que conduz à vida eterna vale mais do que todas as riquezas do mundo e é só ela que pode dar a Paz ao coração do homem diante da morte e das cruzes desta vida. No entanto, diante da infinita misericórdia de Deus, Jesus Cristo afirma que para Deus tudo é possível, inclusive derramar sua graça sobre os ricos, que podem fazer com suas riquezas muito bem, dar comida a quem tem fome, bebida a quem tem sede e remédios a quem está doente, e instrução a quem é ignorante. A própria Igreja, para sua missão, precisa de recursos e muitos ricos ajudam a Igreja em países abastados e essa ajuda vai para países empobrecidos. Para Deus nada é impossível. O mais importante de todos os bens que alguém pode almejar é a Sabedoria que é a prória habitação de Deus no espírito da pessoa humana.