Nossa senhora Aparecida – 12 de outubro – 2009
Ester 5,1b-2;7,2b-3 – Salmo 4 – Apocalipse 12,1.5.13a.15.16a – João 2,1-11
A Oração antes das Leituras diz: “Ó Deus todo-poderoso, ao rendermos culto à Imaculada Conceição de Maria...”. Isto significa que a festa de Nossa Senhora Aparecida é, na verdade, uma antecipação da Imaculada Conceição, pois a imagem achada no Rio Paraíba era de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Deste modo, podemos dizer que Maria é Imaculada não apenas por que seria a Mãe de Jesus, mas também em função da nossa salvação, para termos no Corpo de Cristo, que é a Igreja, um membro que jamais foi derrotado pelo poder de satanás. É na devoção a Maria Imaculada que adquirimos também uma capacidade maior de vitória contra o inimigo de nossas almas. Há um combate entre Deus e os anjos rebelados contra Ele e o campo dessa batalha é o coração de cada pessoa humana. Nesse combate Maria é um poderoso auxílio para a vitória de Deus. Não há vitória, porém, sem riscos. O preço da vitória é a Cruz de Jesus Cristo, partilhada por cada cristão. Vemos isso tanto na Primeira como na Segunda Leituras.
Na Primeira Leitura, Ester é alçada à condição de Rainha da Pérsia, no tempo do Rei Assuero. Acontece, porém, por indústria do ministro Amã, um genocídio contra o povo judeu na Pérsia. O Rei Assuero se casara com Ester sem prestar muita atenção na sua origem. O tio de Ester, Mardoqueu, recorre então a Ester para ver se salva o povo judeu. Esta, depois de muitas orações a Deus, se declara judia diante do Rei Assuero e pede a libertação de seu povo. O Rei poderia ter duas alernativas: atender Ester, ou manter o genocídio e nesse caso repudiar Ester, que seria morta com seu povo. Ester se arrisca. E o Rei a atende. O decreto contra os judeus é anulado e o Rei passa a perseguir o ministro Amã, que é enforcado. Essa história pretende mostrar a intercessão de Maria a favor do povo condenado por satanás à perdição eterna. A única sem pecado está a favor dos pecadores, pela sua salvação.
Na Segunda Leitura, aparece uma Mulher vestida de sol. É uma imagem presente nos Evangelhos, seja na Transfiguração de Jesus, como em suas palavras: “Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol. Aquele que tem ouvidos, ouça” (Mt 13,43). A Mulher tem a lua debaixo dos pés. Isso significa que a Mulher superou o tempo e entrou na eternidade. A lua era um modo de medir o tempo, na Antiguidade. Ela tem também, na cabeça, uma coroa de Doze Estrelas. Essas Doze Estrelas simbolizam seja as doze tribos de Israel, seja os Doze Apóstolos, isto é, a Igreja inteira. A coroa de Maria não é de ouro nem de prata, mas é formada pela Igreja salva com a sua ajuda do poder do pecado e de satanás. Cada um dos filhos de Maria participa de sua coroa. Como podemos ter a certeza de que esta Mulher é Maria? Pela expressão “cetro de ferro”. Esta expressão só ocorre no Salmo 2, uma vez e três vezes no Apocalipse. No Salmo 2:
1. Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações?
2. Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo.
3. Quebremos seu jugo, disseram eles, e sacudamos para longe de nós as suas cadeias!
4. Aquele, porém, que mora nos céus, se ri, o Senhor os reduz ao ridículo.
5. Dirigindo-se a eles em cólera, ele os aterra com o seu furor:
6. Sou eu, diz, quem me sagrei um rei em Sião, minha montanha santa.
7. Vou publicar o decreto do Senhor. Disse-me o Senhor: Tu és meu filho, eu hoje te gerei.
8. Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo.
9. Tu as governarás com cetro de ferro, tu as pulverizarás como um vaso de argila.
10. Agora, ó reis, compreendei isto; instruí-vos, ó juízes da terra.
11. Servi ao Senhor com respeito e exultai em sua presença; prestai-lhe homenagem com tremor, para que não se irrite e não pereçais quando, em breve, se acender sua cólera. Felizes, entretanto, todos os que nele confiam.
Neste Salmo, como se pode ler, é o Filho gerado por Deus que rege as nações com “cetro de ferro”. Nas passagens do Apocalipse também tem o mesmo sentido.
“Ele as regerá com cetro de ferro, como se quebra um vaso de argila,” (Ap 2,27).
“Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono” (Ap 12,5).
“De sua boca sai uma espada afiada, para com ela ferir as nações pagãs, porque ele deve governá-las com cetro de ferro e pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus Dominador” (Ap 19,15).
Então a Mulher só pode ser Maria, a Mãe do Filho de Deus. Após a Ascensão de seu Filho, a Mulher trava um combate contra o Dragão. É a luta da Igreja contra o poder das trevas. A Mulher é socorrida pela terra. O que significa esse socorro da “terra”? A “terra” significa as coisas como Deus as fez e as considerou muito boas (cf. Genesis 1,31). As coisas devem ser consideradas como Deus as fez. A deturpação que a pessoa humana faz, acaba sempre
No Evangelho temos o casamento de Cana da Galiléia e o primeiro sinal de Jesus. Quem são os noivos desse casamento? Não se sabe. São João se apropria de um casamento para mostrar as núpcias de Deus com a humanidade. Estas núpcias tem dois tempos: o “casamento” entre Deus Pai e Maria “cheia de graça”, pela virtude do Espírito Santo, e a doação do Espírito Santo a todos para todos serem Igreja e se tornarem “esposa de Cristo”. A característica de Maria “cheia de graça” deve ser refletida aqui. Graça é um dom do Criador às suas criaturas, mas que continua sendo do Criador, totalmente sob o Seu Poder. Tudo é graça, o nosso corpo, a nossa vida e as coisas de que nos servimos. Tudo está sempre sob o poder de Deus. O pecado acontece quando a pessoa humana toma “posse” das coisas como suas esquecendo sua origem divina. Só Deus é que cria as coisas. A pessoa humana no máximo as transforma. Maria ser “cheia de graça” significa que de nada ela toma posse, porque nela não há pecado. Tudo nela continua a estar totalmente sob o poder de Deus. Daí a sua total disponibilidade a ponto de dizer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38). Em Maria não há a menor resistência à vontade de Deus. Daí, nessa disponibilidade, Maria se “casar” com Deus, em íntima união e gerar Aquele que é o Filho de Deus e o Filho do Homem. Filho de Deus e de Maria (humana). Com a doação do Espírito Santo em virtude da Paixão de Jesus, há o outro momento, em que com o auxílio de Maria, todo cristão se “casa” com seu Deus em um amor único.
A consagração que fazemos de nós a Nossa Senhora é uma consagração a Deus, pois, como vimos, Ela de nada se apossa e tudo que lhe é oferecido é posse plena de Deus. Por isso, ao dar alguém seu corpo e sua vida toda a Maria está dando-a a Deus. E vivendo aquela Palavra de Jesus Cristo que diz: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mateus 16,24). Ou seja, a devoção a Maria nos faz seguir o Evangelho como verdadeiro discípulo. O que se dá a Maria se dá a Deus e não pode ser retomado. Foi consagrado.
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