terça-feira, 26 de maio de 2009

Comunidades SRA

Matriz
Missas: quartas. sextas e primeiro sábado do mês: 7:30h.
terças e quintas: 19:00h.
sábados: 17:30h.
domingos: 7:00h, 9:00h e 18:00h.
segundas-feiras: Celebração da Palavra, às 7:30h.

Capela São João Batista e Nossa Senhora Rainha da Paz
Missas todos os domingos, 11:00h.
Celebração da Palavra, segundas-feiras, 19:00h.
Terço, terças e sextas-feiras, 19:00h.
Círculo Bíblico, quartas-feiras, 19:00h.

Capela Nossa Senhora Aparecida
Conjunto Residencial Amovila
Missa no segundo e no quarto domingo do mês, às 16:00h.

Capela Sagrada Família
Bairro Araujo
Missa ou Celebração da Palavra, sextas-feiras 19:00h.
Celebração da Palavra, domingos às 17:00h.

Capela da Creche Casulo São Rafael Arcanjo
Missas no segundo domingo do mês, às 9:00h.

História de S. Rafael Arcanjo

A História de São Rafael Arcanjo
Capítulo 1
1. Tobit, da tribo e da cidade de Neftali (situada na Galiléia superior, acima de Naasson, atrás do caminho do ocidente, tendo à esquerda a cidade de Sefet),2. foi levado para o cativeiro no tempo de Salmanasar, rei dos assírios. Embora cativo, ele não abandonou o caminho da verdade.3. Tudo aquilo, de que podia dispor, distribuía cada dia a seus irmãos de raça, que partilhavam com ele sua sorte de cativo.4. Embora fosse ele o mais jovem da tribo de Neftali, seu proceder nada tinha de pueril.5. Por isso, enquanto todos eles iam adorar os bezerros de ouro que o rei de Israel, Jeroboão, tinha feito, só ele fugia da companhia de todos e6. dirigia-se ao templo do Senhor em Jerusalém, onde adorava o Senhor Deus de Israel, oferecendo fielmente as primícias e os dízimos de todos os seus bens.7. De três em três anos, dava aos prosélitos e aos estrangeiros todo o seu dízimo.8. Esta e outras práticas semelhantes da lei de Deus, tinha observado desde a sua infância.9. Quando se tornou adulto, desposou uma mulher de sua tribo, chamada Ana, da qual teve um filho, a quem deu o nome de Tobias.10. Ensinou-lhe desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado.11. Desse modo, quando chegou com sua mulher e seu filho, como cativo, no meio de sua tribo, à cidade de Nínive,12. embora todos os outros comessem dos alimentos dos pagãos, guardou sua alma pura, e jamais contraiu mancha alguma com seus alimentos.13. E porque ele conservava com todo o seu coração a lembrança de Deus, Deus tornou-o simpático ao rei Salmanasar,14. que o autorizou a ir aonde quisesse, e a fazer o que quer que lhe agradasse.15. Ele ia, pois, visitar todos os deportados e dava-lhes conselhos salutares.16. Foi um dia a Ragés, cidade da Média, com dez talentos de prata que o rei lhe tinha dado.17. Encontrando entre a multidão dos seus compatriotas um homem de sua tribo, chamado Gabael, o qual se achava em dificuldades, deu-lhe a sobredita quantia de prata, mediante um recibo.18. Passou o tempo; Salmanasar morreu e Senaquerib, seu filho, sucedeu-lhe no trono. Ora, Senaquerib odiava os israelitas.19. Tobit ia diariamente visitar toda a sua parentela, consolava-a e distribuía dos seus bens a cada um, segundo as suas posses.20. Alimentava os famintos, vestia os nus, e, com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos.21. Quando o rei Senaquerib, fugindo da Judéia ao castigo com que Deus o ferira por suas blasfêmias, mandou assassinar, na sua ira, um grande número de israelitas, Tobit sepultou os seus cadáveres.22. Denunciaram-no ao rei, que o mandou matar e confiscou todos os seus bens.23. Tobit, porém, despojado de tudo, fugiu com seu filho e sua mulher e, como tinha muitos amigos, conseguiu permanecer oculto.24. Ora, quarenta e cinco dias depois, o rei foi assassinado por seus filhos,25. e Tobit voltou para a sua casa; e foram-lhe restituídos todos os seus bens.
Capítulo 2
1. Algum tempo depois, num dia de festa religiosa, foi preparado um grande banquete na casa de Tobit.2. Ele disse então ao seu filho: Vai buscar alguns homens piedosos de nossa tribo, para comerem conosco.3. Ele saiu, mas logo voltou, anunciando ao pai que um dos filhos de Israel jazia degolado na praça. Tobit levantou-se imediatamente da mesa, sem nada haver comido, e foi aonde estava o cadáver.4. Tomou-o e levou-o clandestinamente para a sua casa, a fim de sepultá-lo com cuidado depois do sol posto.5. Tendo escondido o cadáver, começou a comer com pranto e tremor,6. lembrando-se do oráculo que o Senhor tinha pronunciado pela boca do profeta Amós: Vossas festas mudar-se-ão em luto e lamentações (Am 8,10).7. Quando o sol se pôs, ele foi e o sepultou.8. Seus vizinhos criticavam-no unanimemente. Já uma vez ordenaram que te matassem, precisamente por isso, e mal escapaste dessa sentença de morte, recomeças a enterrar os cadáveres!9. Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei, e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e os inumava durante a noite.10. Ora, aconteceu que um dia, cansado desse trabalho, voltou para a sua casa e deitou-se junto à parede onde adormeceu.11. Enquanto dormia, caiu-lhe de um ninho de andorinhas esterco quente nos olhos, e ele tornou-se cego.12. Deus permitiu que lhe acontecesse essa prova, para que a sua paciência, como a do santo homem Jó, servisse de exemplo à posteridade.13. Como havia sempre temido a Deus, desde a sua infância, e guardado seus mandamentos, ele não se afligiu (nem murmurou) contra Deus por ter sido atingido pela cegueira.14. Mas perseverou firme no temor de Deus, e continuou a dar-lhe graças em todos os dias de sua vida.15. Assim como o bem-aventurado Jó foi insultado por outros chefes, assim seus parentes e amigos escarneciam de seu comportamento:16. Onde está, diziam eles, essa esperança por cujo amor deste esmolas e sepultaste os mortos?17. Porém Tobit repreendia-os, dizendo: Não faleis assim;18. somos filhos dos santos (patriarcas), e esperamos aquela vida que Deus há de dar aos que não perdem jamais a sua confiança nele.19. Ora, Ana, sua mulher, ia todos os dias tecer, e trazia o que ela ganhava com o trabalho de suas mãos.20. Foi assim que, tendo trazido para casa um cabrito que recebera (como gratificação),21. seu marido ouviu-o balir e disse: Vê que ele não tenha sido roubado; restitui-o ao seu proprietário, porque não nos é permitido comer, e nem mesmo tocar, o que foi roubado.22. Ao que lhe respondeu sua mulher com indignação: Tua esperança é manifestamente vã; agora tuas esmolas mostram bem o que valem! Com estas e outras palavras semelhantes ela censurava-o duramente.
Capítulo 3
1. Tobit, então, suspirando em meio de suas lágrimas, pôs-se a orar:2. Vós sois justo, Senhor! Vossos juízos são cheios de eqüidade, e vossa conduta é toda misericórdia, verdade e justiça.3. Lembrai-vos, pois, de mim, Senhor! Não me castigueis por meus pecados e não guardeis a memória de minhas ofensas, nem das de meus antepassados.4. Se fomos entregues à pilhagem, ao cativeiro e à morte, e se nos temos tornado objeto de mofa e de riso para os pagãos entre os quais nos dispersastes, é porque não obedecemos às vossas leis.5. Agora os vossos castigos são grandes, porque não procedemos segundo os vossos preceitos e não temos sido leais para convosco.6. Tratai-me, pois, ó Senhor, como vos aprouver; mas recebei a minha alma em paz, porque me é melhor morrer que viver.7. Aconteceu que, precisamente naquele dia, Sara, filha de Raguel, em Ecbátana na Média, teve também de suportar os ultrajes de uma serva de seu pai.8. Ela tinha sido dada sucessivamente a sete maridos. Mas logo que eles se aproximavam dela, um demônio chamado Asmodeu os matava.9. Tendo Sara repreendido a jovem criada por alguma falta, esta respondeu-lhe: Não vejamos jamais filho nem filha nascidos de ti sobre a terra! Foste tu que assassinaste os teus maridos.10. Queres porventura matar-me, como mataste todos os sete? Ouvindo isso, Sara subiu ao seu quarto e aí ficou três dias completos, sem comer nem beber.11. E, orando com fervor, ela suplicava a Deus, chorando, que a livrasse dessa humilhação.12. Ao terceiro dia, acabou sua oração, bendizendo o Senhor desta forma:13. Deus de nossos pais, que vosso nome seja bendito. Vós, que depois de vos irardes, usais de misericórdia, e no meio da tribulação perdoais os pecados aos que vos invocam.14. Volto-me para vós, ó Senhor; para vós levanto os meus olhos.15. Rogo-vos, Senhor, que me livreis dos laços deste opróbrio, ou então que me tireis de sobre a terra!16. Vós sabeis que eu nunca desejei homem algum, e que guardei minha alma pura de todo o mau desejo.17. Nunca freqüentei lugares de prazer nem tive comércio com pessoas levianas.18. E se consenti em casar-me, foi por vosso temor e não por paixão.19. Foi, sem dúvida, porque eu não era digna deles; ou talvez não eram eles dignos de mim; ou então me destinastes a outro homem.20. Não está nas mãos do homem penetrar os vossos desígnios.21. Mas todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação, e que, se houver castigo, haverá também acesso à vossa misericórdia.22. Porque vós não vos comprazeis em nossa perda: após a tempestade, mandais a bonança; depois das lágrimas e dos gemidos, derramais a alegria.23. Ó Deus de Israel, que o vosso nome seja eternamente bendito!24. Estas duas orações foram ouvidas ao mesmo tempo, diante da glória do Deus Altíssimo;25. e um santo anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor.
Capítulo 4
1. Tobit, julgando que sua prece tinha sido atendida e que ia morrer, chamou junto de si o seu filho2. e disse-lhe: Ouve, meu filho, as palavras que te vou dizer, e faze que elas sejam em teu coração um sólido fundamento.3. Quando Deus tiver recebido a minha alma, darás sepultura ao meu corpo. Honrarás tua mãe todos os dias de tua vida,4. porque te deves lembrar de quantos perigos ela passou por tua causa (quando te trazia em seu seio).5. Quando ela, por sua vez, tiver cessado de viver, tu a enterrarás junto de mim.6. Quanto a ti, conserva sempre em teu coração o pensamento de Deus; guarda-te de consentir jamais no pecado, e de negligenciar os preceitos do Senhor, nosso Deus.7. Dá esmola dos teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti.8. Sê misericordioso segundo as tuas posses.9. Se tiveres muito, dá abundantemente; se tiveres pouco, dá desse pouco de bom coração.10. Assim acumularás uma boa recompensa para o dia da necessidade:11. porque a esmola livra do pecado e da morte, e preserva a alma de cair nas trevas.12. A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante do Deus Altíssimo.13. Guarda-te, meu filho, de toda a fornicação: fora de tua mulher, não te autorizes jamais um comércio criminoso.14. Nunca permitas que o orgulho domine o teu espírito ou tuas palavras, porque ele é a origem de todo o mal.15. A todo o que fizer para ti um trabalho, paga o seu salário na mesma hora: que a paga de teu operário não fique um instante em teu poder.16. Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito.17. Come o teu pão em companhia dos pobres e dos indigentes; cobre com as tuas próprias vestes os que estiverem desprovidos delas.18. Põe o teu pão e o teu vinho sobre a sepultura do justo; mas não o comas, nem o bebas em companhia dos pecadores.19. Busca sempre conselho junto ao sábio.20. Bendize a Deus em todo o tempo, e pede-lhe que dirija os teus passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a sua vontade.21. Faço-te saber também, meu filho, que quando eras ainda pequenino, emprestei a Gabael de Ragés, cidade da Média, uma soma de dez talentos de prata, cujo recibo tenho guardado comigo.22. Procura, pois, um meio de ir até lá para receber o sobredito peso de prata, restituindo-lhe o recibo.23. Procura viver sem cuidados, meu filho. Levamos, é certo, uma vida pobre, mas se temermos a Deus, se evitarmos todo o pecado e vivermos honestamente, grande será a nossa riqueza.
Capítulo 5
1. Então Tobias respondeu a seu pai: Tudo o que me ordenaste, eu o farei, meu pai.2. Mas estou realmente sem saber como ir buscar esse dinheiro. Gabael não me conhece, e eu tampouco o conheço; que sinal lhe hei de dar? Não conheço nem mesmo o caminho por onde ir a essa terra.3. Seu pai disse-lhe: Tenho comigo o seu recibo; bastará que lho mostres, para que ele te devolva imediatamente o dinheiro.4. Vai procurar um homem de confiança que te possa acompanhar, mediante uma retribuição. É preciso que recebas esse dinheiro enquanto ainda estou vivo.5. Apenas saíra, Tobias encontrou um jovem de belo aspecto, equipado como para uma viagem.6. Sem saber que se tratava de um anjo de Deus, ele o saudou e disse-lhe: De onde és tu, ó bom jovem?7. Ele respondeu: Sou israelita. Tobias perguntou-lhe: Conheces porventura o caminho para a Média?8. Oh, muito!, respondeu ele. Tenho percorrido freqüentemente esse caminho. Hospedei-me em casa de Gabael, nosso compatriota que habita em Ragés, na Média, cidade que está situada na montanha de Ecbátana.9. Tobias disse-lhe: Rogo-te que esperes por mim, enquanto vou anunciar isto a meu pai.10. Tendo Tobias entrado e contado o sucedido ao seu pai, este ficou muito admirado e pediu que fizesse entrar o jovem.11. Ele entrou e saudou a Tobit: A felicidade esteja contigo para sempre!12. Ao que Tobit respondeu: Que felicidade posso eu ter ainda? Estou nas trevas, sem poder ver a luz do céu.13. O jovem replicou-lhe: Tem ânimo, porque é fácil a Deus curar-te!14. Tobit disse-lhe: É verdade que poderás conduzir meu filho à casa de Gabael, em Ragés, na Média? Quando voltares, eu te retribuirei por isso.15. Então o anjo disse-lhe: Eu o levarei até lá e to reconduzirei.16. Tobit então perguntou-lhe: Rogo-te que me digas de que família e de que tribo és tu?17. O anjo respondeu: Que é que procuras: a raça do servo, ou o próprio servo para acompanhar teu filho?18. Mas, para tranqüilizar-te: eu sou Azarias, filho do grande Ananias.19. És de família distinta, respondeu Tobit. Rogo-te que não me queiras mal por ter querido conhecer tua origem.20. O anjo então disse: Conduzirei o teu filho são e salvo, e to trarei de novo são e salvo.21. Tobit respondeu: Boa viagem! Que Deus esteja em vosso caminho, e que o seu anjo vos acompanhe.22. Fizeram em seguida suas bagagens, Tobias despediu-se de seu pai e de sua mãe e os dois viajantes partiram.23. Depois que partiram, sua mãe pôs-se a chorar: Tiraste-nos, disse ela, o bordão de nossa velhice, e o apartaste de nós.24. Prouvera a Deus que nunca tivesse havido esse dinheiro pelo qual o enviaste.25. O pouco que temos nos bastava; a nossa riqueza era a vista de nosso filho.26. Tobit respondeu-lhe: Não chores; nosso filho chegará são e salvo, e voltará também são e salvo para a nossa companhia; tu o verás com os teus olhos.27. Estou certo de que um bom anjo de Deus o acompanhará e disporá solicitamente tudo o que lhe diz respeito, de modo que ele tenha a alegria de voltar para nós.28. Ouvindo isso, sua mãe cessou de chorar e calou-se.
Capítulo 6
1. Tobias partiu, pois, seguido de seu cão, e deteve-se na primeira parada à beira do rio Tigre.2. Descendo ao rio para lavar os pés, eis que um enorme peixe se lançou sobre ele para devorá-lo.3. Aterrorizado, Tobias gritou, dizendo: Senhor, ele lança-se sobre mim.4. O anjo disse-lhe: Pega-o pelas guelras e puxa-o para ti. Tobias assim o fez. Arrastou o peixe para a terra, o qual se pôs a saltar aos seus pés.5. O anjo então disse-lhe: Abre-o, e guarda o coração, o fel e o fígado, que servirão para remédios muito eficazes. Ele assim o fez.6. A seguir ele assou uma parte da carne do peixe, que levaram consigo pelo caminho. Salgaram o resto, para que lhes bastasse até chegarem a Ragés, na Média.7. Entretanto, Tobias interrogou o anjo: Azarias, meu irmão, peço-te que me digas qual é a virtude curativa dessas partes do peixe que me mandaste guardar.8. O anjo respondeu-lhe: Se puseres um pedaço do coração sobre brasas, a sua fumaça expulsará toda espécie de mau espírito, tanto do homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles.9. Quanto ao fel, pode-se fazer com ele um ungüento para os olhos que têm uma belida, porque ele tem a propriedade de curar.10. Em seguida Tobias disse-lhe: Onde queres que pousemos?11. Há aqui, respondeu o anjo, um homem de tua tribo e de tua família, chamado Raguel, que tem uma filha chamada Sara; além dela não tem mais filha.12. Todos os seus bens te devem pertencer: mas é preciso que a recebas por mulher.13. Pede-a, pois, ao seu pai, e ele ta dará por mulher.14. Tobias replicou: Ouvi dizer que ela já teve sete maridos, e que todos morreram. Diz-se mesmo que foi um demônio que os matou,15. por isso eu temo que o mesmo venha a me acontecer, a mim que sou filho único, e desse modo faça descer lamentavelmente a velhice de meus pais à habitação dos mortos.16. O anjo respondeu-lhe: Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o demônio tem poder:17. são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro, que não têm entendimento: sobre estes o demônio tem poder.18. Tu, porém, quando te casares e entrares na câmara nupcial, viverás com ela em castidade durante três dias, e não vos ocupareis de outra coisa senão de orar juntos.19. Na primeira noite, queimarás o fígado do peixe, e será posto em fuga o demônio.20. Na segunda noite, serás admitido na sociedade dos santos patriarcas.21. Na terceira noite, receberás a bênção que vos dará filhos cheios de saúde.22. Passada esta terceira noite, aproximar-te-ás da jovem no temor ao Senhor, mais com o desejo de ter filhos que o ímpeto da paixão. Obterás assim para os teus filhos a bênção prometida à raça de Abraão.
Capítulo 7
1. Chegaram, pois à casa de Raguel, que os recebeu cordialmente.2. Vendo Tobias, Raguel disse a Edna, sua mulher: Como este jovem é parecido com meu primo.3. Dito isto, perguntou De onde viestes, ó jovens? Eles responderam: Somos da tribo de Neftali, dos deportados de Nínive.4. Raguel prosseguiu: Conheceis porventura o meu primo Tobit? Certamente, responderam.5. E como Raguel começasse a elogiar Tobit, o anjo disse-lhe: Esse Tobit de que falas é o pai deste jovem6. Raguel lançou-se então ao pescoço de Tobias, beijou-o com lágrimas, e disse:7. Abençoado sejas, meu filho, porque és filho de um homem de bem!8. Edna, sua mulher, e Sara, sua filha, tinham também os olhos cheios de lágrimas.9. Depois que conversaram, Raguel mandou matar um carneiro para preparar um jantar. E quando lhes rogava que tomassem lugar à mesa,10. Tobias disse-lhe: Não comerei nem beberei aqui hoje, antes que me tenhas prometido conceder o que te vou pedir: dá-me Sara, tua filha, (por mulher).11. Estas palavras encheram Raguel de espanto, pensando no que tinha acontecido aos sete maridos que se tinham aproximado dela, e começou a temer que tal desgraça se repetisse mais uma vez. E como ele hesitasse em dar uma resposta a Tobias,12. o anjo disse-lhe: Não temas dar-lhe tua filha, porque é deste piedoso servo de Deus que ela deve ser mulher. Por isso nenhum outro pôde tê-la.13. Então Raguel disse: Não tenho mais dúvidas de que Deus admitiu em sua presença minhas lágrimas.14. Estou persuadido de que ele vos fez vir à minha casa unicamente para que minha filha desposasse um seu parente, segundo a lei de Moisés. Não temas: eu ta hei de dar.15. E, tomando a mão direita de sua filha, pô-la na de Tobias, dizendo: Que o Deus de Abraão, o Deus de lsaac, o Deus de Jacó esteja convosco; que ele vos una e derrame sobre vós a sua bênção.16. Tomou em seguida o papel, e redigiram o ato do matrimônio.17. E celebraram alegremente uma festa, agradecendo a Deus.18. Raguel chamou então sua mulher e mandou-lhe que preparasse outro aposento.19. Ela introduziu ali Sara, sua filha, e esta se pôs a chorar.20. Mas ela disse-lhe: O Senhor do céu te encha de alegria pelos males que tens sofrido.
Capítulo 8
1. Depois do jantar, introduziram o jovem no aposento de Sara.2. E Tobias, fiel às indicações do anjo, tirou do seu alforje uma parte do fígado e o pôs sobre brasas acesas.3. Nesse momento, o anjo Rafael tomou o demônio e prendeu-o no deserto do Alto Egito.4. Então Tobias encorajou a jovem com estas palavras: Levanta-te, Sara, e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite consumaremos nossa união;5. porque somos filhos dos santos (patriarcas), e não nos devemos casar como os pagãos que não conhecem a Deus.6. Levantaram-se, pois, ambos, e oraram juntos fervorosamente para que lhes fosse conservada a vida.7. Tobias disse: Senhor Deus de nossos pais, bendigam-vos os céus, a terra, o mar, as fontes e os rios, com todas as criaturas que neles existem.8. Vós fizestes Adão do limo da terra, e destes-lhe Eva por companheira.9. Ora, vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão que recebo a minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente bendito.10. E Sara acrescentou: Tende piedade de nós, Senhor; tende piedade de nós, e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice!11. Ora, ao cantar do galo, Raguel chamou os seus criados e foram juntos cavar uma sepultura.12. Quem sabe, dizia ele, se não aconteceu a esse o mesmo que aos outros sete homens que se aproximaram dela?13. Cavada a fossa, voltou para junto de sua mulher e disse:14. Manda uma de tuas escravas ver se ele morreu, a fim de que eu possa enterrá-lo antes de clarear o dia.15. Ela o fez. E a serva, tendo entrado no aposento, encontrou-os bem vivos, dormindo juntos.16. Ela voltou e deu essa boa nova; e Raguel com sua mulher louvaram o Senhor, dizendo:17. Nós vos bendizemos, Senhor Deus de Israel, porque não se realizou o que temíamos.18. Usastes conosco de vossa misericórdia, expulsando para longe de nós o inimigo que nos perseguia,19. e tivestes piedade de dois filhos únicos. Fazei, ó Senhor, que eles vos bendigam sempre mais, e vos ofereçam um sacrifício de louvor pela sua conservação, a fim de que todas as nações pagãs conheçam que vós sois o único Deus de toda a terra.20. Raguel ordenou imediatamente aos seus criados que enchessem de novo, antes que clareasse o dia, a cova que haviam feito.21. Disse à sua mulher que aprontasse um banquete e preparasse todos os víveres necessários aos viajantes.22. Mandou também matar duas vacas gordas e quatro carneiros, destinados a um festim para todos os seus vizinhos e amigos.23. E instou com Tobias que ficasse com ele duas semanas.24. Presenteou Tobias com a metade de seus bens, e redigiu um documento estipulando que a outra metade se tornaria também, depois de sua morte, propriedade de Tobias.
Capítulo 9
1. Tobias chamou então a si o anjo, que ele julgava ser um homem, e disse-lhe: Azarias, meu irmão, peço-te que me ouças.2. Ainda que eu me fizesse teu escravo, não seria isso uma retribuição digna por teus cuidados.3. Não obstante, vou pedir-te ainda que tomes contigo cavalos e servos e vás à casa de Gabael, em Ragés, na Média. Devolve-lhe o seu recibo e recebe o dinheiro. Convida-o também para o meu casamento.4. Bem sabes que meu pai conta os dias; se eu tardar um dia mais, ele sofrerá com isso.5. Vês, por outro lado, como Raguel insistiu em que eu me demorasse aqui, e não lho posso recusar.6. Rafael tomou então quatro servos de Raguel, e dois camelos, e partiu para Ragés, na Média. Encontrando Gabael, entregou-lhe o recibo e recebeu dele todo o dinheiro.7. Contou-lhe toda a aventura de Tobias e fê-lo vir consigo às núpcias.8. Tobias estava à mesa, quando Gabael entrou na casa de Raguel. Lançaram-se nos braços um do outro, e Gabael louvava a Deus com lágrimas (de alegria).9. Que o Deus de Israel te abençoe, disse ele, porque és filho de um homem de bem, justo, piedoso e esmoler.10. Abençoe também a tua mulher e os vossos pais;11. possais ver os vossos filhos e os filhos de vossos filhos, até a terceira e a quarta gerações!12. Bendita seja a vossa raça pelo Deus de Israel que reina em toda a eternidade! Amém, responderam eles. E todos se puseram à mesa. E foi no temor do Senhor que celebraram o festim das núpcias.
Capítulo 10
1. O casamento de Tobias tinha retardado a sua volta. Seu pai, muito inquieto, dizia: Por que será que meu filho tarda tanto? Por que se demora lá?2. Teria Gabael porventura falecido, de sorte que não haveria ninguém para restituir o dinheiro?3. Ele entristeceu-se extremamente com isso, assim como Ana, sua mulher, e ambos se puseram a chorar, porque seu filho não voltava no tempo previsto.4. Sua mãe, principalmente, derramava lágrimas inesgotáveis, e dizia: Ai, ai, meu filho! Por que te mandamos lá? Tu que eras a luz de nossos olhos, o bordão de nossa velhice, a consolação de nossa vida e a esperança de nossa raça!5. Nós, que em ti só tínhamos tudo, não te devíamos ter deixado ir para longe de nós.6. Tobit dizia-lhe: Cala-te, não te aflijas! Nosso filho está passando bem; aquele homem com quem nós o mandamos é um homem de confiança.7. Mas ela continuava inconsolável: todos os dias ela saía para fora, olhava para todos os lados, e corria por todos os caminhos, por onde poderia voltar o filho, a fim de vê-lo ao longe, se fosse possível.8. Entretanto, Raguel dizia ao seu genro: Fica aqui, mandarei notícias a Tobit, teu pai, a respeito de tua saúde.9. Mas Tobias disse-lhe: Sei que meu pai e minha mãe contam os dias e que se acham em grande tormento.10. Raguel insistiu ainda, apresentando muitas razões, mas Tobias não quis ouvi-lo. Então entregou-lhe Sara com a metade de seus bens em servos, servas, rebanhos, camelos, vacas, e em grande soma de dinheiro. Despediu-o cheio de saúde e alegria,11. dizendo-lhe: Que o santo anjo do Senhor vos acompanhe pelo caminho, e vos conduza sãos e salvos. Faço votos de que encontreis tudo em ordem em casa de vossos pais, e que eu possa ver os vossos filhos antes de morrer!12. Os pais beijaram sua filha e deixaram-na partir,13. recomendando-lhe que honrasse seus sogros, amasse o seu marido, educasse bem a sua família e governasse a sua casa, conservando-se ela mesma irrepreensível.
Capítulo 11
1. De regresso, chegaram no décimo primeiro dia de viagem a Caserim, que está a meio caminho na direção de Nínive.2. O anjo disse então: Tobias, meu irmão, tu sabes em que estado deixaste o teu pai.3. Se for do teu agrado, poderíamos tomar a dianteira, deixando a tua mulher, os servos e os rebanhos seguirem devagar pelo caminho.4. Tendo Tobias concordado com esse parecer, Rafael disse-lhe: Leva contigo o fel do peixe, porque vais precisar dele. Tomou, pois, Tobias o fel e partiram.5. Entretanto, Ana ia todos os dias assentar-se perto do caminho, no cimo de uma colina, de onde podia ver ao longe.6. Ela espreitava ali a volta de seu filho, quando o viu de longe que voltava e o reconheceu. Correu ao seu marido e disse-lhe: Eis que aí vem o teu filho!7. Ora, Rafael tinha dito a Tobias: Logo que entrares em tua casa, adorarás o Senhor teu Deus e dar-lhe-ás graças. Irás em seguida beijar teu pai,8. e pôr-lhe-ás imediatamente nos olhos o fel do peixe que tens contigo. Sabe que seus olhos se abrirão instantaneamente e que teu pai verá a luz do céu. E, vendo-te, ficará cheio de alegria.9. O cão, que os tinha acompanhado durante a viagem, correu então adiante como um mensageiro, e mostrava o seu contentamento fazendo festas e abanando a cauda.10. O pai cego levantou-se e pôs-se a correr, tropeçando. Dando então a mão a um criado, foi ao encontro de seu filho.11. Abraçou-o e beijou-o, fazendo o mesmo sua mulher, e ambos começaram a chorar de alegria.12. Só se assentaram depois de terem adorado e agradecido a Deus.13. Tobias tomou então o fel do peixe e pô-lo nos olhos de seu pai.14. Depois de ter esperado cerca de meia hora, começou a sair-lhe dos olhos uma belida branca como a membrana de um ovo.15. Tobias tomou-a e a arrancou dos olhos de seu pai, o qual recobrou instantaneamente a vista.16. E louvaram a Deus, ele, sua mulher e todos os que o conheciam.17. Bendigo-vos, Senhor Deus de Israel, dizia ele, porque depois de me terdes provado, me salvastes: eis que vejo o meu filho Tobias!18. Sete dias depois, chegou também Sara, mulher de seu filho, com todos os seus servos, em boa saúde, com os rebanhos, os camelos, o grande dote da esposa, e mais o dinheiro recebido de Gabael.19. Tobias contou a seus pais todos os benefícios que Deus lhe tinha feito por intermédio de seu guia.20. Chegaram também Aquior e Nabat, primos de Tobit, felizes de poderem congratular-se com ele pelos benefícios que Deus lhe tinha prodigalizado.21. Durante sete dias houve festa e grande regozijo.
Capítulo 12
1. Então Tobit chamou seu filho e disse-lhe: Que havemos nós de dar a esse santo homem que te acompanhou?2. Meu pai, respondeu ele, que gratificação lhe havemos de dar? Que presente poderá igualar os seus benefícios?3. Ele levou-me e trouxe-me em boa saúde; foi receber o dinheiro de Gabael; fez-me ter uma mulher e afugentou dela o demônio; encheu de alegria os seus pais; livrou-me de ser devorado pelo peixe, e fez-te rever a luz do céu; enfim, ele cumulou-nos de toda a sorte de benefícios. Que presente poderia igualar a tudo isso?4. Rogo-te, meu pai, que lhe peças se digne aceitar a metade de tudo o que trouxemos.5. Chamaram-no, pois, o pai e o filho, e, tomando-o à parte, rogaram-lhe que aceitasse a metade de tudo o que tinham trazido.6. Então ele falou-lhes discretamente: Bendizei o Deus do céu, e dai-lhe glória diante de todo o ser vivente, porque ele usou de misericórdia para convosco.7. Se é bom conservar escondido o segredo do rei, é coisa louvável revelar e publicar as obras de Deus.8. Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos,9. porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna;10. aqueles, porém, que praticam a injustiça e o pecado são os seus próprios inimigos.11. Vou descobrir-vos a verdade, sem nada vos ocultar.12. Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor.13. Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse.14. Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara, mulher de teu filho.15. Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor.16. Ao ouvir estas palavras, eles ficaram fora de si, e, tremendo, prostraram-se com o rosto por terra.17. Mas o anjo disse-lhes: A paz seja convosco: não temais.18. Quando eu estava convosco, eu o estava por vontade de Deus: rendei-lhe graças, pois, com cânticos de louvor.19. Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas o meu alimento é um manjar invisível, e minha bebida não pode ser vista pelos homens.20. É chegado o tempo de voltar para aquele que me enviou: vós, porém, bendizei a Deus e publicai todas as suas maravilhas.21. Acabando de dizer estas palavras, desapareceu diante deles, e eles não viram mais nada.22. Durante três horas permaneceram prostrados por terra, bendizendo a Deus. Depois levantaram-se e publicaram todas essas maravilhas.
Capítulo 13
1. Tobit tomou, então, a palavra e, num transporte de alegria, escreveu esta prece: Sois grande, Senhor, na eternidade, vosso reino estende-se a todos os séculos.2. Porque vós provais e, em seguida, salvais. Conduzis a profundos abismos e deles tirais; e não há quem possa escapar à vossa mão.3. Celebrai o Senhor, filhos de Israel. Louvai-o em presença das nações.4. Porque, se ele vos dispersou entre povos que o não conhecem, foi para que publiqueis as suas maravilhas e lhes façais reconhecer que não há outro Deus onipotente senão ele.5. Castigou-nos por causa das nossas iniqüidades, mas nos salvará por sua misericórdia.6. Considerai, agora, o que fez por nós, e bendizei-o com temor e tremor; por vosso comportamento, glorificai o rei dos séculos.7. Quanto a mim, louvá-lo-ei na terra do meu cativeiro, porque manifestou sua majestade sobre um povo criminoso.8. Convertei-vos, pecadores, e praticai a justiça diante de Deus, na confiança que vos fará misericórdia.9. Nele me alegrarei de todo o coração.10. Dai graças ao Senhor, vós todos, seus eleitos; celebrai dias de alegria e rendei-lhe louvores.11. Jerusalém, cidade santa! Deus te castigou por teu mau procedimento.12. Confessa a Deus como convém e louva o rei dos séculos, para que ele reedifique o teu santuário. Reúna em ti os que foram deportados, e possas alegrar-te sem fim!13. Hás de refulgir qual esplêndida luz, e todos os povos da terra te venerarão.14. Nações de longe virão a ti, com presentes, adorar o Senhor em teus muros, e considerarão o teu solo como um santuário.15. Porque em teu recinto invocarão o grande nome.16. Maldito seja quem te desprezar; desonrado, quem te caluniar; bendito seja quem te reconstruir!17. Alegrar-te-ás nos teus filhos, porque serão todos abençoados, e se reunirão junto do Senhor.18. Ditosos todos os que te amam: na tua paz encontrarão sua alegria.19. Ó minha alma, bendize ao Senhor, porque o Senhor, nosso Deus, livrou Jerusalém de todas as suas tribulações.20. Feliz serei, se ficar um homem de minha raça para ver o esplendor de Jerusalém:21. suas portas serão reconstruídas com safiras e esmeraldas, seus muros serão inteiramente de pedras preciosas,22. Suas praças serão pavimentadas de mosaicos e rubis, e em suas ruas cantarão: Aleluia!23. Bendito seja Deus que te restituiu tal esplendor! Que ele reine sobre ti eternamente!
Capítulo 14 - Último -
1. Tal foi o cântico de Tobit. Depois que recobrou a vista, viveu (ainda) Tobit quarenta e dois anos, e viu os filhos de seus netos.2. (Morreu) com a idade de cento e dois anos, e foi sepultado com muita honra em Nínive.3. Aos cinqüenta e seis anos tornou-se cego, e recobrou a vista aos sessenta.4. Todo o resto de sua vida se passou na alegria; e a paz de que gozou foi em proporção aos seus progressos no temor a Deus.5. Quando veio a hora de sua morte, chamou à sua presença o seu filho Tobias, com os sete filhos deste e disse-lhes:6. Está próxima a ruína de Nínive, porque a palavra de Deus não falha; os nossos irmãos, que foram dispersos para longe da pátria de Israel, voltarão para ela.7. Todo o seu país deserto será repovoado, e a casa de Deus, que ali foi queimada, será reconstruída. Todos os homens que temem a Deus voltarão novamente para ela8. e as nações pagãs abandonarão os seus ídolos e virão habitar em Jerusalém,9. e todos os reis da terra se alegrarão de apresentar suas homenagens ao rei de Israel.10. Ouvi, pois, o vosso pai, meus filhos. Servi fielmente o Senhor e procurai fazer o que lhe é agradável.11. Recomendai aos vossos filhos que pratiquem a justiça, sejam caridosos e esmoleres, que se lembrem de Deus e o bendigam em todo o tempo, fielmente, e com todas as suas forças.12. E agora, meus filhos, ouvi-me: não fiqueis aqui; mas, no dia em que tiverdes enterrado vossa mãe junto de mim no mesmo túmulo, ponde-vos logo a caminho para deixar estes lugares;13. porque eu vejo que a iniqüidade desta cidade será a causa de sua queda.14. Depois da morte de sua mãe, Tobias partiu de Nínive com sua mulher, seus filhos e seus netos, e voltou para a casa de seus sogros.15. Encontrou-os em perfeita saúde, numa ditosa velhice. Teve para com eles todas as atenções, e fechou-lhes os olhos. Tomou posse de toda a herança da casa de Raguel, e viu os filhos de seus filhos até a quinta geração.16. Morreu com alegria, tendo vivido noventa e nove anos no temor ao Senhor, e seus filhos sepultaram-no.17. Toda a sua parentela e toda a sua descendência perseveraram numa vida íntegra e santo procedimento, de modo que foram amados tanto por Deus como pelos homens e por todos os seus compatriotas.

Samba-Enredo São Rafael

Samba-Enredo de São Rafael Arcanjo

Nossa Paróquia
É do Arcanjo Rafael!
Cura Divina
Que nos leva ao Céu!

O povo da Aliança
Se corrompeu,
De pecado em pecado,
A Deus rejeitou.
O rei inimigo
A guerra venceu
E o povo escolhido,
Ele dispersou.

Com os pecadores
Foram exilados
Homens fiéis
Sofrendo também.
Na terra estrangeira
São deserdados
Mas dão testemunho
De amor e de bem.

Nossa Paróquia
É do Arcanjo Rafael!
Cura Divina
Que nos leva ao Céu!

Tobit é levado
Para a Assíria
Com sua família
E seu filho Tobias.
Mas num infortúnio,
Numa provação
Perde suas vistas,
Fica cego então...

A jovem Sara
Sete vezes se casara
Mas seu coração se entristecia...
Por causa de um demônio
Na hora do matrimônio
Seu marido falecia...

Nossa Paróquia
É do Arcanjo Rafael!
Cura Divina
Que nos leva ao Céu!

O homem justo sofreu,
Sua dor doeu,
Ele gemeu!
Mas invocou o Deus do Céu,
O Deus do Céu,
Deus de Israel!

A jovem era desprezada,
Não podia ser casada,
Era sempre humilhada!
Mas invocou o Deus do Céu,
O Deus do Céu,
Deus de Israel!

As orações se uniram,
Ao Céu subiram...
E o Deus do Céu
Enviou, para eles,
O Arcanjo Rafael!!!!

Nossa Paróquia
É do Arcanjo Rafael!
Cura Divina
Que nos leva ao Céu!

Como o próprio Deus faria
Tobit envia
O filho Tobias
Para um débito resgatar
O mal remediar,
Mas precisa de um guia!
Não demora a encontrar
Amigo em quem confia,
Chama-se Azarias...

Na viagem ao Oriente,
Peixe grande o ameaça
Mas seu fel é uma graça
Para o pai doente...

Por Sara são recebidos.
Sara casa com Tobias.
Que é um bom marido
E lhe traz alegrias!

A dívida é resgatada.
Voltam à casa do pai.
A cegueira se vai
E a paz é recuperada.

Azarias se declara:
É o Arcanjo Rafael,
Que o Deus do Céu
Aos pobres enviara...

Querido Arcanjo Rafael,
Medicina do Céu,
À missão foste fiel...

Mas na vossa Paróquia
Ela vai continuar
De vós, vamos precisar

Veja como sofrem os filhos
É Jesus Crucificado
Outra vez!

Mas com o vosso auxílio,
Deus será glorificado,
Porque tudo Ele é que fez!

Deus será glorificado,
Porque tudo Ele é que fez!

Deus será glorificado,
Porque tudo Ele é que fez!

Nossa Paróquia
É do Arcanjo Rafael!
Cura Divina
Que nos leva ao Céu!

Feliz Quem é da S. Rafael

Feliz quem é da São Rafael!

Quem é que pode caminhar sozinho,
Se o amor é o sabor do caminho?
A nossa vida é comunidade,
P’ra o nosso irmão, toda a felicidade!

Felicidade é só ser de Jesus,
Sempre na Paz, sem temer a Cruz,
Cheios de graça como a Mãe, Maria,
Alimentados pela Eucaristia!

Somos assim e não mudamos não: (bis)
A nossa vida é consagração! (bis)

Por nosso amor é que testemunhamos
Que é em Cristo que nos reunimos,
Por isso é em comunhão que vamos
Na nossa estrada de amores divinos!

Estrada essa que vem da Paróquia
Do glorioso Arcanjo Rafael
E nos transporta sempre em ascensão
Na esperança de chegar ao Céu!

Nessa Paróquia nós somos felizes: (bis)
Jesus! Seguimos o que Tu nos dizes! (bis)

Nessa Paróquia nós somos felizes: (bis)
Jesus! Seguimos o que Tu nos dizes! (bis)

Imagens de São Rafael Arcanjo







Domingo de Pentecostes

DOMINGO DE PENTECOSTES

At 2,1-11 – Salmo 103 – 1Cor 12,3b-7.12-13 – Jo 20,19-23

A Leitura dos Atos dos Apóstolos é construída como uma negação do episódio da Torre de Babel. Dominados pelo orgulho e desejo de glória, querendo chegar ao céu por seus próprios meios, os homens acabam por não se entender mais. O dom do Espírito Santo, que é Espírito de Unidade, pelo qual as Três Pessoas Divinas são um só Deus, faz os homens entenderem-se de novo, não importando a diversidade dos idiomas. O Espírito Santo é o Espírito da Verdade (cf. Jo 14,17) e a Verdade é a unidade no amor, que faz brotar a Vida. O individualismo, o egoísmo é uma mentira, e por isto, o demônio, que escolheu o orgulho – quer ser Deus fora da comunhão com o Deus único – é chamado de “pai da mentira” (cf. Jo 8,44). Então, uma das principais características do Espírito Santo dado aos Apóstolos e a toda a Igreja é ser o Espírito da Unidade, pelo qual uma pessoa coloca sua felicidade em outra pessoa, e de certa forma, vive nessa outra pessoa. Isto está expresso também no fim do trecho lido da Primeira Carta aos Coríntios, onde se diz que nós todos “fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo”.
Esta carta também nos diz que a fé – e também a esperança e a caridade – são infundidas em nós pela ação do Espírito Santo: “Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3b). E esta afirmação impressionante: “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos” (1Cor 12,6). Isto é, tudo o que fazemos de bom, tudo o que fazemos que agrada a Deus, é Deus que faz por meio de nós. Ou seja, pelo Espírito Santo, Ele habita em nós. Basta querermos fazer a vontade de Deus que Ele virá, o Pai, o Filho e o Espírito Santo – que realiza essa unidade – fazer unidade conosco, habitar em nós. “Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). Como todos se entendem se acolhem o Espírito de Deus, formamos um só corpo, somos uma unidade, em que cada um é como um órgão do corpo todo. Todos os nossos dons não são para nós mesmos só, mas para o bem do corpo inteiro (cf. 1Cor 12,20-27).
No Evangelho temos a primeira manifestação de Jesus Ressuscitado diante de seus Apóstolos. Logo depois de desejar a Paz para eles, Jesus lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”, como para dizer que o fruto de Sua Paixão e Ressurreição, para os Apóstolos e para todas as pessoas é o dom do Espírito Santo. Este dom que gera a Paz no coração dos discípulos, e é por este dom que quem recebe os discípulos de Jesus, O está recebendo e está recebendo também o próprio Pai. Jesus forma uma unidade com os seus discípulos, de forma que se o discípulo perdoa os pecados de alguém é Jesus que está perdoando por meio dele. Jesus vive em seu discípulo que está em comunhão com ele pela unidade do Espírito Santo. Esta última parte é aplicada, em geral, aos discípulos ordenados como os padres e os bispos, que são ministros (cf. 1Cor 12,5), mas o cristão só tem força para perdoar alguém se o Espírito Santo agir nele, se ele se abrir para o Espírito Santo. E todo perdão verdadeiro dado ao irmão é uma transmissão do perdão que se recebeu de Deus. O cristão nada pode dar se não recebeu primeiro de Deus. “João (Batista) replicou: Ninguém pode atribuir alguma coisa a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu”. (Jo 3,27). “Recebestes de graça, de graça dai!” (Mt 10,8c). Também a parábola do rei que quis ajustar contas com seus servos é esclarecedora: “Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos. Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida. Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo: Paga o que me deves! O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei! Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida. Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado. Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração” (Mt 18,23-35). O servo que devia ao rei os dez mil talentos esqueceu-se rapidamente da misericórdia com que fora tratado, não a valorizou e, por esta razão, não teve misericórdia com o seu devedor. Até a misericórdia que temos com o nosso irmão é recebida de Deus. Alegremo-nos com o perdão que recebemos de Deus, que nos tira do inferno e nos leva ao Paraíso e teremos muita misericórdia para dar aos nossos irmãos.

Domingo da Ascensão

DOMINGO DA ASCENSÃO – ANO B – 2009

At 1,1-11 – Salmo 46 – Ef 1,17-23 – Mc 16,15-20

“Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele” (At 1,13-14). Após o que narra a Leitura dos Atos dos Apóstolos, temos essas observações. Os Apóstolos, ajudados por Maria Santíssima que já havia recebido e transmitido o Espírito Santo (Lc 1,35.43-45) ficam no Cenáculo à espera do Dom do Alto. A Ascensão de Jesus é a divinização de nossa humanidade, que Ele assumiu, e é como diz na oração após a comunhão “fazei que os nossos corações se voltem para o Alto, onde está junto de Vós, a nossa humanidade”. Jesus Cristo sobe ao Pai e derrama sobre nós o Espírito Santo, para viver em nós. O derramamento do Espírito Santo tem como conseqüências o que está na Leitura da Carta aos Efésios: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de Sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer” (Ef 1,17). Em primeiro lugar, o dom da Sabedoria, que revela quem é Deus. Em segundo lugar o anúncio dessa Sabedoria, a Missão, como está no Evangelho: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
A união da nossa humanidade, assumida por Jesus Cristo, com a Divindade da Santíssima Trindade é obra do Espírito Santo. Essa obra, que se completa na Ascensão de Jesus Cristo, já começara desde a Encarnação, em que o Filho de Deus diz “sim” ao Seu Pai e aceita encarnar-Se. Na sua Ascensão já começou a nossa como está na Carta aos Hebreus:

“Mas aquele que fora colocado por pouco tempo abaixo dos anjos, Jesus, nós o vemos, por sua Paixão e morte, coroado de glória e de honra. Assim, pela graça de Deus, a sua morte aproveita a todos os homens. Aquele para quem e por quem todas as coisas existem, desejando conduzir à glória numerosos filhos, deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o autor da salvação deles, para que santificador e santificados formem um só todo. Por isso, (Jesus) não hesita em chamá-los seus irmãos, dizendo: Anunciarei teu nome a meus irmãos, no meio da assembléia cantarei os teus louvores (Sl 21,23). E outra vez: Quanto a mim, ponho nele a minha confiança (Is 8,17); e: Eis-me aqui, eu e os filhos que Deus me deu (Is 8,18)” (Hb 2,9-13).

Conosco também acontece o mesmo que com Jesus Cristo. A divinização de nossa humanidade já começou no nosso batismo e quando nos abrimos ao Espírito Santo e começamos a viver a nossa cruz de cada dia e as renúncias a que o amor de Deus acima de todas as criaturas nos impele. Já estamos no caminho da divinização de nossa humanidade quando participamos da Cruz Sagrada de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sexto Domingo de Páscoa

SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B – 2009

At 10,25-26.34-35.44.48 – Salmo 97 – 1Jo 4,7-10 – Jo 15,9-17

Rezamos na oração antes das leituras pedindo ao Pai “que a nossa vida corresponda aos mistérios que celebramos”. A vida cristã é um mergulho – batismo – no mistério de Deus. Como os pensamentos humanos são muito distantes do pensamento de Deus muita gente não compreende a vida cristã e a reduz somente ao nível moral, esquecendo o espiritual, a relação pessoal viva entre a pessoa e Deus. Para muita gente o cristianismo é só um código moral que a gente não consegue viver e um Deus que perdoa os pecadores que nunca se libertam do poder do pecado.
Na leitura dos Atos dos Apóstolos vemos que São Pedro rejeita ser adorado por Cornélio e se declara apenas um homem. Os santos são homens como nós, de carne e osso, com as tentações iguais às nossas. Devemos rejeitar todas as lendas nas histórias dos santos. São pessoas como nós, mas que aceitaram que a sua vida mergulhasse profundamente no mistério de Deus, como rezamos antes das leituras. Por isso é prejudicial toda exploração dos santos como “a santa dos impossíveis”, “a santa ou o santo dos endividados”, “os santos guerreiros” etc. porque desfiguram a verdadeira visão que devemos ter dos santos: cristãos como nós que nos servem de exemplo e estímulo para vivermos melhor o mistério de Deus. Nada mais do que isso. É verdade que os santos são também intercessores, mas todo cristão que carrega sua cruz também o é. Toda intercessão se faz pela união do cristão com Jesus Cristo, o verdadeiro intercessor. Sem a união com Jesus nenhuma pessoa pode fazer nada para salvar ou beneficiar espiritualmente os outros: “Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Ainda dentro da mensagem doa Atos é declarado que “Deus não faz distinção entre as pessoas, mas aceita quem O teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,34-35). “O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). Isto significa que o Espírito de Deus pode inspirar qualquer pessoa, mesmo fora da Igreja para que viva segundo Jesus Cristo, dando sua vida pelos outros. Nós, que somos a Igreja de Jesus Cristo devemos ser um sinal forte de fé, de esperança e de amor para o mundo: “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,13-16). Um cristão que não tenha sentimentos diferentes das pessoas do mundo, que não adore a Deus acima de todas as criaturas é sal sem sabor e luz apagada: para nada serve e não dá gosto nem ilumina a vida das pessoas, não é sinal de Deus.
O salmo nos diz: “O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações sua justiça” (Sl 97,2). Que justiça é essa, de Deus. Há gente que imagina Deus, às vezes misericordioso, e às vezes justo. Perdoando o pecador, às vezes e outras vezes castigando o pecador. Esta visão está errada, porque retrata Deus como uma pessoa humana, sujeita a estados de espírito variáveis. A justiça de Deus é a sua misericórdia. Deus é criador e nunca desiste de levar suas criaturas à plenitude de vida. Nosso pecado não diminui o amor de Deus por nós e o testemunho de Jesus confirma isso. Se há inferno é porque a criatura humana pode, na sua liberdade, rejeitar o amor de Deus e se encher de uma auto-suficiência diabólica, sem nunca declarar sua dependência do amor de Deus. Não é Deus que manda a pessoa para o inferno. É ela que não aceita Deus, não se subordina a Deus, em seu orgulho e desobediência e não realiza por isso o encontro com esse desencontro leva a pessoa a uma frustração eterna a que chamamos inferno.
A Primeira Carta de São João diz “que todo aquele que ama – um amor como o de Jesus Cristo, que renuncia para si e dá a vida pelo bem dos outros – nasceu de Deus e conhece a Deus”. Nasceu de Deus significa que não nasceu da carne só, pois a carne tem desejos contrários aos do Espírito Santo. A pessoa age por inclinações que não são instintos naturais, mas inspirações sobrenaturais que vem de Deus. Os instintos naturais do nosso corpo nos levam ao pecado, não à caridade. Conhece a Deus significa um conhecimento que não é sempre uma idéia, mas uma experiência prática de vida e de liberdade. A mesma Carta nos fala que Deus manifestou seu amor enviando o Filho Unigênito ao mundo, para que tenhamos vida por meio d’Ele. Fora de Jesus Cristo não há ressurreição nem vida eterna. Não há nenhuma esperança nem sentido para a vida das pessoas na terra. E afirma ainda que “não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele é que nos amou primeiro enviando seu Filho Jesus a nós”. Antes de querermos amar é preciso perceber se nos sentimos amados por Deus. O amor que transmitimos ao próximo é o amor que recebemos de Deus. O perdão que damos ao próximo brota da alegria de ser perdoados por Deus. Se as coisas não tem origem em Deus, não as criamos por nós mesmos. Ninguém ama verdadeiramente se não faz a experiência da alegria de ser amado por Deus. “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10,8) é um dos mais importantes princípios do Evangelho. Se não damos graças a Deus em todo e qualquer lugar em toda e qualquer situação que passemos ficará muito difícil para nós amar, suportar a cruz, e se instaurará em nossa alma não a ação de graças, que leva à alegria e ao amor, mas a revolta que leva à tristeza, à frustração e ao pecado.
No Evangelho Jesus nos diz que nos ama com um amor igual ao que o Pai tem por Ele mesmo. Isto significa que Jesus vive na sua humanidade, na sua carne, os mesmos movimentos divinos que sua Pessoa Divina viveu desde toda a eternidade. Por isso Jesus revela quem é Deus. “Aquele que me viu, viu também o Pai”, diz Jesus (Jo 14,9). Por isso, Jesus estabelece conosco uma relação igual à que Ele tem com o próprio Deus. Isto é, Ele nos mergulha – batiza – na Santíssima Trindade, que é Deus. A vida eterna é viver a vida de Deus, pela unidade que o Espírito Santo gera entre a nossa pessoa criada e a Pessoa Divina de Jesus Cristo. Daí a importância do mandamento de Jesus: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12). Amar como Jesus amou é amar com amor divino, amor recebido de Deus, como já meditamos, amor que é dar a própria vida em renúncias constantes pelo bem dos irmãos. Jesus afirma também que o seu amor é fonte de alegria, da sua alegria em nós. Isso significa que a verdadeira experiência do amor divino é fonte de paz, de alegria e de uma leveza de alma bem em oposição às nossas constantes preocupações, que a nossa insegurança e falta de fé em Deus nos inspira. E diz que o amor é dar a vida pelos amigos. Isto significa que a vida do cristão não pertence a ele mesmo, mas é consagrada a Deus e Deus a doa para o bem do próximo, que forma conosco uma unidade, à semelhança da unidade entre as Pessoas Divinas. Depois Jesus nos ensina que somos seus amigos, amigos de Deus, se conhecemos de coração o mistério de Jesus, o que Ele recebeu do Pai. Neste ponto há um grande desinteresse por parte de muitos cristãos em entender mais profundamente Jesus Cristo, o seu Mistério. Tal conhecimento não é principalmente intelectual, mas experiencial, um modo de viver, uma vida segundo o Espírito Santo.
Jesus nos diz que não somos nós que O escolhemos, mas Ele que nos escolhe. Deus nos escolhe quando nos dá os dons necessários à nossa vocação e nos dá as graças necessárias à nossa salvação. Os dons que Deus dá a cada pessoa são diferentes dos dons que Deus dá a outras pessoas. Deus é livre e não tem nenhum compromisso de igualdade de dons entre as pessoas. E isso não constitui injustiça da parte de Deus. Cada um recebe o que é necessário para sua vida cristã e sua salvação. O que nos impede a alegria dos dons de Deus é a comparação com os dons de outrem, que nos leva à inveja e a não acreditar nos nossos dons. Todos são belos diante de Deus se se aceitam na sua identidade e nos seus dons, procurando fazer esses dons darem frutos que glorifiquem o Criador e fonte de todos os dons.
Finalmente Jesus nos diz que quem pedir alguma coisa ao Pai em seu Nome, o Pai nos concederá. A grande questão aqui está na cláusula “em seu Nome”. Isto significa que é Jesus Cristo mesmo que pede pela boca de seu discípulo. Podemos perguntar: as nossas orações e pedidos a Deus caberiam na boca de Jesus Cristo? Poderiam ser orações e pedidos d’Ele ao Pai?

Quinto Domingo de Páscoa

QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B – 2009

At 9,26-31 – Sl 21 – 1Jo 3,18-24 – Jo 15,1-8

Uma palavra aparece tanto na Primeira Carta de São João quanto no Evangelho: “permanecer”. Permanecer em Jesus. Isso só é possível pela virtude do Espírito Santo agindo em nós (cf. 1Jo 3,24c). O Espírito Santo é o Espírito da unidade de vida do Pai e do Filho de Deus e da unidade do Filho de Deus com cada um dos cristãos que vivem na graça de Deus. Por isso devemos permanecer em Jesus para que Jesus permaneça conosco. Desta forma, quem faz as obras através de nós é o próprio Jesus. A nossa cruz de cada dia é a cruz d’Ele em nós. Ele é a vida da nossa vida. Barnabé, nos Atos dos Apóstolos, convence os cristãos de que Paulo é cristão testemunhando que ele havia pregado “em nome de Jesus” (o mesmo que dizer que Jesus pregou pela boca de Paulo), em Damasco. Em cada Missa oferecemos os nossos corpos mortais a Deus (cf. Rm 12,1) por Cristo (nós, cristãos, somos ramos de Jesus Cristo, a Videira, e nada podemos fazer (cf. Jo 15,5) nem oferecer ao Pai a não ser por meio de Jesus Cristo), com Cristo (a nossa cruz de cada dia só pode ser oferecida ao Pai como sacrifício agradável juntamente com a cruz de Jesus, o Filho de Deus, que assumiu a nossa natureza humana) e em Cristo (nosso sacrifício só é aceitável ao Pai se permanecemos em Jesus Cristo, se somos de fato membros do seu corpo, ramos d’Ele, que é a Videira). A nossa oferenda (os nossos corpos, a nossa vida dada por amor a Deus ao próximo) só é agradável ao Pai se Ele puder ver em nós o seu próprio Filho Unigênito. Deus tem um só Filho, o Unigênito, e se somos chamados filhos de Deus (cf. 1Jo 3,1) é porque permanecemos no Filho pela unidade do Espírito Santo. A isto chamamos comunhão de vida com Jesus Cristo, o Filho de Deus. Só se salva quem vive ou morre na comunhão de vida com o Filho de Deus (cf. Jo 15,6).
O temor do Senhor (At 9,31) é o primeiro dom do Espírito Santo. Esse temor não significa ter medo de Deus, mas de nós mesmos, pecadores, que podemos perder essa permanência no Filho pelo pecado, pela fraqueza. Mas mesmo se isso acontecer, se nos arrependemos e voltamos para Ele, Ele nos perdoa (cf. 1Jo 3,20) porque Ele é maior que o nosso fraco coração e maior que a nossa fraqueza.
A oração coleta de hoje (aquela que é rezada antes de começar a Liturgia da Palavra) pede a Deus que conceda aos que crêem em Jesus Cristo a liberdade verdadeira e a herança eterna. Ora, a permanência em Jesus Cristo nos dá a liberdade verdadeira que consiste em não temer nenhuma pessoa, em não se deixar julgar por nenhuma criatura, mas só temer a Deus e deixar-se julgar somente por Deus, como Jesus viveu toda a sua vida terrena.
O Salmo rezado hoje nos propõe adorar só Deus, colocando toda a razão de nossos atos só n’Ele, baseando-nos exclusivamente n’Ele, tendo só n’Ele toda a nossa força e a fonte de tudo o que nos cerca, tendo absolutamente tudo como graça d’Ele e só d’Ele. Se Deus é assim a fonte de tudo e tudo é graça d’Ele, ser-nos-á fácil partilhar. Vem daí o aspecto social de paz e abundância: “vossos pobres vão comer e saciar-se”.
A Primeira Carta de São João nos convida a amar a Deus não com palavras somente, mas com ações e em verdade. Isto significa crer em Jesus Cristo como o Caminho que nos leva ao Pai. Ele realiza suas obras na nossa vida e suas obras são renúncia a nós mesmos para nos doar aos outros, para promover vida nos outros, fazer os pobres comer e saciar-se, sem guardar tudo egoisticamente para nós mesmos (cf. Sl 21). Quem não renuncia a si mesmo e não carrega sua cruz de cada dia não permanece em Jesus (cf. Mt 16,24). Não há vida cristã sem renúncia a si mesmo, sem aceitação da própria morte, a cada dia, na feliz esperança da ressurreição. Se Jesus age assim na nossa vida permanecemos em Deus e Deus permanece em nós. O Evangelho nos diz que o que glorifica – santifica em nós – o Pai é que agindo assim demos muito fruto de vida plena nas vidas de nossos irmãos. Só podemos dar frutos se permanecemos em Jesus Cristo e é Ele que produz os frutos em nós.

Quarto Domingo de Páscoa

QUARTO DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B - 2009
O Bom Pastor
At 4,8-12 – Sl 117 – 1Jo 3,1-2 – Jo 10,11-18

“Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai” (1Jo 3,1). Há uma oposição entre “o mundo” e os discípulos de Jesus Cristo. “Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia” (Jo 15,19). A razão dessa oposição é que os que pertencem ao mundo são ambiciosos das coisas do mundo e das consolações que o mundo oferece. Os verdadeiros discípulos de Jesus Cristo tem sua consolação nos céus, seu tesouro está nos céus e desprezam as honras que o mundo pode dar. “Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida - não procede do Pai, mas do mundo” (1Jo 2,16). Diante do desejo da vida eterna em comunhão com Deus, as glórias terrenas não conquistam o coração dos cristãos. “O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo” (Mt 13,44). O tesouro é a vida eterna, a salvação eterna. O mundo encontra sua alegria em suas próprias coisas e rejeita os cristãos porque estes o desprezam, pois conheceram o Pai e as verdadeiras alegrias e consolações. Os cristãos amam a Deus mais do que aos dons de Deus neste mundo.
Desprezando os valores do mundo, não buscando as grandezas terrenas, os discípulos de Jesus estão livres para servir e fazer o bem, sabendo que quem quiser ser o maior de todos deve se tornar o servo de todos. “Jesus, porém, os chamou e lhes disse: Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20,25-28). O mundo quer saber de competir, de vencer o próximo e não de o servir. O cristão vai, assim, dia a dia, dando a sua vida e é por isso que alegra o Pai. “É por isso que o pai me ama, porque dou a minha vida para depois recebê-la novamente” (ter a vida eterna) (Jo 10,17). Assim o cristão se torna filho de Deus, porque se torna semelhante ao Pai, que se doa em cada coisa que proporciona às suas criaturas. E se torna semelhante também ao Filho, imagem perfeita do Pai. É essa vida de Jesus Cristo em nós que é oferecida a Deus em cada Missa: “Orai, irmãos, para que o nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai Todo-Poderoso”. O Bom Pastor é uma imagem de Jesus e de cada cristão que dá sua vida para que os outros tenham mais vida. Toda a salvação está em receber de graça a vida e dar de graça a própria vida (cf. Mt 10,8c). Está no amor que dá a vida. Esta é a verdade básica da vida. Nenhuma vida no universo basta a si mesma, mas se alimenta sempre de outra vida que se sacrifica por ela. Por isso, Jesus Cristo diz que é alimento para que todo o que o comer tenha a vida eterna. Nisto está o Mistério da Santíssima Trindade, o mistério da Vida de Deus, o Mistério da Fé: “Eis o Mistério da Fé!”, diz o sacerdote após a consagração.
O mundo é representado pelo mercenário, que não quer dar a vida pelas ovelhas, pensando que viverá se pensar somente em si mesmo. É uma insensatez, pois só Deus é a fonte de toda vida.
Jesus diz também que “haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16). Essa frase alimenta muitos sonhos de ecumenismo e união entre os cristãos. É melhor acreditar que isto acontecerá no Céu, quando todos estivermos confirmados na graça e na verdade, em plena comunhão com Jesus Cristo. Nesta terra, é melhor acreditar no que Jesus diz: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa” (Mt 10,34-36). Assim, sempre haverá oposição entre o mundo e os cristãos e até entre os que se dizem cristãos, pois a compreensão dos mistérios de Deus não é sempre a mesma, os interesses humanos e amores do mundo faz com que não se perceba a verdade. Jesus diz sempre: “Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não” (Mt 13,11). “Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!… Mas não, isso está oculto aos teus olhos” (Lc 19,42). E também conta-nos a parábola: “O Reino dos céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: - Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio? Disse-lhes ele: - Foi um inimigo que fez isto! Replicaram-lhe: - Queres que vamos e o arranquemos? - Não, disse ele; arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro” (Mt 13,24-30). Então sempre o maligno estará semeando o joio no campo da Igreja, criando divisões e inimizades. A nossa consolação é que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). A unidade plena de fé nesta terra é impossível. O amor nos ensinará a amar também aqueles que pensam diferentemente de nós, colocando as pessoas acima das idéias que elas tem.

Terceiro Domingo de Páscoa

TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B – 2009

At 3,13-15.17-19 – Sl 4 – 1Jo 2,1-5a – Lc 24,35-48

Rezávamos no domingo passado: “Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do vosso povo na renovação da festa pascal, aumentai a graça que nos destes. E fazei que compreendamos melhor o Batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida, e o Sangue que nos redimiu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”. As leituras deste domingo nos servem bem para meditar sobre o Batismo, o Espírito Santo e o Sangue de Cristo, para compreendermos melhor como nos salvam. O grande fruto da Páscoa de Jesus Cristo para todos nós é a doação do Espírito Santo, que nos faz vencer os instintos de nossa carne, as sugestões do mundo pecador e o demônio tentador. As leituras de hoje podem ser entendidas como exemplos das ações do Espírito Santo nas almas dos fiéis.
Na Leitura dos Atos dos Apóstolos vemos como o mesmo São Pedro que se intimidou na quinta e na sexta-feira santa e negou conhecer Jesus três vezes afirma corajosamente a ressurreição e a glorificação de Jesus Cristo, pregação que lhe provocará a ira do Sinédrio, prisões e flagelações. Mas a sua mudança não foi só na coragem, não é uma coragem de destemor somente, mas é uma coragem apostólica, movida pelo desejo de salvar as pessoas: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados” (At 3,19), diz São Pedro. O Espírito Santo tira o medo, mas não por orgulho, mas por amor da salvação das pessoas. Nós, cristãos, não devemos ter vergonha da nossa fé, mas saber que o nosso testemunho de fé cristã pode ser ocasião de salvação para as pessoas, embora outras prefiram permanecer nas trevas.
No Salmo vemos como o Espírito Santo nos move à oração, e uma oração em que pedimos a vida eterna – o esplendor da face de Deus – como realização de felicidade máxima: “Muitos há que se perguntam: ‘Quem nos dá felicidade?’ Sobre nós fazei brilhar o esplendor da vossa face” (Sl 4,7). Se vivemos segundo o Espírito Santo não haverá para nós felicidade mais desejada do que alcançar a vida eterna, ver Deus face a face: “Felizes os puros de coração porque eles verão a Deus” (Mt 5,8). O Espírito Santo purifica o nosso coração e as nossas intenções e desejos, para que desejemos só o que agrada a Deus e nunca o que O desagrada.
Na Primeira Carta de São João vemos como o Espírito Santo nos faz confiar em Jesus como nosso Defensor e como Misericórdia do Pai diante dos nossos pecados. “Sabemos, de fato, que a lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao pecado. Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço. E, se faço o que não quero, reconheço que a lei é boa. Mas, então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita. Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal. Deleito-me na lei de Deus, no íntimo do meu ser. Sinto, porém, nos meus membros outra lei, que luta contra a lei do meu espírito e me prende à lei do pecado, que está nos meus membros. Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?... Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7,14-25). O Espírito nos faz desejar nunca ofender Deus, mas se devido à fraqueza de nossa carne O ofendemos, mantemos a paz, na confiança em sua misericórdia. Este trecho da Carta de São João também nos ensina que o Espírito nos move a desejar conhecer Jesus Cristo cada vez mais e guardar os seus mandamentos, que é ter uma amor crucificado, como o d’Ele, aos nossos irmãos. O Espírito Santo nos faz guardar a Palavra de Deus em nossos atos.
No Evangelho de São Lucas vemos como o Espírito Santo nos abre para receber a paz de Cristo e nada temer de tudo quanto puder a vir a nos acontecer. E nos impele a crer no Cristo Ressuscitado, crer na ressurreição da carne, e nos dá inteligência para entendermos as Escrituras – o segundo dom do Espírito Santo. “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.

Segundo Domingo de Páscoa

SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B – 2009

At 4,32-35 – Sl 117 – 1Jo 5,1-6 – Jo 20,19-31

“Todo o que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus ... todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” Que vitória sobre o mundo é essa? Por que “vencer o mundo”? Como Jesus venceu o mundo? Ele mesmo afirma: “Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.” (Jo 16,33) e “Ao vencedor concederei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3,21). Jesus venceu o mundo adorando somente a Deus e não se deixando seduzir por nada que o mundo oferece. Quem se deixa seduzir pelo que o mundo oferece, dinheiro, poder, prestígio etc., na verdade não é um vencedor. Para alcançar esses objetivos se submete à lógica do mundo e, portanto, ao pecado, porque se submete à concorrência e o próximo ao invés de ser um irmão se torna um adversário contra o qual se concorre e que deve ser vencido. O irmão deixa de ser irmão. A pessoa se torna incapaz de viver a unidade de coração e de alma que vimos a primeira comunidade cristã viver na primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos. E essa unidade é imagem da unidade da Santíssima Trindade, à imagem da qual as pessoas humanas foram criadas, para serem também uma unidade. Disse Jesus: “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?...” (Mt 16,24-26). Aquele que ganhar a vida segundo o mundo vai perder a vida eterna. Aquele que renunciar à vitória segundo o mundo participará da vitória de Jesus e terá a ressurreição e a vida eterna. O Espírito Santo é a Verdade. O Espírito Santo nos confirma que a vitória de Jesus é a verdadeira vitória. De que adiantaria ganhar todas as glórias do mundo, um segundo depois da nossa morte, sabendo que nada levamos deste mundo de tudo o que conquistamos? Ali se revela a verdade de nossa vida diante de Deus. Pela vida eterna toda renúncia vale. Esta vida eterna deve ser objeto profundamente desejado pelos nossos corações. Tomé só acreditou em Jesus vendo-O ressuscitado e tocando-O. Há um outro modo de ver Deus, sem precisar ver e tocar no corpo de Jesus ressuscitado. É pelo desejo da vida eterna. Pelo desejo de ver Deus. “Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,18). Esse desejo, imperando no nosso coração, nos liberta dos apegos terrenos e fazemos em nosso espírito a experiência de liberdade profunda que vem da “vitória sobre o mundo”. Não se pode desejar ao mesmo tempo a vida eterna e as glórias terrenas. Um coração puro é um coração que tem um desejo só, em torno do qual se organizam os outros desejos, que estão a serviço do desejo dominante, para realizá-lo acima de tudo. Por isso Jesus ensinou: “Felizes os que tem o coração puro porque eles verão a Deus” (Mt 5,8). O coração de quem assim vive fica leve pois nada o seduz nem o domina e faze-se a profunda experiência da Paz de Jesus Cristo, e o Espírito Santo, que é a Verdade, nos convence de que estamos no caminho certo e estamos vencendo o mundo. A pessoa se sente como que “vendo Deus” pois tudo acaba se referindo a Ele. A Fé que vence o mundo é crer que Jesus é o Filho de Deus e a sabedoria com que ele viveu deve ser a mesma sabedoria que governa a nossa vida, os desejos de Jesus Cristo devem ser os nossos desejos e a vida d’Ele deve ser a nossa vida. São Paulo viveu assim e por isso afirmou: “Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,19-20).

Primeiro Domingo de Páscoa

PRIMEIRO DOMINGO DE PÁSCOA – ANO B - 2009

At 10,34a.37-43 – Salmo 117 – 1Cor 5,6b-8 – Jo 20,1-9

Qual a origem do mal no mundo? Deus criou a pessoa humana à semelhança das Pessoas Divinas para que aquelas pudessem conhecer e amar a estas e entrar em comunhão de vida com elas, participando assim da natureza divina. Acontece que esta participação se dá por amor e o amor, por natureza, deve ser livre. Então, ao criar a pessoa humana à imagem de Deus, Deus criou a possibilidade, pela liberdade dada à pessoa humana, de esta rejeitar a comunhão de vida das Pessoas Divinas e querer viver auto-suficientes. Da liberdade dada à pessoa humana veio o pecado e do pecado veio o mal moral.
A Ressurreição de Jesus Cristo representa a realização do plano do Pai, da pessoa humana entrar em comunhão com as Pessoas Divinas. Jesus, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assumiu verdadeiramente a natureza humana e por meio de sua Paixão e Morte levou a carne humana à comunhão da Santíssima Trindade. Segundo São Paulo, se Jesus ressuscitou foi para que nós ressuscitássemos. E se não houvesse ressurreição dos mortos nem Jesus Cristo teria ressuscitado (cf. 1Cor 15,12-23). Somos cristãos para participar da ressurreição de Jesus Cristo. Para isto é que somos batizados. Por isso São Paulo, na Carta aos Colossenses, coloca a ressurreição como um fato passado, usando o verbo “ressuscitar” no passado. E diz: “1Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. 2Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. 3Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. 4Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória” (Cl 3,1-4). O cristão deve, portanto, viver uma relação cotidiana com a vida ressuscitada que ele já iniciou no seu batismo. Deve “buscar as coisas do alto” mais do que qualquer objetivo terreno. Está morto para este mundo e seus objetivos carnais. Vive a vida nova do Espírito Santo que faz com que seus sentimentos e pensamentos sejam os de Jesus Cristo. E Jesus Cristo não buscou glórias nem seguranças terrenas, mas buscou somente a vida sobrenatural eterna na qual entrou por meio de sua paixão e morte de cruz. Não se pode ser verdadeiro cristão se se deseja algo terreno mais do que a vida eterna. É loucura desprezar o que é eterno e preferir o que é terreno e passageiro. de
Prevendo que o mundo ficaria cada vez mais materialista e interesseiro de coisas materiais e fugazes, o famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, no século XX afirmou: “o cristão do século XXI ou será um místico ou não será mais cristão”. E a mística cristã nos põe em contato direto com a vida eterna, desejada acima de todas as coisas porque nela estaremos na visão de Deus e Deus será tudo em todos (cf. 1 Cor 15,28). Isto é expressão pura do primeiro e maior mandamento que é amar a Deus mais do que quaisquer outras realidades.
A Igreja atualmente tem colocado muito seus objetivos no social e dá uma idéia de que o Reino de Deus seria um estado terreno de justiça e direito. Fala-se até em “construir o Reino de Deus” e “trabalhar pela realização do Reino de Deus”. Estas expressões são falsas pois haverá pecado e injustiça até o fim do mundo. Ouçamos as palavras do próprio Senhor: “4Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza. 5Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos. 6Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim. 7Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. 8Tudo isto será apenas o início das dores. 9Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações. 10Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. 11Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. 12E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará. 13Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo. 14Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.” (Mt 24,4-14). Jesus não prevê um mundo de justiça a ser construído pelos seus discípulos, mas vê um mundo dominado pelos falsos profetas, pelos enganadores, pela mentira – satanás é o pai da mentira – onde a caridade esfriará. Onde os cristãos, como Ele mesmo, serão perseguidos, e darão testemunho do Reino que será dado por graça aos que perseverarem até o fim. Para buscar objetivos de direito humano material e de justiça social não é preciso nem mesmo ter fé em Deus. Muitos ateus perseguem estes objetivos. Portanto a mensagem da Igreja inclui a Ressurreição e a esperança do Reino de Jesus Cristo “que não é deste mundo” (cf. Jo 18,36). E a vida espiritual de cada batizado deve estar cheia de desejo desse Reino de Jesus Cristo e sacrificar por ele todos os gozos terrenos. Isto é o que significa: “Felizes os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8). Ver Deus equivale a participar de sua Vida Eterna e esse deve ser o desejo mais forte no coração de cada cristão. Um desejo tão forte que por ele o cristão está disposto a sacrificar a própria vida.