terça-feira, 26 de maio de 2009

Primeiro Domingo de Páscoa

PRIMEIRO DOMINGO DE PÁSCOA – ANO B - 2009

At 10,34a.37-43 – Salmo 117 – 1Cor 5,6b-8 – Jo 20,1-9

Qual a origem do mal no mundo? Deus criou a pessoa humana à semelhança das Pessoas Divinas para que aquelas pudessem conhecer e amar a estas e entrar em comunhão de vida com elas, participando assim da natureza divina. Acontece que esta participação se dá por amor e o amor, por natureza, deve ser livre. Então, ao criar a pessoa humana à imagem de Deus, Deus criou a possibilidade, pela liberdade dada à pessoa humana, de esta rejeitar a comunhão de vida das Pessoas Divinas e querer viver auto-suficientes. Da liberdade dada à pessoa humana veio o pecado e do pecado veio o mal moral.
A Ressurreição de Jesus Cristo representa a realização do plano do Pai, da pessoa humana entrar em comunhão com as Pessoas Divinas. Jesus, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assumiu verdadeiramente a natureza humana e por meio de sua Paixão e Morte levou a carne humana à comunhão da Santíssima Trindade. Segundo São Paulo, se Jesus ressuscitou foi para que nós ressuscitássemos. E se não houvesse ressurreição dos mortos nem Jesus Cristo teria ressuscitado (cf. 1Cor 15,12-23). Somos cristãos para participar da ressurreição de Jesus Cristo. Para isto é que somos batizados. Por isso São Paulo, na Carta aos Colossenses, coloca a ressurreição como um fato passado, usando o verbo “ressuscitar” no passado. E diz: “1Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. 2Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. 3Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. 4Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória” (Cl 3,1-4). O cristão deve, portanto, viver uma relação cotidiana com a vida ressuscitada que ele já iniciou no seu batismo. Deve “buscar as coisas do alto” mais do que qualquer objetivo terreno. Está morto para este mundo e seus objetivos carnais. Vive a vida nova do Espírito Santo que faz com que seus sentimentos e pensamentos sejam os de Jesus Cristo. E Jesus Cristo não buscou glórias nem seguranças terrenas, mas buscou somente a vida sobrenatural eterna na qual entrou por meio de sua paixão e morte de cruz. Não se pode ser verdadeiro cristão se se deseja algo terreno mais do que a vida eterna. É loucura desprezar o que é eterno e preferir o que é terreno e passageiro. de
Prevendo que o mundo ficaria cada vez mais materialista e interesseiro de coisas materiais e fugazes, o famoso teólogo jesuíta Karl Rahner, no século XX afirmou: “o cristão do século XXI ou será um místico ou não será mais cristão”. E a mística cristã nos põe em contato direto com a vida eterna, desejada acima de todas as coisas porque nela estaremos na visão de Deus e Deus será tudo em todos (cf. 1 Cor 15,28). Isto é expressão pura do primeiro e maior mandamento que é amar a Deus mais do que quaisquer outras realidades.
A Igreja atualmente tem colocado muito seus objetivos no social e dá uma idéia de que o Reino de Deus seria um estado terreno de justiça e direito. Fala-se até em “construir o Reino de Deus” e “trabalhar pela realização do Reino de Deus”. Estas expressões são falsas pois haverá pecado e injustiça até o fim do mundo. Ouçamos as palavras do próprio Senhor: “4Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza. 5Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos. 6Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim. 7Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. 8Tudo isto será apenas o início das dores. 9Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações. 10Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. 11Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. 12E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará. 13Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo. 14Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.” (Mt 24,4-14). Jesus não prevê um mundo de justiça a ser construído pelos seus discípulos, mas vê um mundo dominado pelos falsos profetas, pelos enganadores, pela mentira – satanás é o pai da mentira – onde a caridade esfriará. Onde os cristãos, como Ele mesmo, serão perseguidos, e darão testemunho do Reino que será dado por graça aos que perseverarem até o fim. Para buscar objetivos de direito humano material e de justiça social não é preciso nem mesmo ter fé em Deus. Muitos ateus perseguem estes objetivos. Portanto a mensagem da Igreja inclui a Ressurreição e a esperança do Reino de Jesus Cristo “que não é deste mundo” (cf. Jo 18,36). E a vida espiritual de cada batizado deve estar cheia de desejo desse Reino de Jesus Cristo e sacrificar por ele todos os gozos terrenos. Isto é o que significa: “Felizes os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8). Ver Deus equivale a participar de sua Vida Eterna e esse deve ser o desejo mais forte no coração de cada cristão. Um desejo tão forte que por ele o cristão está disposto a sacrificar a própria vida.

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