terça-feira, 26 de maio de 2009

Domingo de Pentecostes

DOMINGO DE PENTECOSTES

At 2,1-11 – Salmo 103 – 1Cor 12,3b-7.12-13 – Jo 20,19-23

A Leitura dos Atos dos Apóstolos é construída como uma negação do episódio da Torre de Babel. Dominados pelo orgulho e desejo de glória, querendo chegar ao céu por seus próprios meios, os homens acabam por não se entender mais. O dom do Espírito Santo, que é Espírito de Unidade, pelo qual as Três Pessoas Divinas são um só Deus, faz os homens entenderem-se de novo, não importando a diversidade dos idiomas. O Espírito Santo é o Espírito da Verdade (cf. Jo 14,17) e a Verdade é a unidade no amor, que faz brotar a Vida. O individualismo, o egoísmo é uma mentira, e por isto, o demônio, que escolheu o orgulho – quer ser Deus fora da comunhão com o Deus único – é chamado de “pai da mentira” (cf. Jo 8,44). Então, uma das principais características do Espírito Santo dado aos Apóstolos e a toda a Igreja é ser o Espírito da Unidade, pelo qual uma pessoa coloca sua felicidade em outra pessoa, e de certa forma, vive nessa outra pessoa. Isto está expresso também no fim do trecho lido da Primeira Carta aos Coríntios, onde se diz que nós todos “fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo”.
Esta carta também nos diz que a fé – e também a esperança e a caridade – são infundidas em nós pela ação do Espírito Santo: “Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3b). E esta afirmação impressionante: “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos” (1Cor 12,6). Isto é, tudo o que fazemos de bom, tudo o que fazemos que agrada a Deus, é Deus que faz por meio de nós. Ou seja, pelo Espírito Santo, Ele habita em nós. Basta querermos fazer a vontade de Deus que Ele virá, o Pai, o Filho e o Espírito Santo – que realiza essa unidade – fazer unidade conosco, habitar em nós. “Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). Como todos se entendem se acolhem o Espírito de Deus, formamos um só corpo, somos uma unidade, em que cada um é como um órgão do corpo todo. Todos os nossos dons não são para nós mesmos só, mas para o bem do corpo inteiro (cf. 1Cor 12,20-27).
No Evangelho temos a primeira manifestação de Jesus Ressuscitado diante de seus Apóstolos. Logo depois de desejar a Paz para eles, Jesus lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”, como para dizer que o fruto de Sua Paixão e Ressurreição, para os Apóstolos e para todas as pessoas é o dom do Espírito Santo. Este dom que gera a Paz no coração dos discípulos, e é por este dom que quem recebe os discípulos de Jesus, O está recebendo e está recebendo também o próprio Pai. Jesus forma uma unidade com os seus discípulos, de forma que se o discípulo perdoa os pecados de alguém é Jesus que está perdoando por meio dele. Jesus vive em seu discípulo que está em comunhão com ele pela unidade do Espírito Santo. Esta última parte é aplicada, em geral, aos discípulos ordenados como os padres e os bispos, que são ministros (cf. 1Cor 12,5), mas o cristão só tem força para perdoar alguém se o Espírito Santo agir nele, se ele se abrir para o Espírito Santo. E todo perdão verdadeiro dado ao irmão é uma transmissão do perdão que se recebeu de Deus. O cristão nada pode dar se não recebeu primeiro de Deus. “João (Batista) replicou: Ninguém pode atribuir alguma coisa a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu”. (Jo 3,27). “Recebestes de graça, de graça dai!” (Mt 10,8c). Também a parábola do rei que quis ajustar contas com seus servos é esclarecedora: “Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos. Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida. Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo: Paga o que me deves! O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei! Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida. Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado. Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração” (Mt 18,23-35). O servo que devia ao rei os dez mil talentos esqueceu-se rapidamente da misericórdia com que fora tratado, não a valorizou e, por esta razão, não teve misericórdia com o seu devedor. Até a misericórdia que temos com o nosso irmão é recebida de Deus. Alegremo-nos com o perdão que recebemos de Deus, que nos tira do inferno e nos leva ao Paraíso e teremos muita misericórdia para dar aos nossos irmãos.

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