Domingo da Sagrada Família
Eclesiástico 3,3-7.14-17a – Salmo 127 – Colossenses 3,12-21 – Lucas 2,41-52
Deus criou a pessoa humana à Imagem das Pessoas Divinas (Genesis 1,27) e por esta razão criou o homem e a mulher, para serem “uma só carne”, imagem da unidade da Santíssima Trindade (Genesis 2,24). Os filhos são da mesma carne dos pais. Daí toda a humanidade constituir uma unidade (isto é importantíssimo para a fé cristã: por causa do pecado dos primeiros pais todos foram condenados; por causa da justiça de Jesus Cristo todos são salvos (Romanos 5,14-15)). A família faz parte, assim, da semelhança divina da pessoa humana. Nós fomos feitos para ser família. Os que querem dominar sobre as pessoas atacam a família para que as pessoas sejam menos do que devem ser, sejam tratadas como “gado”, que é mais fácil de se domar. Daí toda propaganda de homossexualismo, de divórcio, de casamentos homossexuais etc. Tudo isto tende a destruir a família e diminuir o valor da pessoa humana em prol dos que querem ser os dominadores da pessoa humana.
O Livro do Eclesiástico traz um quadro do amor familiar. Digno de nota é que já é antecipado o preceito evangélico de que o amor apaga uma multidão de pecados. Duas vezes se afirma isto: “Quem honra o seu pai (ou mãe), alcança o perdão dos pecados” (Eclesiástico 3,4) e “a caridade feita a teu pai (ou mãe) não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados” (Eclesiástico 3,15-16). Isto está de acordo com o Evangelho, quando diz: “Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (Pr 10,12)” (1Pd 4,8). E também nesta bela passagem de São Lucas: “Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume. Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora. Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele. Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais? Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem. E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés. Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama. E disse a ela: Perdoados te são os pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados? Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz” (Lucas 7,36-50).
A carta aos Colossenses também, depois de um discurso sobre o amor cristão em geral, incluindo o perdão (“perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam” (Mateus 6,12)), que também perdoa nossos pecados, aplica-o, enfim à família, começando pelas esposas, passando pelos maridos e chegando enfim aos filhos. E traz um princípio de vida cristã irretocável: “Tudo o que fizerdes, por palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo” (Colossenses 3,17). Afinal, se somos membros de Jesus Cristo, unidos a Ele pelo Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é Ele que faz em nós as obras que agradam a Deus. Diz São Paulo: “Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive
O Evangelho, porém traz um elemento que está acima de toda consideração de família, por mais nobre que seja a família humana. Antes de tudo somos filhos de Deus e os nossos pais terrenos foram apenas instrumentos de Deus para a nossa geração e educação. Por isso, Jesus Cristo, já aos doze anos, coloca a paternidade de Deus acima do afeto a seus pais. “Ao vê-lo seus pais ficaram muito admirados e sua mãe lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu estávamos angustiados à tua procura’. Jesus respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’. Eles, porém não compreenderam as palavras que lhes dissera. Jesus desceu então com seus pais para Nazaré e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, conservava no seu coração todas essas coisas” (Lucas 2,48-51). Jesus colocava o Pai Celeste à frente de seus pais terrestres, mas nem por isso deixava de ser-lhes obedientes. Alguns santos, como São Tomás de Aquino e São Francisco de Assis, e outros, encontraram em seus pais obstáculos para os planos de Deus em suas vidas. Daí preferiram entrar em conflito com seus pais do que deixar de ser fiéis a Deus em suas consciências.
Duas vezes Lucas refere-se à Virgem Maria como mulher de contemplação das maravilhas de Deus. “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lucas 2,19.51). Isto nos permite matizar as dores de Maria. Ela tinha plena confiança em Deus, não fosse ela Imaculada, sem pecado original. Daí sua angústia na perda do menino aos doze anos e na Cruz, durante a Paixão de seu Filho, ser uma contemplação do que Deus queria com todos aqueles acontecimentos. Se Maria é Nossa Senhora da Paz, se é Nossa Senhora da Consolação, é certo que não se desesperou nem na perda de seu Filho aos doze anos nem durante a Paixão. Procurava, claro, o que Deus, Seu Esposo verdadeiro, queria com todos esses acontecimentos. Nem sempre ela entendia tudo, mas confiava plenamente e não se desesperava. A verdadeira imagem de Nossa Senhora das Dores não é a de uma desesperada, o que não combina com a Imaculada Conceição, mas com uma contemplativa. Isto é também um exemplo para os pais que perdem os seus filhos antes de sua morte. Devem confiar que Deus ama os seus filhos com um amor infinito e cheio de misericórdia, e ama muito mais que somando o amor de todos os parentes e amigos juntos. Deus é Amor Infinito.
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