Imaculada Conceição de Maria Santíssima
Genesis 3,9-15.20 – Salmo 97 – Efésios 1,3-6.11-12 – Lucas 1,26-38
Os dons de Deus superam o tempo. A Igreja Católica ensina que Maria foi concebida sem pecado original – e é verdade – em vista dos méritos futuros da Paixão e Morte de Jesus Cristo. Jesus disse aos seus apóstolos: “Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei” (Jo 16,7). Como então o Espírito Santo encheu Isabel e João Batista quando Maria visitou Isabel logo após a Anunciação? “Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio” (Lucas 1,41-44). E que como dizemos no Credo Niceno-constantinopolitano quando falamos do Espírito Santo “foi Ele que falou pelos profetas”? Os profetas falavam por meio do Espírito Santo? Então Jesus Cristo devia dar sua vida pela humanidade porque o dom de sua Paixão, que é o Espírito Santo, já havia sido dado. Por isso era preciso que se cumprissem as Escrituras. Como Jesus ensinou aos discípulos de Emaús: “Jesus lhes disse: Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória? E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (Lucas 24,25-27).
A Leitura do Livro do Genesis denuncia como, após o pecado, a pessoa humana foge de Deus e não O ama, a não ser pela ação do Espírito Santo. A pessoa humana, homem e mulher se escondem de Deus, como se isso fosse possível (v. 10). Mas a parte mais importante está no v. 15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te esmagará a cabeça e tu tentarás morder-lhe o calcanhar”. A inimizade é entre a serpente, satanás e a mulher, concebida sem pecado original. Esta inimizade é que explica como os maus perseguem os bons e porque Jesus morreu na Cruz e houve tantos mártires na Igreja. Os filhos das trevas não suportam os filhos da luz.
No Evangelho de hoje temos que o Anjo Gabriel nem chama Maria pelo nome. Refere-se a ela como “cheia de graça” (kekaritomene, no grego). É um dos principais títulos marianos. A graça é um dom divino, que continua a pertencer a Deus, mas é doado para o bem das criaturas de Deus. Maria é cheia de graça porque não toma posse da graça, como nós, que dizemos que o corpo é nosso, a vida é nossa. Tudo nela pertence a Deus. Daí ela não apresentar a menor resistência a Deus e haver um pleno casamento entre Maria e o Pai de Jesus Cristo. Há uma comunhão perfeita. Os protestantes dizem que Deus praticou uma “barriga de aluguel” em Maria, e que após conceber Jesus ela teve outros filhos com José. Isso é impossível. Os ditos “irmãos de Jesus” aparecem em outras passagens com outras mães, que não são Maria Santíssima. E, ao pé da Cruz é João que leva Maria para casa (João 19,27) e não seus filhos. Se Maria tivesse outros filhos não iria para a casa de um discípulo de Jesus.
São Luís Maria Grignion de Montfort errou em seus escritos ao dizer que o Espírito santo é o esposo de Maria, pois o Anjo Gabriel se refere ao Espírito santo e não ao Pai, quando fala a Maria. Se o Espírito Santo fosse o esposo de Maria seria o Pai de Jesus Cristo, mas a Primeira Pessoa da Trindade é que é o Pai e não a terceira. O Espírito santo deve ser entendido como o Espírito que realiza a comunhão de vida entre as pessoas. Maria é toda de Deus e Deus se dá todo a Maria. Por isso diz-se que “a sombra do Espírito Santo veio sobre Maria” (v. 35). Para uni-la ao Pai e o Filho ser ao mesmo tempo Filho de Deus – pelo Pai – e filho do homem – por Maria.
Jesus ensinou: “Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,26-27). E também: “Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,33). Por isso, a Consagração total dos dons da pessoa a Maria, que nada retém para si, por ser “cheia de graça”; na verdade, consagrar-se a Maria é consagrar-se a Deus pela união íntima entre Maria e Deus. Nesta doutrina, São Luís Maria Grignion de Montfort acertou. A Consagração a Maria é uma forma de viver essa renúncia que Jesus Cristo pede no Evangelho. O que se dá a Deus é de Deus, não é mais nosso. Por esta razão a Consagração total a Maria é caminho de ser discípulo de Jesus Cristo. Podemos, por isso, também ser “cheios de graça” como a nossa Mãe Santíssima.
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