sexta-feira, 2 de abril de 2010

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

5.º Domingo da Quaresma

Quinto Domingo da Quaresma

Isaias 43,16-21 – Salmo 125 – Filipenses 3,8-14 – João 8,1-11

As Leituras de hoje põem a misericórdia de Jesus em oposição à Lei, que condena sempre. A Leitura de Isaias já diz: “Não fiqueis a lembrar coisas passadas, não vosa preocupeis com acontecimentos antigos. Eis que vou fazer uma coisa nova, ela já vem despontando, não a percebeis?” (Isaias 43,18-19). As coisas antigas são a Lei. A coisa nova é a misericórdia de Jesus Cristo. Na Leitura da Carta aos Filipenses temos o mesmo pensamento: “esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3,13-14). São Paulo o recorda no mesmo capítulo da Carta, que foi perseguidor da Igreja e prendeu muitos cristãos inocentes, sendo responsável até pela morte de alguns. Mas quando recebe o batismo e tem os pecados perdoados entrega-se a Jesus Cristo de uma tal e radical maneira que diz “que nada lhe pesa na consciência” (2Timóteo 1,3). “Nós, porém, sentimo-nos na obrigação de incessantemente dar graças a Deus a respeito de vós, irmãos queridos de Deus, porque desde o princípio vos escolheu Deus para vos dar a salvação, pela santificação do Espírito e pela fé na verdade. E pelo anúncio do nosso Evangelho vos chamou para tomardes parte na glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Tessalonicenses 2,13-14). Ou seja, é pela misericórdia de Deus, por graça que todos temos a esperança da salvação. Se o Reino de Deus fosse um reino de justiça e não de misericórdia quem sobreviveria? “Se tiverdes em conta nossos pecados, Senhor, Senhor, quem poderá subsistir diante de vós? Mas em vós se encontra o perdão dos pecados, para que, reverentes, vos sirvamos” (Salmo 129,3-4).

A misericórdia de Jesus Cristo é ilustrada de forma magistral no Evangelho. Como podemos condenar alguém se nós somos salvos pela misericórdia de Deus? A lei de Moisés mandava apedrejar os homens também pois ninguém comete adultério sozinho. “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra!” (João 8,7). Ninguém atirou e foram-se retirando a começar pelos mais velhos. Diante de ninguém ter condenado a adúltera, Jesus também diz: “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais.” (João 8,11).

Estas frases servem para nós. Se é por misericórdia que temos esperança, como podemos “atirar pedras” em alguém? E a misericórdia de Jesus Cristo que não castiga, mas liberta totalmente? Preocupamos-nos demais e muitas vezes carregamos consciência pesada porque queremos apoiar-nos em nossos próprios atos e não na misericórdia de Deus, que é tão grande. Se temos esperança, é pela enorme misericórdia de Deus. Não é tão fácil se confessar ao padre? Só não confessam os orgulhosos, os que dizem que o padre é um pecador como eles. O que queriam que descesse um anjo do Céu para confessá-los? Quem perdoa é que dá as condições do perdão. E Jesus Cristo disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados. Aqueles aos quais o retiverdes ser-lhes-ão retidos” (João 20,22-23).

sexta-feira, 12 de março de 2010

4.º Domingo da Quaresma

QUARTo Domingo da Quaresma – Ano C - 2010

Josué 5,9a.10-12 – Salmo 33 – 2Coríntios 5,17-21 – Lucas 15,1-3.11-32

O tema da Liturgia de hoje é a Páscoa, como passagem de um estado de morte para um estado de vida. A oração antes das leituras, mais uma vez dá o tom: “Ó Deus, que por Vosso Filho realizais de modo admirável a reconciliação do gênero humano (Páscoa), concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam, cheio de fervor exultando de fé”.

A Leitura do Livro de Josué traz a troca da escravidão do Egito pelo dom da terra de Israel, e o povo come dos frutos da terra de Israel. A troca da escravidão do Egito pelo dom da terra de Israel é a Páscoa do povo judeu.

O Salmo 33 é um salmo de grande confiança em que o infeliz clama a Deus e é ouvido, libertando-se de todos os seus temores (morte e desgraça) e bendiz ao Senhor que o ouviu: “Provai e vede quão suave é o Senhor!”.

A Leitura da Segunda Carta aos Coríntios fala da novidade da pessoa renovada pela Páscoa: “Se alguém está em Cristo Jesus, é uma criatura nova” (2Coríntios 5,17). E reflete sobre a reconciliação entre Deus, que é a Vida, e a pessoa humana, aproximada assim da Vida Eterna. “Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que n’Ele nós nos tornemos justiça de Deus” (carregando como Ele a nossa Cruz) (2Coríntios 5,21).

No Evangelho de Lucas temos a parábola do Pai Misericordioso que faz festa para o filho que tudo perdera, e perdera a própria companhia do Pai, preferindo o mundo com suas atrações. O Pai diz ao filho mais velho: “Mas era preciso festejar e alegrar-nos porque esse teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado” (Lucas 15,32).

A Páscoa é o resultado da ação maravilhosa de Deus que busca a ovelha perdida, morta, para dar-lhe vida. A vida aparece sempre que há o arrependimento e uma conversão a Deus, motivado pela infinita misericórdia de Deus, nosso Pai. O filho mais novo da parábola nem pensava em ser novamente filho, queria ser tratado como um dos empregados do Pai e, surpresa, é tratado melhor do que antes de sua saída. Isto para sabermos como Deus se alegra em recuperar o pecador arrependido. Deveríamos sair do confessionário felizes da vida, dançando e cantando. “Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15,7).

quinta-feira, 4 de março de 2010

3.º Domingo da Quaresma

TERCEIRo Domingo da Quaresma – Ano C - 2010

Êxodo 3,1-8a.13-15 – Salmo 102 – 1Coríntios 5,17-21 – Lucas 13,1-9

A Oração antes das Leituras dá uma linha para a interpretação das Leituras: “Ó Deus (nosso Pai), fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão de nossa fraqueza para que humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia”.

A Leitura do Livro do Êxodo traz a vocação de Moisés. O próprio Moisés se sentia aquém da missão de libertar o povo do Egito. Se tomarmos os versículos que a Leitura salta, veremos Moisés dizer: “Quem sou eu para ir ao Faraó e fazer sair do Egito os filhos de Israel? Deus disse: ‘Eu estarei contigo; e sete será o sinal de que eu te enviei: quando fizeres o povo sair do Egito, vós servireis a Deus nesta montanha’.” (Êxodo 3,11-12). Esse serviço a Deus na montanha nunca se deu pois o povo construiu um bezerro de ouro e disse que foi o bezerro que os libertou do Egito, numa terrível idolatria contra Deus. Por esta razão, Moisés quebrou as Táboas da Lei, com os Dez Mandamentos, sobre o bezerro de ouro. Mas Deus acabou perdoando o povo, em sua enorme misericórdia. Até Moisés se sentiu incapacitado para a sua missão e o remédio é sempre a presença de Deus. Deus lhe responde: “Eu estarei contigo” (Êxodo 3,12). A presença misericordiosa de Deus é a nossa salvação. Felizes os que, como Abraão, andam na presença de Deus. “Porque, se Abraão foi justificado em virtude de sua observância, tem que se gloriar; mas não diante de Deus” (Rm 4,2). “Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4,10). “Que ele confirme os vossos corações, e os torne irrepreensíveis e santos na presença de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos!” (1Ts 3,13). “Cornélio fixou nele os olhos e, possuído de temor, perguntou: Que há, Senhor? O anjo replicou: As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança” (At 10,4).

A Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, Jesus Cristo é a misericórdia de Deus. A “rocha” da qual brotou a água para todos beberem era Cristo. Mesmo tratados com misericórdia o povo não agradou a Deus e muitos morreram no deserto. Também não devemos murmurar. O que é murmurar? É ir contra as disposições divinas que se observam nas nossas vidas e interpretar as coisas como sorte ou azar quando estamos todos sob a amorosa providência de Deus. Em dias de calor é muito comum observar as pessoas murmurando ao dizer que está muito calor. É melhor viver um dia de calor do que morrer antes de sentir o calor: cada dia é uma graça de Deus para nós. E toda a graça de Deus deve merecer o nosso agradecimento e não a nossa reclamação. A mesma coisa se está frio.

No Evangelho Jesus nos diz que as vítimas de acidentes não são mais pecadoras do que todos os outros como se fosse um castigo que se abateu sobre elas. Os acidentes não são castigos divinos. Nem obra de azar. Nós que escapamos de tantos acidentes devemos fazer penitência para que nosso destino eterno não seja comparável a um acidente desses. O vinhateiro da parábola é Jesus Cristo, que derrama graças sobre nós para que nós demos fruto e agrademos a Deus, Nosso Senhor. Só aqueles que se recusam a dar frutos diante da graça de Jesus Cristo é que são condenados, os que se aferram ao pecado e dele não querem se libertar nem fazer penitência.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

2.º Domingo da Quaresma

segundo Domingo da Quaresma – Ano C - 2010

Genesis 15,5-12.17-18 – Salmo 26 – Filipenses 3,17-4,1 – Lucas 9,28b-36

Todas as religiões de superstição buscam a sorte contra o azar. Muitos pedidos de bênçãos também tem esta mentalidade: trazer sorte e afastar o azar. Até entre católicos existe a idéia de bênção como sorte contra o azar. Mas a nossa fé não se relaciona com a sorte e o azar, mas traz uma transfiguração do mal em bem. O principal tema deste domingo de quaresma é exatamente como da morte surge a vida, ou seja, a morte é transfigurada em vida. Jesus Cristo disse que bem-aventurados são os pobres, os que choram, os perseguidos, os que perdoam e não se vingam. Ou seja, inverteu todos os desejos humanos. Para Jesus é bem-aventurado os que dependem mais de Deus e tem menos consolação nas criaturas.

A Leitura do Genesis traz uma “transfiguração”. Abrão acredita em Deus que dará uma terra a seus descendentes. Deus estabelece uma Aliança com Abrão, antes ainda de mudar seu nome para Abraão.

O Salmo faz uma profissão de fé em Deus como luz e salvação e auxílio do que crê. Para além da morte há a terra dos viventes que o Salmo celebra, onde se verá a bondade do Senhor.

A Leitura da Carta aos Filipenses é onde São Paulo lamenta os que são inimigos da cruz de Jesus Cristo e só pensam nas coisas terrenas e não crêem nas coisas eternas. E diz: “Nós porém, somos cidadãos do Céu. De lá aguardamos o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará (transfigurará) o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Filipenses 3,20-21).

O Evangelho de Lucas, alguns afirmam que Jesus tinha a intenção de animar os discípulos para que não desanimassem por causa da paixão. Não concordamos com essa opinião. Porque, então, Jesus não chamou todos os Apóstolos. E sabemos que esse objetivo não foi conseguido, pois Jesus foi preso e todos os Apóstolos se dispersaram. Só João acompanhou Jesus até à Cruz. Aparecem Moisés e Elias, dois grandes profetas do Antigo Testamento e conversam com Jesus sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém. Esta cena parece bastante com a agonia no Horto das Oliveiras. Jesus ali está sofrendo, mas aos olhos do Pai está triunfante como na montanha. Os discípulos estão com sono nas duas cenas e são os mesmos discípulos. O Pai do Céu afirma na montanha que Jesus é o seu Filho amado, que deve ser escutado pelos homens.

A Cruz de Jesus Cristo era um instrumento de tortura, mas Jesus a transfigurou num símbolo de amor. O presépio em que Jesus nasceu ficou bonito por causa da grande humildade e pequenez de José e de Maria. Definivamente a fé cristã é transformar o mal em bem. Todos os mártires transformaram a sua morte em entrada na glória de Deus. É interessante o caso de Santa Maria Goretti. Tinha ela apenas doze anos e um rapaz de 19 anos, Alessandro Serenelli, a quis estuprar. Não conseguindo, enfiou-lhe um punhal no abdômen subindo até o tórax. Maria sobreviveu até o dia seguinte. Quando o padre veio perguntou-lhe se Maria tinha perdoado o rapaz que lhe tinha dado a punhalada. Ela respondeu: - Já o perdoei e quero-o muito perto de mim no Paraíso. Maria transfigurou a maldade do seu agressor pelo perdão e desejo de salvação para ele. Depois de passar trinta anos preso pelo seu crime, Alessandro foi libertado e se tornou um homem de bem, tornando-se até frade passionista, realizando o desejo de Maria Goretti. Assim também Santo Estevão morreu perdoando seus agressores e conseguiu o grande milagre da conversão de São Paulo, que concordava com a sua morte e se tornou um dos mais ardorosos Apóstolos de Jesus Cristo. O seguinte poema ilustra a idéia da transfiguração:

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

Tanta beleza há no mundo

E também tanta bondade.

Sabemos que tudo, no fundo,

Traz nossa felicidade!

Por isso, passamos a crer

Que tudo o que acontecer

Serve p’ra gente crescer! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

Houve um menino, do qual

Os pais, ninguém quis receber

E só encontraram um curral

Para o menino nascer!

Nem vimos cena daquela

Anjos, pastores e estrela

E humildade, que coisa mais bela! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

O filho cresceu bem criado.

Mostrou ser o Filho de Deus,

Mas logo foi odiado

Pelos que eram dos seus!

Na cruz, o prenderam e morreu,

E essa cruz na qual padeceu

Em prova de amor converteu! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!

Para reverter mal em bem,

Façamos sempre oração:

Só Deus, que é Pai, é que tem

Poder de transformação!

Então pedimos, Senhor,

Saber p’ra tirar paz da dor,

Mudando o ódio em amor! (bis)

Precisamos aprender

Que mesmo do mal e da dor,

O bem pode aparecer

Se ao mal respondermos com amor!


1.º Domingo da Quaresma

Primeiro Domingo da Quaresma – Ano C - 2010

Deuteronômio 26,4-10 – Salmo 90 – Romanos 10,8-13 – Lucas 4,1-13

Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres. Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: Então não pudestes vigiar uma hora comigo... Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade! Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Voltou então para os seus discípulos e disse-lhes: Dormi agora e repousai! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores...” (Mateus 26,36-45).

Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Esta frase resume o que a Liturgia da Palavra deste domingo quer dizer. Vigiar é estar atento ao que a Palavra de Deus diz para não se envolver em situações de pecado. Orar é elevar o coração a Deus pelo amor e isso também fortalece contra o pecado.

Jesus replicou-lhe [a Nicodemos]: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não poderá ver o Reino de Deus. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer do Alto.” (João 3,3-7). Aqui Jesus diz que é necessário nascer pelo Espírito porque a carne é fonte de pecado. Quem nasce do Espírito é filho de Deus. Porque não nasceu da carne, nem do sangue, mas de Deus mesmo (cf. João 1,13).

A Leitura do Deuteronômio traz o Credo de Israel. O arameu errante é Jacó, a quem Deus mudou o nome para Israel (aquele que luta contra Deus) e por esta razão os descendentes de Jacó são chamados “os filhos de Israel”. O Credo de Israel traz a Páscoa dos judeus, a libertação do Egito, como o nosso traz a nossa Páscoa, a Morte e a Ressurreição de Jesus e sua subida aos céus.

O Evangelho traz as três tentações de Jesus no deserto. Assim como a Eva, o demônio quer seduzir Jesus pelas tentações de poder. A Eva, desmentiu Deus e disse que ela não morreria, mas que se comesse o fruto da “árvore do bem e do mal” tornar-se-ia igual a Deus, senhora do bem e do mal, o que é uma mentira, pois Deus só faz o bem e nunca o mal. Por isso Jesus chama o demônio de mentiroso e pai da mentira (cf. João 8,44). Mas Jesus rejeita a três tentações de satanás. A primeira é a tentação de poder sobre a natureza em proveito próprio. Jesus Cristo nunca fez um milagre em proveito próprio: todas as suas maravilhas foram em favor de outras pessoas. A segunda tentação é a do poder político. Depois da multiplicação dos pães quiseram que Jesus fosse feito rei. “Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte” (Jo 6,15). Jesus só aceita o que lhe for dado pelo Pai. Após a sua Ressurreição, “Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28,18). Foi dada pelo Pai. Quantos políticos se prostram diante de satanás com mentiras e enganos para crescerem em poder!

A terceira tentação é fazer do Pai um servidor de Jesus. O diabo o tenta a que o Pai faça milagres quando Jesus quer. Jesus responde que não é correto tentar a Deus. Mas muitos fazem isso: os pastores de seitas dizem às pessoas para pararem de tomar os remédios porque Deus as irá curar, e isso já foi causa, até de morte, para alguns que pararam de tomar os indispensáveis remédios, que também são uma graça de Deus. Em certas igrejas de seitas estampam cartazes como este: “terça-feira de milagres”, ou seja, Deus deve fazer milagres quando o pastor decide que deve fazer, no dia em que o pastor decide. De sorte que o poder fascina as pessoas humanas, mas não seduziu Jesus, para quem tudo é obediência à vontade do Pai. Até a vontade de viver é uma vontade de poder.

A Leitura da carta aos Romanos que a Liturgia apresenta hoje é muito apreciada pelos protestantes, mas entra em conflito com algumas coisas do Evangelho. São Paulo fala muito em confessar Jesus como Senhor “com a boca”. Ora não adianta nada crer que Jesus é o Filho de Deus, que é o Messias, que ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus, de onde voltará no último dia, se não o tomarmos como o nosso “caminho”. “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. E vós conheceis o caminho para ir aonde vou. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho? Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai...” (João 14,1-9). Não se pode ir ao Pai a não ser pelo caminho que Jesus trilhou: o caminho da Cruz. Crer em Jesus Cristo é também crer no caminho da santa cruz. “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?... Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras” (Mateus 16,24-27). Renunciar a si mesmo é renunciar ao poder e deixar-se conduzir pelo Pai, como Jesus o fez.

Jesus também disse, em contraste com São Paulo neste trecho da Carta aos Romanos: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Certamente na mente de São Paulo, tudo isto que afirmamos estava presente. É ele mesmo que afirma: “Porque os verdadeiros circuncisos somos nós, que prestamos culto a Deus pelo Espírito de Deus, e pomos nossa glória em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. No entanto, eu poderia confiar também na carne. Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreus. Quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível. Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele. Não com minha justiça, que vem da lei, mas com a justiça que se obtém pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus pela fé. Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Filipenses 3,3-14). Por isto damos razão a São Paulo e nunca o colocaremos em contraste com o Senhor Jesus Cristo como os Evangelhos nos mostram.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quarta-feira de Cinzas

Quarta-feira de Cinzas

Joel 2,12-18 – Salmo 50 – 2Coríntios 5,20-6,2 – Mateus 6,1-6.16-18

A Quaresma surgiu quando toda a comunidade se unia aos catecúmenos que faziam, como Jesus ao início de sua missão, quarenta dias de penitência. Na Páscoa os catecúmenos recebiam o batismo, o crisma e a Eucaristia e toda a comunidade renovava o seu batismo. Por isto a Quaresma é um tempo de penitência.

A leitura do profeta Joel tem um trecho onde se diz: “Quem sabe se Ele se volta para vós e vos perdoa...” (Joel 2,14). Jesus Cristo é a Misericórdia de Deus para os pecadores. Aproximou-se dos pecadores para mostrar-lhes o amor de Deus e foi duramente criticado por isto, pelos fariseus, que dividiam a humanidade em “justos” (eles mesmos) e “pecadores”. Eles se consideravam justos porque se submetiam a um certo número de ritos no Templo de Jerusalém e nas sinagogas. Jesus porém ensinou à samaritana que Deus é Espírito e em espírito e verdade deve ser adorado, ou seja, na caridade da vida real. Os fariseus se sabiam pecadores, tanto é que quando Jesus diz: “Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra”, ninguém atirou e foram saindo todos a começar pelos mais velhos (João 8,1-11). Deus deve ser amado na vida cotidiana e não só através de ritos: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). O Salmo é a penitência de Davi depois do pecado com a mulher de Urias e a morte deste. Jesus é o Pastor que procura a ovelha perdida e dá sua vida pelas suas ovelhas. Mostrou a grande alegria no Céu por um só pecador que se converte: “Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15,7).

A Segunda Leitura também é um convite à penitência e à reconciliação com Deus, baseado na misericórdia de Jesus Cristo, que “não cometeu nenhum pecado e Deus o fez pecado por nós, para que n’Ele nós nos tornássemos justiça de Deus” (2Coríntios 5,21). Deus é sumamente misericordioso e se nós não nos salvarmos com um Deus tão bom é devido ao nosso próprio orgulho e concupiscência.

Das criaturas não devemos esperar nada. A recompensa que vem das criaturas não dá vida eterna. Só a que vem de Deus dá vida eterna. O Evangelho recomenda para a quaresma três atitudes: oração, esmola e jejum. Jesus Cristo recomenda que tais atitudes não sejam feitas na frente dos homens porque a recompensa deles é pura vaidade. A recompensa de Deus para os penitentes é vida eterna. Qual é melhor? O sucesso na terra, que acaba com a morte, ou uma vida que nunca mais se acabará? Então o Evangelho de hoje é muito espiritual pois nos coloca numa relação direta com Deus, exigindo que façamos tudo sob os olhares do Pai Eterno e não dos homens.

Um bom teste para a Quaresma é verificar se estamos fazendo tudo para agradar a Deus ou se estamos fazendo as coisas para agradar aos homens. Só se estivermos fazendo tudo para a gradar a Deus é que estraemos bem preparados para renovar o nosso batismo na Páscoa. Pelo batismo, morremos para este mundo e vivemos para Deus. “Então que diremos? Permaneceremos no pecado, para que haja abundância da graça? De modo algum. Nós, que já morremos ao pecado, como poderíamos ainda viver nele? Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição. Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo (outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado. (Pois quem morreu, libertado está do pecado.) Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele, pois sabemos que Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá mais domínio sobre ele. Morto, ele o foi uma vez por todas pelo pecado; porém, está vivo, continua vivo para Deus! Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Romanos 6,1-11).

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

6.º Domingo Comum

Sexto Domingo do Tempo Comum

Jeremias 17,5-8 – Salmo 1 – 1Coríntios 15,12.16-20 – Lucas 6,17.20-26

A Oração antes das Leituras já dá uma pista de interpretação das leituras: “Ó Deus, nosso Pai, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, daí-nos, por vossa graça, viver de tal modo que possais habitar em nós”.

A Leitura de Jeremias precisa ser matizada. Não há sociedade sem confiança mútua entre as pessoas. O que Jeremias quer é dizer que a confiança total da nossa vida não pode repousar em pessoa nenhuma, mas só em Deus. O filho precisa confiar no pai. O empregado precisa confiar no patrão. Acontece que a confiança mais profunda deve ser dada a Deus, o Senhor. As pessoas podem nos trair, como Jesus confiou em Judas chamando-o para ser até apóstolo e ele depois o traiu. É a cruz de cada um. Nem sempre a confiança depositada nas pessoas é correspondida. Isto tem a ver com o Evangelho de hoje. É uma interpretação que corresponde ao Evangelho de hoje.

A Leitura da Primeira Carta aos Coríntios quer rejeitar os que não acreditam na ressurreição da pessoa humana. E conclui: se Jesus Cristo não ressuscitou vã é a nossa fé e a nossa esperança. “Mas na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Coríntios 15,20). Como primícias dos que morreram significa que depois d’Ele muitos outros ressuscitarão, no fim dos tempos.

O Evangelho de Lucas coloca como desgraçados todos os que têm motivos para rir, os ricos, os que tem fartura, os que riem, e os que são elogiados, e chama bem-aventurados os sofredores, os pobres, os famintos, os que choram, os odiados e os perseguidos. Por que esta contradição? Porque as pessoas que podem contar com as criaturas geralmente se deleitam nelas e esquecem de Deus. Os pobres, os famintos, os que choram, os odiados e os perseguidos não podem contar com ninguém, só com Deus e aí caem na Verdade. Toda a Verdade das Sagradas Escrituras querem nos transmitir apenas isto: a pessoa humana é profundamente dependente de Deus. Após o pecado original quis se apoiar nas criaturas, mas nem por isto deixa de depender totalmente de Deus, que deu esta vida mortal e é o único que pode dar vida imortal. Por esta razão, Jesus Cristo mostrou muito poder durante sua missão curando cegos, mudos, surdos, aleijados, acalmando até o mar e os ventos, multiplicando os pães, transformando água em vinho, expulsando demônios etc. Mas nos salvou quando nada disso fez, e ficou sem ação na Santa Cruz, somente esperando a ação vivificadora do Pai, que ao terceiro dia de sua morte deu-lhe a ressurreição e a glorificação. Por esta razão, o Evangelho tem relações com a Primeira Leitura, o Salmo e a Segunda Leitura também.

5.º Domingo Comum

Quinto Domingo do Tempo Comum

Isaias 6,1-2a.3-8 – Salmo 137 – 1Coríntios 15,1-11 – Lucas 5,1-11

A Leitura de Isaías traz a vocação deste profeta. Traz algumas curiosidades como a razão porque se representam os anjos com asas e a origem do Santo, Santo, Santo, na Missa. Mas o que mais importa é que Isaías tem seu pecado perdoado e logo se apresenta para ser enviado por Deus: “Aqui estou: envia-me” (Isaias 6,8). Nós também somos perdoados em nosso batismo do pecado original e dos pecados atuais, se formos adultos e o batismo nos marca com três características de Jesus Cristo: sacerdote, profeta e rei. Sacerdote porque devemos sempre nos oferecer a Deus; profeta, porque como Isaías de nossa boca deve sair a Palavra de Deus; e rei porque, despegados de tudo e de todos, nenhuma criatura deve impedir nosso caminho para Deus. Aqui se destaca que se fomos perdoados temos de falar da misericórdia de Deus para todos: isso é ser profeta de Jesus Cristo.

No Salmo se diz que “ante o vosso templo vou prostrar-me”. Qual é o templo verdadeiro do Novo Testamento? É o corpo humano. Então a nossa fé é toda voltada para servir à pessoa humana. Por hipótese, se uma pessoa que nunca vai à Missa, cotidianamente se coloca ao serviço dos outros, esquecendo-se de si mesma, essa pessoa é aprovada por Deus, porque parece-se com as pessoas divinas que vêm para servir e não ser servidas. Jesus mesmo prostrou-se diante de seus apóstolos e até de Judas Iscariotes para lavar-lhes os pés. Isto nos leva a falar do dízimo. A doação do dízimo mensal não tem a sua origem no Antigo Testamento, porque ali o Templo era uma casa de pedra. Tem origem nos Atos dos Apóstolos onde se diz: “punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um” (Atos 2,44-45). Hoje, devemos dizer que o dízimo de cada cristão, como naquele tempo é 100% de seus vencimentos. Aliás tudo o que temos pertence a Deus e somos só seus administradores. Não pomos todos os nosso bens aos pés dos Apóstolos, mas vivemos nossa vocação: quando um pai ou mãe de família compra comida ou remédios para os filhos e paga escola para os filhos está fazendo o que Deus quer, segundo a sua vocação matrimonial. Quando paga impostos também. Então, se o templo da Nova Aliança é a pessoa humana, tudo o que se faz para promovê-la é importante. “Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40). Como no Evangelho de hoje, São Pedro se prostra aos pés de Jesus, que é o verdadeiro templo. Por união a Ele, pelo Espírito santo recebido no batismo, também nós somos templos de Deus.

A Leitura da carta aos Coríntios traz hoje uma catequese sobre a ressurreição de Jesus Cristo, referindo-se a uma aparição que não aparece nos Evangelhos: de uma vez só Jesus apareceu a mais de quinhentos irmãos. São Paulo acha-se indigno de ser chamado Apóstolo pois perseguiu a Igreja. Mas corrige e diz: “É pela graça de Deus que eu sou o que sou” (1Coríntios 15,10). Nós também, tudo o que somos é pela graça de Deus que o somos. Não existe “direitos humanos”, tudo é graça divina. Existe, sim, dever humano, que é obedecer a Deus em tudo o que Ele determina. Se obedecemos a Deus, tudo se torna paz para nós. O pecado está em desobedecer a Deus e daí é que vem todas as desordens.

O Evangelho de hoje é um caminho catecumenal. A multidão se aglomera em torno de Jesus para ouvir a Palavra de Deus. E Jesus lhes fala da barca de Simão Pedro, ou seja, pelo Papa, que define a fé. “Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és a Pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16,15-18). São Pedro é a pedra da verdade. Define a verdadeira doutrina da Igreja. Por esta razão, Jesus ensina da barca de São Pedro. A partir da audição da Palavra de Deus vem a obediência. São Pedro era um pescador experimentado. Tinha pescado a noite inteira e nada tinha pescado. Mas “em atenção à palavra de Cristo” (Lucas 5,5) vai de novo ao lago e pesca grande quantidade de peixes. Da obediência à Palavra passa-se à caridade: chamam os pescadores da outra barca para dividirem os peixes. Daí se passa à penitência: diante da maravilha realizada por Jesus, São Pedro reconhece que é um homem pecador e diz a Jesus Cristo para afastar-se dele. Nenhum catecumenato é autêntico se não faz a pessoa se perceber pequena e sem valor diante de Deus, e levar a pessoa a espontaneamente pedir perdão a Ele. Só que no mesmo ato São Pedro se atira aos pés de Jesus, reconhecendo n’Ele uma maravilha de Deus. E Jesus responde: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens” (Lucas 5,10). A partir daí os Apóstolos deixam tudo e seguem a Jesus, que é o têrmo do catecumenato. O que é “deixar tudo”? É saber que todas as coisas são relativas e só a procura de Deus é Absoluta. Toda relação com as criaturas é relativa e pode ser “deixada de lado”, mesmo a relação com pai ou mãe. Só a relação com Deus é Absoluta e nos dá vida eterna, salvando-nos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

4.º Domingo Comum

QUARTo Domingo do Tempo Comum – Ano C

Jeremias 1,4-5.17-19 – Salmo 70 – Primeira Carta aos Coríntios 12,31-13,13 – Lucas 4,21-30

A Oração antes das Leituras, mais uma vez nos dá uma sugestão do tema das Leituras: “Concedei-nos, Senhor nosso Deus, adorar-vos de todo o coração, e amar todas as pessoas com verdadeira caridade”. O tema de hoje é o amor a Deus, nosso Criador e o amor à Verdade. Jesus disse: “Eu sou a Verdade” (João 14,6).

A Leitura de Jeremias traz o amor de Deus por Jeremias profeta, antes até de formá-lo no ventre materno. O amor de Deus elimina o nosso medo. De fato, se há a ressurreição para os que estão na graça de Deus para que ter medo, até da morte? Deus está do lado do seu profeta, de modo que os inimigos não prevalecerão. Também para São Paulo: “Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31).

A vida cristã se caracteriza antes de tudo por uma enorme ação de graças a Deus Criador e isto é o que afirma o Salmo de hoje. Estar em ação de graças a Deus é publicar suas graças imensas e incontáveis.

A Leitura da Primeira Carta aos Coríntios traz o famoso Hino da Caridade, que permanece até na eternidade, quando não mais haverá fé nem esperança. Isto porque Deus é Amor. E a vida eterna é viver a vida de Deus. As características da Caridade estão todas elencadas nessa Leitura. Merece uma meditação cuidadosa. A caridade está em profunda relação com a Paz de Cristo. Quem não perde a Paz de Cristo não perde a caridade. Quem perde a Paz de Cristo logo perde também a caridade e se irrita contra o próximo, ficando com raiva dele e até invejando-o. Pecamos, geralmente, quando perdemos a Paz de Cristo. Se conservarmos a Paz de Cristo venceremos muitas tentações, porque para o cristão só Deus é Absoluto e a relação com Ele é que deve ser protegida de modo especial. Tudo o mais é relativo, até a morte é relativa.

No Evangelho, Jesus fala a Verdade mas os nazarenos não aceitam a verdade que está nas Escrituras. Parece que ela os ofende. No entanto, o amor à Verdade é um critério para encontrar Jesus Cristo: “Disse Pilatos: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo. Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz. Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?...” (João 18,35-38). Quem busca com sinceridade a Verdade, acaba encontrando Jesus Cristo. Acontece que esta não é virtude de muitas pessoas. Até muitos católicos não buscam a verdade, mas preferem fugir de Jesus Cristo e se refugiar em superstições, fazendo até dos objetos santos da fé e até dos sacramentos superstições para objetivos terrenos de saúde e sorte. Deus não precisa de água benta para amar ninguém. E quantos põem toda a confiança em água benta? E fazem das imagens objetos de sorte e “proteção”. Deus ama seus filhos e não precisa nem de imagens, nem de água benta para amá-los, nem de correntes. Até muitos católicos fogem da verdade, que está nas Sagradas Escrituras, principalmente no Evangelho de Jesus, e se portam como pagãos! São cegos conduzindo outros cegos... “Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala” (Mt 15,14). “Jesus então disse: Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos. Alguns dos fariseus, que estavam com ele, ouviram-no e perguntaram-lhe: Também nós somos, acaso, cegos?... Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas agora pretendeis ver, e o vosso pecado subsiste” (João 9,39-41). Quem é cego não busca a Verdade. É duro de aceitar, mas muitos batizados estão muito longe da verdade e se comportam como pagãos.

sábado, 23 de janeiro de 2010

3.º Domingo Comum

TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C
Neemias 8,2-4a.5-6.8-10–Salmo 18–Primeira Carta aos Coríntios 12,12-30–Lucas 1,1-4; 4,14-21

A Oração antes das Leituras já nos dá uma orientação para a interpretação das leituras de hoje: “dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras”. O Novo Testamento traz o amor e a misericórdia de Deus para os pecadores contra a mentalidade legalista dos fariseus que não entendiam a misericórdia de Jesus para com os pecadores. “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus!” (Mateus 21,31). “Porque acolheram o Filho de Deus, ao passo que os fariseus rejeitaram a pregação de João Batista e a de Jesus, apegados que estavam à Lei que condena. “Porquanto pela observância da lei nenhum homem será justificado diante dele, porque a lei se limita a dar o conhecimento do pecado” (Rm 3,20) e não da misericórdia e do amor de Deus. Vendo as coisas pelo lado do pecado, os fariseus só tinham palavras de condenação e se comportavam como uma “polícia” vigiando tudo o que faziam os discípulos de Jesus, SUS falta de jejum, criticando as obras de Jesus e seus discípulos nos sábados e condenando a todos, querendo apedrejar as adúlteras e negando toda misericórdia. A Nova Aliança não se baseia na Lei Mosaica, mas no que era desde o princípio e quer nos assemelhar a Deus pela misericórdia e boas obras. Mesmo assim Jesus diz: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição” (Mt 5,17). A verdadeira interpretação da Lei Mosaica está em resgatar o que era “desde o princípio” (cf. Mateus 19,4). E desde o princípio a pessoa humana foi criada à imagem e semelhança de Deus, para ser semelhante a Ele, que é misericordioso e criou a pessoa humana por misericórdia. Como Jesus não vem abolir a Lei, mas cumpri-la, a Leitura do Livro de Neemias traz uma solene leitura da Lei de Deus, antes da interpretação policial dos fariseus. A Leitura da Primeira Carta aos Coríntios traz um longo trecho para mostrar-nos que a comunidade cristã é um só corpo, onde os dons de cada um servem para o proveito de todos. Na comunidade cristã cada um precisa de todos os outros. E o Evangelho após uma introdução de São Lucas sobre a necessidade de saber tudo sobre Jesus Cristo, traz o mesmo Jesus, com a força do Espírito, lendo o Livro de Isaias em Nazaré e declarando que está cumprindo o que o Profeta Isaias escreveu. Ou seja, a missão de Jesus Cristo (Cristo quer dizer Ungido pelo Espírito Santo) é: anunciar a Boa-Nova aos pobres. Por que os pobres? Por que eles não tem em que se apoiar a não ser em Deus, ao passo que os ricos e poderosos se apóiam em suas riquezas e seu poder, deixando de se apoiar em Deus que é o Único a poder dar vida eterna à pessoa humana. Também libertar os cativos e dar aos cegos a recuperação da vista. Aqui Jesus não é um “oftalmologista divino” mas a visão é fazer perceber a Sabedoria divina. A libertação dos oprimidos: os oprimidos são aqueles condenados pelos fariseus, a quem Jesus dá o perdão dos pecados e Jesus Cristo anuncia um ano da graça do Senhor Deus. Diz São João: “Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1,16-17). A misericórdia e todos os dons de Deus são graças que Ele derrama sobre seus filhos, mas continuam pertencendo a Ele e devemos prestar contas de seu uso, se os usamos por amor ou para nos envaidecer: “Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir” (Lucas 12,48). Todas essas ações são as “boas obras” a que se faz menção na Oração antes das Leituras. O próprio Jesus Cristo é uma graça enorme vinda das mãos do Pai, pelo “sim” de Maria Santíssima, que O recebeu. Por esta razão seu nascimento trouxe tanta alegria, aos magos, aos pastores, a Simeão e Ana, e aos anjos do Céu.

sábado, 9 de janeiro de 2010

2.º Domingo do Tempo Comum

Segundo Domingo do Tempo Comum – Ano C

Isaias 62,1-5 – Salmo 95 – Primeira Carta aos Coríntios 12,4-11 – João 2,1-11

Tal como nos Mistérios Luminosos do Rosário, ao Batismo de Jesus sucede o gesto simbólico do seu casamento com a humanidade. De fato a salvação não é um vestibular moral onde, pela misericórdia de Deus alguns pecadores “passam” e são salvos. É um casamento: Deus ama a todas as suas criaturas; agora resta às criaturas amarem o seu Criador para realizar esse casamento. Acontece que poucos amam o Criador e a maioria se consola nas criaturas mesmo, no dinheiro, nos afetos, no sucesso, no aplauso, na fama etc. Antes do pecado original a criatura humana vivia diretamente da vida que lhe proporcionava o Criador. Em tudo via o dom de Deus. Após o pecado original, a pessoa humana quis ser Deus e bastar-se a si mesmo. Como é criatura contingente não consegue bastar-se a si mesmo e deve apoiar-se em alguma coisa externa a si. Ao invés de apoiar-se em Deus preferiu apoiar-se nas criaturas e nos frutos de seu próprio trabalho. Só que nenhuma criatura dá vida eterna, só o Criador é terno e pode transmitir vida eterna. É terrível a sentença: “E disse em seguida ao homem: ‘Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar’” (Genesis 3,17-19). Mesmo que a pessoa humana trabalhe muito está votada à morte, porque é pó. Só o Criador pode tirá-la desse destino de morte, o que o Criador fez por meio de Jesus Cristo e do Espírito Santo.

A justiça de que fala a Leitura do Profeta Isaias é, em primeiro lugar, uma ação de graças em relação a Deus. É uma gratidão pelo fato de ter sido criado e gozar de tantos dons. O Criador não mais abandonará a sua criatura, mas tirará os Anjos do caminho do Paraíso e quer que a pessoa humana volte ao Paraíso (cf. Genesis 3,24). Não mais será a pessoa humana Abandonada, mas “Minha Predileta”. E termina a Leitura do Profeta Isaias com uma alusão ao casamento, como modelo da união de Deus com a pessoa humana.

O salmo é uma proclamação de que ser fiel a Deus é glorificá-lO e manifestar a salvação que Ele traz e reconhecer o Seu Poder. Aqui também o conceito de justiça que explicamos em relação à Leitura de Isaias se aplica.

A Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios mostra que os dons de Deus são diferentes para pessoas diferentes, mas que todos formam uma unidade, por receber do mesmo Espírito os dons. Cada dom recebido não é para a vaidade pessoal, mas para ser colocado a serviço dos demais. “Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mateus 20,28; Marcos 10,45). Cada um tem uma atividade diferente no corpo da Igreja, conforme os dons que recebeu de Deus.

O Evangelho de São João é simbólico. Há um casamento mas não aparece o nome nem do noivo nem da noiva. O noivo é o Senhor Jesus Cristo. A noiva é representada por Maria, a Mãe de Jesus, como figura da Igreja, e os discípulos de Jesus. A Mãe percebe a falta do vinho. E avisa a Jesus. Este diz: “A minha hora ainda não chegou” (João 2,4). É a hora do casamento verdadeiro, da redenção da humanidade, em que Jesus dará sua vida para que a pessoa humana tenha a vida eterna. Diante do que Sua Mãe diz aos servos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (João 2,5), Jesus se prepara para fazer um sinal simbólico do significado de sua morte na Cruz. Ele é o noivo: deve, portanto, dar o vinho. E vinho em abundância: seiscentos litros! Esse vinho é sinal do sangue derramado de Jesus pela redenção do mundo. É por seu sacrifício que Jesus se unirá à humanidade e perdoará os pecados de todos, dando-lhes o Espírito Santo. É preciso que o Filho de Deus se anule para viver nos futuros membros do seu Corpo, numa atitude semelhante à que Jesus tem diante do Pai, ao qual é unido pelo mesmo Espírito Santo. A frase do mestre-sala: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” (João 2,10), significa que o Novo Testamento, a Nova Aliança que Jesus Cristo estabelecerá pelo derramamento do Seu Sangue é muito superior à antiga aliança, marcada pelo sangue de animais e não pelo sangue preciosíssimo do Filho de Deus. Jesus, assim, manifesta a Sua Glória, que é a Glória de Seu Pai Celestial e os seus discípulos crêem n’Ele, realizando, assim, a mensagem do Salmo 95. O papel de Maria, neste casamento é importantíssimo, pois ninguém como Ela é a Esposa do Pai, a ponto de gerar Aquele que é ao mesmo tempo Filho de Deus, pela parte do Pai e Filho do Homem, por parte de Maria. Maria é a única pessoa humana sobre a Terra que jamais colocou qualquer resistência à graça de Deus, pois só Ela é a Cheia de Graça. Maria aqui é a imagem da Igreja inteira, a Esposa de Jesus Cristo, e exemplo de primeira seguidora de Seu Filho, a que nada possui pois tudo nela é sempre graça de Deus.

A justiça, de que fala a Leitura de Isaias, que surge como um luzeiro, se identifica com a salvação e é a realização da suprema vocação da pessoa humana: “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Genesis 1,26-27). Essa criação à imagem e semelhança de Deus é para que a pessoa humana entre em comunhão com a Santíssima Trindade, pela comunhão com o Filho – a Segunda Pessoa – por obra do Espírito Santo que realiza a unidade das Pessoas. Por isso somos, desde o nosso batismo, membros do Corpo de Cristo e carregamos a Cruz de Cristo e a oferecemos ao Pai, junto com a d’Ele em cada Missa.

A leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios afirma que os dons de cada um não são para essa pessoa, mas para o conjunto do Corpo de Cristo, que são todos os membros da Igreja, e por extensão, toda a humanidade, pois Deus não faz acepção de pessoas. “Então Pedro tomou a palavra e disse: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas” (Atos 10,34; 15,9; Romanos 2,11; 3,22; 10,12 etc.). Nenhum dom é para a vaidade da pessoa, mas todos são para viver o amor que se expressa em serviço ao próximo.

No Evangelho, Jesus afirma à Sua Mãe: “Minha hora ainda não chegou” (João 2,4), pois a hora da união final e da doação do Espírito para a união definitiva da pessoa humana com Jesus Cristo que é a Segunda Pessoa da Trindade, o Filho, se dá na sua morte redentora por nós, quando Jesus Cristo vence definitivamente o demônio: “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo” (Jo 12,31). Mas Jesus Cristo para atender Sua Mãe dá um sinal de que dará todo o seu preciosíssimo sangue por nós na Santa Cruz: transforma a água em vinho, água que é premonição da Eucaristia, Sangue precioso de Jesus Cristo por nós. O mestre-sala diz que todos servem primeiro o vinho bom e depois o vinho menos bom, mas que o noivo guardou o vinho melhor até o fim do casamento, porque o Antigo Testamento não realizava a justiça divina, não unia a pessoa humana à Santíssima Trindade, mas apenas manifestava a vontade de Deus através da Lei – os Dez Mandamentos – e significava dons apenas deste mundo como terra e vitórias militares.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Batismo do Senhor Jesus Cristo

Batismo do Senhor Jesus Cristo

Isaias 42,1-4.6-7 – Salmo 28 – Atos 10,34-38 – Lucas 3,15-16.21-22

O Batismo de Jesus no rio Jordão, por obra de São João Batista, é o ato que inaugura a vida pública de Jesus. Esta vida pública será uma permanente tentação. Por esta razão, o primeiro impulso do Espírito Santo após o Batismo do Senhor Jesus será enviá-lo para o deserto para ser tentado pelo diabo. A tentação maior virá na Paixão. E Jesus Cristo sairá vencedor, redimindo o gênero humano. O Espírito Santo é o centro do Batismo de Jesus Cristo. Podemos até dizer que é o Crisma de Jesus. Jesus é o Cristo porque foi ungido com o Espírito Santo. Crismado e Cristo são dois particípios passados do mesmo verbo. Significam a mesma coisa. Jesus é o Ungido do Pai. Desde sua concepção no ventre de Maria, Jesus está unido ao Pai pelo Espírito Santo, por ser o Filho de Deus. Mas no rio Jordão é a sua carne mortal que é ungida para dar-se num movimento divino e fazer-se alimento dos homens. Quando Jesus Cristo não Se ama a Si mesmo, mas morre por nós na Cruz está já dando o Espírito Santo para nós. O Espírito Santo é o Espírito da unidade das Pessoas, pela virtude do amor que faz uma Pessoa esquecer-se de si mesma e dar a vida pela outra. Assim o Pai se esquece de si mesmo pois a sua vida está no Filho (cf. Evangelho, Lucas 4,22) e o Filho se esquece de si mesmo pois a sua vida está no Pai. Só busca a glória do Pai. Quando Jesus se esquece de si por nosso amor está nos dando o Espírito Santo, pois está nos tratando do mesmo jeito que trata o Pai. O Espírito Santo também faz-nos viver a justiça bíblica que é “dar a Deus o que é de Deus”. Ou seja, a pessoa humana, criada por Deus, deve confiar totalmente em seu Pai Celestial e viver d’Ele. Foi o que Jesus Cristo viveu. Seu alimento era fazer a vontade do Pai (cf. João 4,32-34). Se essa é a justiça, claro está que Deus não faz acepção de pessoas e não trata os israelitas como superiores às outras pessoas humanas. Deus criou todas as pessoas e tem piedade de todos igualmente. Unidos a Jesus Cristo pelo Espírito Santo, somos libertados do poder do demônio. Ele não terá mais poder sobre os que se deixam ungir pelo Espírito Santo. Pelo Espírito Santo, Deus é nosso Pai e recebe todo o nosso louvor, e assim praticamos a justiça diante d’Ele.

A salvação é justamente essa união eterna com Jesus Cristo pelo Espírito Santo. Não temos em nós vida eterna, mas unidos a Jesus participamos de sua Vida Eterna, em comunhão com o Pai e assim somos inseridos na Santíssima Trindade, somos divinizados. Todos os santos recebem o nome de “santo” que só pertence a Deus por essa união com Jesus Cristo, o Santo, e Seu Pai, no mistério da Santíssima Trindade.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Domingo da Epifania

Domingo da Epifania

Isaias 60,1-6 – Salmo 71 – Efésios 3,2-3a.5-6 – Mateus 2,1-12

Todas as festas após o Natal traduzem um aspecto desta festa. O Senhor veio para ser um sinal de contradição (Lucas 2,34). Por esta razão, logo após o Natal temos a festa dos Mártires Inocentes, lembrando que são os perseguidos com Jesus Cristo que possuirão o Reino dos Céus. Depois temos a Solenidade da Santa Mãe de Deus. Se Jesus Cristo é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é Deus feito homem, é Deus, e então, Maria é a Mãe de Deus. Seu Filho é Deus. E temos hoje a Festa da Epifania, que em alguns lugares do Oriente é mais importante que o Dia de Natal. Significa, como se diz na Carta aos Efésios lida hoje, que Jesus Cristo não veio só para Israel, mas para todos os povos da terra, é o Salvador, não de Israel, mas da humanidade inteira, representada pelos Magos. Estes, que não eram israelitas estavam mais atentos à vinda do Messias que o próprio povo de Israel. Dentro do Evangelho há muitas passagens que sugerem que Jesus veio para toda a humanidade. Por exemplo, o centurião que pede a cura de seu servo, de quem Jesus diz que nem em Israel encontrou tanta fé; a mulher siro-fenícia; a parábola do Bom Samaritano; e o centurião diante da Cruz que é o único a dizer que Jesus era mesmo o Filho de Deus, quando os judeus preferiram Barrabás, um assassino. É claro, pelos Evangelhos e pelos Atos dos Apóstolos, que Jesus veio para a humanidade inteira e a sua salvação se manifesta até aos confins da terra (Salmo 71).

Os bispos da América, reunidos em 2007, em Aparecida do Norte, lançaram a Missão Continental, um estado permanente de missão ao qual a Igreja na América deve se acostumar. Essa missão é uma passagem do sacramentalismo para uma vida vivida a partir da Palavra de Deus.

Há um grande sincretismo religioso entre a Igreja e o candomblé por causa do sacramentalismo. Acreditando que o batismo daria a fé por si mesmo, os negros foram batizados sem a devida catequese, permanecendo com sua religião anterior. Mas o batismo não produz a fé, é o resultado de quem já tem fé, por causa da pregação: “Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo” (Rm 10,17). Assim o negro sem catequese estava diante da imagem de São Sebastião, mas para ele significava Oxossi, um orixá. Daí as confusões: Jesus Ressuscitado é confundido com Oxalá, Nossa Senhora da Conceição com Iemanjá, São Jorge com Ogum, Santa Bárbara com Iansã, etc. Isto deu um grande mal na Igreja por causa do sacramentalismo. O sacramentalismo é pagão. As pessoas acham que os sacramentos são, não um compromisso com Jesus Cristo, mas uma bênção de sorte e de saúde. Quantos se casam na Igreja porque querem a “bênção” de Deus e nem sabem o que isso significa e a consideram uma sorte para o futuro. Até a Eucaristia, que é o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Jesus Cristo é a Palavra de Deus que se fez carne. Se a pessoa recebe a Eucaristia, mas não se alimenta interiormente da Palavra de Jesus Cristo, a recepção da Eucaristia fica sem o seu devido fundamento. Quanta gente quer batizar seus filhos na Igreja e quer ser crismada, mas não comparece às Missas de Domingo nas paróquias...

Por isso é mais que oportuna e necessária a Missão Continental. Jesus Cristo mesmo, só realizou a primeira Eucaristia, na sua Última Ceia, na véspera de sua morte na Cruz, depois de três anos instruindo seus discípulos na Palavra do Senhor. A pregação precede todos os sacramentos e se deve antes crer na pregação para só depois receber os sacramentos. A Missão Continental é necessária. Muitos passam para as seitas porque não conhecem a Palavra do Evangelho e passam a acreditar no Cristo da prosperidade e a dizer “Deus é fiel”, ou seja Deus me vai dar tudo aquilo que o pastor disse que Ele iria me dar porque eu paguei o dízimo. Assim os falsos pastores se enriquecem com os dízimos dos bobos, alimentados por falsas promessas.