quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Santa Maria, Mãe de Deus

Santa Maria, Mãe de Deus

Números 6,22-27 – Salmo 66 – Gálatas 4,4-7 – Lucas 2,16-21

A festa de Santa Maria, Mãe de Deus, coincide com o dia da Circuncisão e da Imposição do santo Nome de Jesus – oitavo dia do nascimento. É também o dia do Santo Nome de Jesus. É também o dia mundial da Paz, com o lema, dado pelo Papa Bento XVI: “Se queres a Paz, cuida da Criação”.

A Leitura do Livro dos Números refere-se ao primeiro dia do ano, trazendo a bênção de Aarão, a primeira bênção ritual da Sagrada Escritura. O Salmo também se refere ao início do ano, pedindo a Deus a sua graça e a sua bênção e a alegria de viver, para as nações glorificarem a Deus.

O trecho da Carta aos Gálatas foi escolhido por causa da expressão “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher” (Gálatas 4,4). Mas lembra que Jesus veio para superar a Lei mosaica e estabelecer a filiação divina para todos os que O acolherem. “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus” (João 1,11-13). Esta filiação se dá pela união com Jesus, o Filho de Deus, pela unidade do Espírito Santo. Deus tem só um Filho, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que se encarnou como Jesus Cristo. Nós somos filhos de Deus pela união com o Filho Unigênito, em um só corpo, formado pelo Espírito Santo. E se pela união com Jesus somos filhos, somos também herdeiros da mesma herança do Filho do Homem Jesus: a vida eterna.

O Evangelho quase não se refere a Maria. Coloca antes a adoração dos pastores de Belém a Jesus Cristo. “Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lucas 2,19.51). Maria é Mãe de Deus porque Jesus Cristo é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e portanto é Deus. A afirmação de Maria como Mãe de Deus quer ratificar que Jesus é mesmo Deus. Maria é também Nossa Senhora das Dores, mas não devemos pensar Maria na Paixão de seu Filho toda revoltada, chorosa e dolorosa. Não! Este versículo acima nos diz que Nossa Senhora das Dores é a mesma Nossa Senhora da Paz e da Consolação. Como Maria poderia ser Nossa Senhora da Paz e da Consolação se perde a Paz e a Consolação? A verdadeira imagem de Nossa Senhora das Dores é uma Senhora contemplativa, tentando descobrir as razões divinas para o sofrimento de Seu Filho. Não combina com Maria Imaculada, sem pecado, a revolta contra os planos de Deus. Maria é a Serva do Senhor no qual se cumpre sempre a Palavra de Deus com a sua anuência. “Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38). Não coloca a mínima resistência aos planos de Deus. Não podemos figurar Maria Santíssima na Paixão de seu Filho com base nas mães pecadoras que não aceitam a morte de seus filhos. Ela é diferente. Não coloca resistência a Deus e a nenhum dos planos de Deus.

Santa Maria nos é dada como Mãe por Jesus aos pés da Cruz, sendo acolhida pelo discípulo amado em nome de todos nós. Por que Maria é a Mãe dos Eleitos? Porque ela é “cheia de graça”, não tomando para si nenhum dos dons que lhe foram dados pelo Pai. Tudo nela é graça divina. Por isso ela vive uma verdadeira renúncia e é a primeira discípula de Seu Filho, que disse: “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?...” (Mateus 16,24-26). Renunciar, em linguagem evangélica é atribuir a Deus todos os dons e não tomar posse de nenhum. É contraditória a canção que diz: “Tome posse da graça de Deus”. Se é graça de Deus, a Ele pertence e não devemos “tomar posse”. Deve-se usá-la, sim, para o bem próprio e dos irmãos, mas a graça continua sempre a pertencer a Deus. O nosso corpo é uma graça de vida. Mas não é nosso e parará de funcionar num dia que não podemos prever e que só Deus sabe. Nosso corpo pertence a Deus. Como podemos tomar posse do nosso corpo?

sábado, 26 de dezembro de 2009

Domingo da Sagrada Família

Domingo da Sagrada Família

Eclesiástico 3,3-7.14-17a – Salmo 127 – Colossenses 3,12-21 – Lucas 2,41-52

Deus criou a pessoa humana à Imagem das Pessoas Divinas (Genesis 1,27) e por esta razão criou o homem e a mulher, para serem “uma só carne”, imagem da unidade da Santíssima Trindade (Genesis 2,24). Os filhos são da mesma carne dos pais. Daí toda a humanidade constituir uma unidade (isto é importantíssimo para a fé cristã: por causa do pecado dos primeiros pais todos foram condenados; por causa da justiça de Jesus Cristo todos são salvos (Romanos 5,14-15)). A família faz parte, assim, da semelhança divina da pessoa humana. Nós fomos feitos para ser família. Os que querem dominar sobre as pessoas atacam a família para que as pessoas sejam menos do que devem ser, sejam tratadas como “gado”, que é mais fácil de se domar. Daí toda propaganda de homossexualismo, de divórcio, de casamentos homossexuais etc. Tudo isto tende a destruir a família e diminuir o valor da pessoa humana em prol dos que querem ser os dominadores da pessoa humana.

O Livro do Eclesiástico traz um quadro do amor familiar. Digno de nota é que já é antecipado o preceito evangélico de que o amor apaga uma multidão de pecados. Duas vezes se afirma isto: “Quem honra o seu pai (ou mãe), alcança o perdão dos pecados” (Eclesiástico 3,4) e “a caridade feita a teu pai (ou mãe) não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados” (Eclesiástico 3,15-16). Isto está de acordo com o Evangelho, quando diz: “Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (Pr 10,12)” (1Pd 4,8). E também nesta bela passagem de São Lucas: “Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume. Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora. Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele. Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais? Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem. E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés. Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama. E disse a ela: Perdoados te são os pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados? Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz” (Lucas 7,36-50).

A carta aos Colossenses também, depois de um discurso sobre o amor cristão em geral, incluindo o perdão (“perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam” (Mateus 6,12)), que também perdoa nossos pecados, aplica-o, enfim à família, começando pelas esposas, passando pelos maridos e chegando enfim aos filhos. E traz um princípio de vida cristã irretocável: “Tudo o que fizerdes, por palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo” (Colossenses 3,17). Afinal, se somos membros de Jesus Cristo, unidos a Ele pelo Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é Ele que faz em nós as obras que agradam a Deus. Diz São Paulo: “Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2,19-20).

O Evangelho, porém traz um elemento que está acima de toda consideração de família, por mais nobre que seja a família humana. Antes de tudo somos filhos de Deus e os nossos pais terrenos foram apenas instrumentos de Deus para a nossa geração e educação. Por isso, Jesus Cristo, já aos doze anos, coloca a paternidade de Deus acima do afeto a seus pais. “Ao vê-lo seus pais ficaram muito admirados e sua mãe lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu estávamos angustiados à tua procura’. Jesus respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’. Eles, porém não compreenderam as palavras que lhes dissera. Jesus desceu então com seus pais para Nazaré e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, conservava no seu coração todas essas coisas” (Lucas 2,48-51). Jesus colocava o Pai Celeste à frente de seus pais terrestres, mas nem por isso deixava de ser-lhes obedientes. Alguns santos, como São Tomás de Aquino e São Francisco de Assis, e outros, encontraram em seus pais obstáculos para os planos de Deus em suas vidas. Daí preferiram entrar em conflito com seus pais do que deixar de ser fiéis a Deus em suas consciências.

Duas vezes Lucas refere-se à Virgem Maria como mulher de contemplação das maravilhas de Deus. “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lucas 2,19.51). Isto nos permite matizar as dores de Maria. Ela tinha plena confiança em Deus, não fosse ela Imaculada, sem pecado original. Daí sua angústia na perda do menino aos doze anos e na Cruz, durante a Paixão de seu Filho, ser uma contemplação do que Deus queria com todos aqueles acontecimentos. Se Maria é Nossa Senhora da Paz, se é Nossa Senhora da Consolação, é certo que não se desesperou nem na perda de seu Filho aos doze anos nem durante a Paixão. Procurava, claro, o que Deus, Seu Esposo verdadeiro, queria com todos esses acontecimentos. Nem sempre ela entendia tudo, mas confiava plenamente e não se desesperava. A verdadeira imagem de Nossa Senhora das Dores não é a de uma desesperada, o que não combina com a Imaculada Conceição, mas com uma contemplativa. Isto é também um exemplo para os pais que perdem os seus filhos antes de sua morte. Devem confiar que Deus ama os seus filhos com um amor infinito e cheio de misericórdia, e ama muito mais que somando o amor de todos os parentes e amigos juntos. Deus é Amor Infinito.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natal de Jesus Cristo

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo

Missa da Noite

Isaias 9,1-6 – Salmo 95 – Tito 2,11-14 – Lucas 2,1-14

Como se diz na Oração antes das Leituras, o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo está ligado à salvação: “Deus [Pai] ... concedei, que tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no Céu sua plenitude”. O Advento e o Natal estão sempre em função da salvação final, pois sem essa salvação de nada adianta todo o amor de Deus por nós.

A Leitura de Isaias figura o menino Jesus como uma luz nas trevas. Mais tarde o próprio Jesus Cristo dirá: “Falou-lhes outra vez Jesus: Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Essa luz é também causa de grande alegria e felicidade. Jesus Cristo aparece na Leitura como Libertador do jugo que oprime o povo. Figura Jesus também como um Rei de Paz eterna, que nunca acabará. Quem realizará toda essa alegria, felicidade, libertação e Paz será o amor zeloso de Deus.

O Salmo é uma celebração da alegria trazida pela Leitura de Isaias.

A Carta a Tito lembra a doutrina paulina do batismo como uma morte para este mundo e um nascimento para Deus (cf. Romanos 6,3-13). Por isso diz para não vivermos neste mundo segundo a impiedade e paixões humanas, mas com equilíbrio, justiça e piedade, frutos do Espírito Santo, “aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tito 2,13). Também aqui vemos o Natal em perspectiva de salvação final. Lembra também a misericórdia do Coração de Jesus que irá perdoar os pecadores – contra as condenações da Lei de Moisés interpretadas pelos fariseus – libertando-os do mal e liberando-os a praticar o bem.

O Evangelho de São Lucas traz a narração dos fatos relativos ao nascimento de Jesus Cristo. Traz porém, alguns conselhos evangélicos desde o início, que seriam repetidos pelo Senhor Jesus. Os anjos dizem aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria”. Jesus vem para nos libertar do medo e para trazer uma alegria eterna aos homens pecadores e penitentes. Traz também os sinais da pobreza do Salvador: “Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”. Jesus é pobre porque não colocará nunca sua confiança, durante toda a sua vida em nenhum fruto do trabalho humano, nem dinheiro, nem fama, nem poder, mas tão somente em Deus, seu Pai. Seu alimento será fazer a vontade de seu Pai (João 4,31-34; Mateus 26,39 e paralelos). E aquele que se dará em alimento na Eucaristia já é colocado numa manjedoura, lugar do alimento dos animais. Toda a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo realizarão a glória do Pai eterno e a paz aos homens por Deus amados (Lucas 1,14), conforme cantam os anjos.

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo

Missa do Dia

Isaias 52,7-10 – Salmo 97 – Hebreus 1,1-6 – João 1,1-18

Também aqui, a oração antes das Leituras afirma a salvação eterna: “Ó Deus [Pai], que admiravelmente criastes a pessoa humana [à vossa imagem] e mais admiravelmente restabelecestes sua dignidade, dai-nos participar da divindade do Vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”.

A Leitura do profeta Isaias louva os passos dos que anunciam a boa notícia e já coloca o nascimento de Jesus Cristo na linha do Reino de Deus, que só se consumará no último dia. “Reina o teu Deus!” (Isaias 52,7). Contrapõe as nações humanas a Deus, como dois poderes em luta, a pessoa humana querendo ser deus sem comunhão com o Deus verdadeiro – segundo a tentação que satanás colocou desde o início (Genesis 3,5) – e Deus sendo mais forte, salvará os que aceitarem entrar no Seu Reino. E anuncia a salvação universal, e não só para Israel: “todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus” (Isaias 52,10). O Salmo celebra essa salvação universal.

A Carta aos Hebreus, em seu início, contém um cântico de salvação em que Jesus Cristo é descrito como o Filho pelo qual Deus fala aos homens, é o esplendor da glória de Deus, artífice do universo e herdeiro de todas as coisas, em particular as pessoas salvas por Ele. É também o sustentáculo do Universo, pelo poder de Sua Palavra, e é superior aos anjos, embora, ao se fazer homem tenha se submetido por um tempo a ser-lhes inferior. Por isso, os anjos devem adorá-Lo.

O Evangelho de São João traz o seu sublime Prólogo. Pontos a ressaltar nesse prólogo são Jesus Cristo como a Sabedoria com a qual Deus criou tudo o que existe e sem Ela nada fez. Também é de ressaltar o desencontro: Jesus é a Vida (João 11,25; 14,6). Os homens, porém, para quem “a vida era a luz dos homens” (João 1,4), não encontram em Jesus Cristo a Vida, mas “o mundo não quis conhecê-La” (João 1,10), o matam e rejeitam. A pessoa humana quer ter o seu reino nesta terra marcada pelo pecado e pela morte, sem perceber que tudo nesta terra é muito passageiro. Jesus Cristo tem “um Reino que não é deste mundo” (João 18,36), um Reino sem morte e sem pecado, sem dominação de uma pessoa sobre outra, sem enganos e sem mentiras. “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (João 1,14). Esta é a confissão de Jesus Cristo como a Palavra criadora do Pai, a Sabedoria sem a qual nada foi feito (Provérbios 8,22-33). E aparece a magnífica figura de São João Batista, que não é a Luz, mas vem para dar testemunho da Luz. Na figura de São João Batista, estão retratados todos os Apóstolos do Senhor Jesus Cristo, que anunciam sua Encarnação Divina, que passou fazendo o bem, sua morte e sua ressurreição e ascensão à direita do Pai (Atos 10,36-42). Este sublime prólogo pode ser causa de muitas outras reflexões ainda, sendo inesgotável.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

4.º Domingo do Advento

Quarto Domingo do Advento

Miquéias 5,1-4a – Salmo 79 – Hebreus 10,5-10 – Lucas 1,39-45

A liturgia do tempo do Advento vai passando de uma preparação para a segunda vinda de Jesus Cristo a uma aparente espera da festa do Natal de Jesus Cristo. A mensagem dos Apóstolos, porém, é a preparação para a segunda vinda de Jesus Cristo “que virá para julgar os vivos e os mortos”. É esta a realização do Reino de Deus, “que não é deste mundo” (João 18,36). É preciso perceber que todo o acontecimento da primeira vinda de Jesus Cristo está em função do último dia e da realização do Reino de Deus. A própria Encarnação se deu para a realização do Reino de Deus e a pessoa humana, expulsa do Paraíso voltar a ele pela graça de Deus, que redime os pecados. Por isso, mesmo o Natal está em função da Páscoa e esta em função da realização do Reino de Deus definitivo. Este aparente deslocamento da segunda vinda de Jesus Cristo para uma preparação para o Natal deve ser visto como uma proclamação da realidade histórica da primeira vinda de Jesus Cristo, e a fidelidade de Deus, que cumpriu as profecias do Antigo Testamento, que falavam do Messias que devia vir, e do mesmo modo, Deus cumprirá as profecias do Novo Testamento, com a segunda vinda de Jesus Cristo, como Rei.

A Profecia de Miquéias localiza o lugar em que o Messias deverá nascer: Belém-de-Éfrata, perto de Jerusalém, cidade do antigo Rei Davi. Jesus é colocado como Aquele que dominará, isto é, é o Rei. Afirma também sua divindade, quando diz: “sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade” (Miquéias 5,1c). Nenhuma ação de Deus é tão decisiva como esta, por isto se diz: “Deus deixará seu povo ao abandono, até ao tempo em que uma mãe der à luz” (Miquéias 5,2). A perspectiva é a do Reino definitivo de Deus, porque continua dizendo: “Ele não recuará, apascentará com a força do Senhor (a relação de unidade entre o Filho e o Pai) e com a majestade do Nome do Senhor (Jesus é Rei); os homens viverão em paz (... no Reino definitivo), pois Ele estenderá o poder até os confins da Terra, e Ele mesmo será a Paz (Jesus Cristo é o Esposo de todos os eleitos; todos viverão unidos pela comunhão com Ele) (Miquéias 5,3-4). Vemos claramente que o nascimento de Jesus já se dá em vista do Reino definitivo.

O Salmo é uma oração pedindo conversão para alcançar a salvação, como está expresso no próprio refrão.

A Leitura da Carta aos Hebreus traz uma mensagem pascal. É o Filho que faz a vontade do Pai e oferece seu corpo humano em sacrifício, dando-o todo ao Pai (cf. Romanos 12,1) que O ressuscitará. A verdadeira oferenda do cristão a Deus não é nem pão nem vinho, mas o próprio corpo mortal, como Jesus Cristo ofereceu o Seu, para que o Pai os ressuscite. Os cristãos são membros do Corpo de Cristo: assim como Ele ofereceu seu Corpo, os cristãos devem oferecer os seus, em vista da ressurreição e do Reino definitivo.

O Evangelho de São Lucas traz a cena da Visitação, que vem logo após a Anunciação do Anjo a Maria. Isabel já fica cheia do Espírito Santo, o que é um fruto da Páscoa de Jesus Cristo e sinal do Reino definitivo de Deus. E a fé de Maria é celebrada. Ninguém viu o Reino de Deus. Se o esperamos é porque cremos no que Deus revelou por meio do seu Filho. É a fé. A Fé é a certeza de que o que Deus revelou é plenamente verdadeiro e digno de ser esperado com plena confiança de que tudo se realizará. A fé é um ato de razão (entender o que Deus revelou) e um ato de vontade (querer crer que o que Deus revelou é Verdade).

Temos então comprovado que o evento do Natal se dá em função da Páscoa e do Reino de Deus definitivo, a ser inaugurado no último dia, na segunda vinda de Jesus Cristo, para julgar os vivos e os mortos e para levar os eleitos para o seu Reino. O Advento é preparação, não para o Natal, que já se deu há 2000 anos, mas para a segunda vinda de Jesus Cristo, como Rei.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

3.º Domingo do Advento

Terceiro Domingo do Advento

Sofonias 3,14-18a – Isaias 12,2-6 – Filipenses 4,4-7 – Lucas 3,10-18

Todo o Advento é um tempo de esperança, de alegria, pela perspectiva da vida eterna, sem males e preocupações, sem medos. Mas este domingo é marcado particularmente pelos sentimentos de alegria. Até o roxo cede lugar ao cor-de-rosa. Esta alegria se baseia, como diz a Leitura de Sofonias em que o Senhor Deus revogou a sentença de condenação e afastou os inimigos dos filhos de Deus e estes agora estão sob a misericórdia do Senhor. Como sempre a mensagem do Advento é “não te deixes levar pelo desânimo” (Sf 3,16). Isto significa, como diz a Carta aos Romanos, “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios” (Romanos 8,28). Ora se tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, sejam as coisas agradáveis, sejam as cruzes, devemos viver com muita intensidade a vida sem temer as cruzes, pois elas são permitidas por Deus para o nosso bem. Vive a vida com intensidade quem não julga os dias se são bons ou maus, mas aceitam todas as realidades com o mesmo ânimo. E não se abatem diante das dificuldades, mas buscam tranquilamente as soluções. Isso é uma vida com Deus, em que se agradece todos os dias a Deus com muita gratidão. Diz o início de cada prefácio das Missas: é nosso dever e salvação dar-vos graças em todo tempo e lugar. Devemos morrer agradecendo a Deus o dom da vida. Quem não recebe a vida não pode morrer. E Deus tem uma vida divina e eterna para dar aos que vivem assim intensamente e em gratidão a Deus seus dias. Na Leitura de Sofonias também a Presença de Deus no meio do seu povo é um motivo de ânimo. Ainda mais no Novo Testamento, em que o templo de Deus não é de tijolos, mas são os nossos corpos, onde Deus se compraz em morar pela virtude do Espírito Santo que nos une ao Pai e ao Filho.

A Carta aos Filipenses foi escrita por São Paulo no cárcere, mas nada tem de lamentação. São Paulo se alegrava nos sofrimentos suportados por Jesus Cristo. “Ainda que tenha de derramar o meu sangue sobre o sacrifício em homenagem à vossa fé, eu me alegro e vos felicito” (Filipenses 2,17). “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Colossenses 1,24). Pelo contrário é uma Carta cheia de mensagens de alegria, esperança e despreocupação. “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas com ações de graças. E a paz de Deus (a paz de Jesus Cristo que a gente dá na Missa), que ultrapassa todo o entendimento, guardará vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus” (Filipenses 4,6-7). A alegria é estar “no colo” de Deus sob sua total proteção, o que se dá mesmo no dia da nossa morte, pois Ele nos dará vida divina e eterna.

O Evangelho de São Lucas nos traz a pregação de São João Batista que nos traz aspectos dessa despreocupação e tranqüilidade em Deus. As pessoas não precisam acumular dinheiro – o que é uma das maiores preocupações das pessoas – pois o dinheiro em excesso não dá paz, pode ser até isca para ladrões e assassinos, como ocorre freqüentemente. São João Batista também dá um motivo de alegria quando sabe bem que é humilde diante do Senhor, que não é o Messias e nem é digno de desamarrar suas sandálias. Uma das causas de preocupações das pessoas é a própria afirmação pessoal em que cada um quer ser mais do que é. São João Batista sabe bem do seu tamanho e por esta razão é feliz. Não quer ser mais do que é. Esta humildade é causa de tranqüilidade para a alma e para a pessoa. O orgulho pesa, obriga a pessoa a querer ser mais do que é e é causa constante de frustração e infelicidade. A humildade é causa de alegria. A pessoa se aceita como é. “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mateus 11,28-30). A Cruz de Jesus Cristo para os humildes não é um peso, mas é fonte de Paz.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Imaculada Conceição

Imaculada Conceição de Maria Santíssima

Genesis 3,9-15.20 – Salmo 97 – Efésios 1,3-6.11-12 – Lucas 1,26-38

Os dons de Deus superam o tempo. A Igreja Católica ensina que Maria foi concebida sem pecado original – e é verdade – em vista dos méritos futuros da Paixão e Morte de Jesus Cristo. Jesus disse aos seus apóstolos: “Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei” (Jo 16,7). Como então o Espírito Santo encheu Isabel e João Batista quando Maria visitou Isabel logo após a Anunciação? “Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio” (Lucas 1,41-44). E que como dizemos no Credo Niceno-constantinopolitano quando falamos do Espírito Santo “foi Ele que falou pelos profetas”? Os profetas falavam por meio do Espírito Santo? Então Jesus Cristo devia dar sua vida pela humanidade porque o dom de sua Paixão, que é o Espírito Santo, já havia sido dado. Por isso era preciso que se cumprissem as Escrituras. Como Jesus ensinou aos discípulos de Emaús: “Jesus lhes disse: Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória? E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (Lucas 24,25-27).

A Leitura do Livro do Genesis denuncia como, após o pecado, a pessoa humana foge de Deus e não O ama, a não ser pela ação do Espírito Santo. A pessoa humana, homem e mulher se escondem de Deus, como se isso fosse possível (v. 10). Mas a parte mais importante está no v. 15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te esmagará a cabeça e tu tentarás morder-lhe o calcanhar”. A inimizade é entre a serpente, satanás e a mulher, concebida sem pecado original. Esta inimizade é que explica como os maus perseguem os bons e porque Jesus morreu na Cruz e houve tantos mártires na Igreja. Os filhos das trevas não suportam os filhos da luz.

No Evangelho de hoje temos que o Anjo Gabriel nem chama Maria pelo nome. Refere-se a ela como “cheia de graça” (kekaritomene, no grego). É um dos principais títulos marianos. A graça é um dom divino, que continua a pertencer a Deus, mas é doado para o bem das criaturas de Deus. Maria é cheia de graça porque não toma posse da graça, como nós, que dizemos que o corpo é nosso, a vida é nossa. Tudo nela pertence a Deus. Daí ela não apresentar a menor resistência a Deus e haver um pleno casamento entre Maria e o Pai de Jesus Cristo. Há uma comunhão perfeita. Os protestantes dizem que Deus praticou uma “barriga de aluguel” em Maria, e que após conceber Jesus ela teve outros filhos com José. Isso é impossível. Os ditos “irmãos de Jesus” aparecem em outras passagens com outras mães, que não são Maria Santíssima. E, ao pé da Cruz é João que leva Maria para casa (João 19,27) e não seus filhos. Se Maria tivesse outros filhos não iria para a casa de um discípulo de Jesus.

São Luís Maria Grignion de Montfort errou em seus escritos ao dizer que o Espírito santo é o esposo de Maria, pois o Anjo Gabriel se refere ao Espírito santo e não ao Pai, quando fala a Maria. Se o Espírito Santo fosse o esposo de Maria seria o Pai de Jesus Cristo, mas a Primeira Pessoa da Trindade é que é o Pai e não a terceira. O Espírito santo deve ser entendido como o Espírito que realiza a comunhão de vida entre as pessoas. Maria é toda de Deus e Deus se dá todo a Maria. Por isso diz-se que “a sombra do Espírito Santo veio sobre Maria” (v. 35). Para uni-la ao Pai e o Filho ser ao mesmo tempo Filho de Deus – pelo Pai – e filho do homem – por Maria.

Jesus ensinou: “Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,26-27). E também: “Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,33). Por isso, a Consagração total dos dons da pessoa a Maria, que nada retém para si, por ser “cheia de graça”; na verdade, consagrar-se a Maria é consagrar-se a Deus pela união íntima entre Maria e Deus. Nesta doutrina, São Luís Maria Grignion de Montfort acertou. A Consagração a Maria é uma forma de viver essa renúncia que Jesus Cristo pede no Evangelho. O que se dá a Deus é de Deus, não é mais nosso. Por esta razão a Consagração total a Maria é caminho de ser discípulo de Jesus Cristo. Podemos, por isso, também ser “cheios de graça” como a nossa Mãe Santíssima.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

2.º Domingo do Advento

segundo Domingo do Advento – Ano C – 2010

Baruc 5,1-9 – Salmo 125 – Carta aos Filipenses 1,4-6.8-11 – Lucas 3,1-6

A própria Encarnação, na primeira vinda do Filho de Deus, está endereçada para o Reino definitivo, que só virá plenamente na segunda vinda do Filho de Deus. Daí a pregação inicial de Jesus: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,15). O Reino de Deus próximo é o julgamento de todas as pessoas humanas para se revelar quem acolheu o Reino de Deus e viveu d’Ele e quem viveu só a partir das criaturas que não podem dar vida eterna. A pregação dos Apóstolos também é a proximidade do Reino de Deus: “Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo (...) Até o pó que se nos pegou da vossa cidade, sacudimos contra vós; sabei, contudo, que o Reino de Deus está próximo” (Lc 10,9.11). A segunda vinda de Jesus Cristo e o advento do Reino definitivo de Deus, que vence o poder do pecado, estão inseridos fortemente na pregação dos discípulos de Jesus Cristo. Todos devem se preparar para a vinda de Jesus, que como rezamos no Credo “virá para julgar os vivos e os mortos”. Este é um elemento central da pregação cristã, que não pode ser esquecido nem omitido.

Na leitura da Profecia de Baruc, tanto Jerusalém como Israel referem-se à Igreja de Jesus Cristo, formada por gente de todos os povos do mundo e não de um só povo. Despir a veste de luto é passar para uma realidade onde a morte não existe mais. Os eleitos de Deus “brilharão como o Sol no Reino de seu Pai” (Mt 13,43). A Justiça em relação a Deus provocará a Paz e a Piedade, que é comunicação com Deus, será participação na sua glória. A Cruz de Jesus Cristo está presente neste texto quando se diz: “Saíram de Ti, caminhando a pé, levados pelos inimigos; Deus os devolve a Ti, conduzidos com honras, como príncipes reais” (Baruc 5,8). Toda essa leitura é uma promessa de felicidade eterna para os que forem fiéis a Deus, durante seu sofrimento nesta terra. O salmo é uma resposta de alegria a essa esperança.

A carta aos Filipenses foi escrita na prisão. Entretanto São Paulo é sempre positivo nela e exorta à alegria. A perspectiva desse trecho é a preparação para o dia de Jesus Cristo, o último dia (Filipenses 1,7.10). Enquanto este dia não chega, São Paulo se alegra pela divulgação do Evangelho por obra dos filipenses (Filipenses 1,5). O objetivo de São Paulo é que os filipenses cheguem ao dia de Jesus Cristo, crescidos no amor e puros e sem defeitos, cheios do fruto de justiça (Filipenses 1,7.10).

O Evangelho traz uma mensagem de penitência baseada na figura de São João Batista. São João Batista preparou o povo de Israel para a vinda de Jesus e é uma figura que tem tudo a ver com a mensagem do Advento. Tendo preparado o povo para o primeiro Advento, é um personagem a ser lembrado na preparação para o segundo Advento. João não trazia toda a Sabedoria de Jesus, sua pregação era muito mais simples, mas tendo o Evangelho, sabemos o que nos espera. O objetivo do Evangelho é que cada vez mais nos apoiemos em Deus e cada vez menos nas criaturas, no dinheiro, na fama, no sucesso ou no poder. Por essa razão o Evangelho fala sempre em renúncia. Renunciar é aprender a abrir mão das coisas e até de nós mesmos, para sermos fiéis a Deus. Podemos abrir mão de nós mesmos, pois o nosso defensor é Deus que nos deu uma vida mortal e nos dará uma vida eterna. Nem mesmo a morte é maior do que o amor de Deus por nós, se buscarmos o caminho do Evangelho e não rejeitarmos o amor de Deus. Ele nos ama e só nos separaremos d’Ele se nós mesmos, pelo orgulho, nos acharmos auto-suficientes e não O buscarmos. Buscar a Deus é renunciar a todas as criaturas, até ao pai e à mãe, e aos afetos mais íntimos para dependermos cada vez mais de Deus só. E renunciar também aos bens materiais, fazendo a caridade para com o nosso próximo. “Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19,21). Depender só de Deus corresponde à Verdade sobre a pessoa humana, criada à imagem de Deus e cuidada por Deus, que é a vida da sua vida.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

1.º Domingo do Advento

Primeiro Domingo do Advento – Ano C – 2010

Jeremias 33,14-16 – Salmo 24 – Primeira aos Tessalonicenses 3,12-4,2 – Lucas 21,25-28.34-36

Começa hoje um novo Ano Litúrgico, Ano C. O Ano Litúrgico começa com o Tempo do Advento. O Tempo do Advento é conhecido como uma preparação para o Natal. Na verdade, porém, não é tanto uma preparação para o Natal, mas para a Segunda Vinda do Senhor, que pode se dar a qualquer momento. O Natal é uma recordação de como Deus foi fiel às promessas feitas aos profetas e enviou o Salvador. Assim Deus será também fiel e o Senhor virá para julgar os vivos e os mortos, como dizemos no Credo.

A Leitura do Profeta Jeremias nos mostra que Deus dará bens eternos a Israel e Judá. Aqui Israel e Judá simbolizam a Igreja de Jesus Cristo. Tais bens eternos foram conseguidos por Jesus Cristo, “a semente da justiça que fará valer a lei e a justiça na terra” (Jeremias 33,15). Jesus Cristo é a nossa Justiça (cf. Jeremias 33,16) pois restaurou as coisas como eram antes do pecado original, quando a pessoa humana vivia exclusivamente da graça de Deus e não das criaturas ou dos frutos do seu trabalho. Daí é que vem que o Reino de Deus pertence aos pobres (cf. Mt 5,3), pois estes se fazem dependentes de Deus, ao passo que os ricos se apóiam nas suas riquezas (criaturas) que não podem, como Deus, dar vida eterna a ninguém.

O salmo 24 responde à Leitura de Jeremias, pedindo a Deus a sabedoria para discernir os caminhos do Senhor e O louva por seus caminhos serem de amor e de verdade e por ter misericórdia dos pecadores arrependidos dos seus pecados.

A Primeira Carta aos Tessalonicenses exorta ao amor e à santidade de vida para o dia da vinda do Senhor que vem para julgar. E lembrando o ensinamento dos Apóstolos de como as pessoas devem viver para agradar a Deus. E exorta a progressos ainda maiores!

O Evangelho de São Lucas nos lembra que as últimas realidades a acontecerem antes da vinda do Senhor serão apavorantes para os que não tiverem a paz de Jesus Cristo. Para os bons cristãos será uma hora de vitória pois a sua libertação (da tentação, do pecado) estará próxima. E dá algumas recomendações para se preparar para a segunda vinda do Senhor: não se deixar levar pelos prazeres da carne (gula, embriaguez) e nem pelas preocupações da vida (dinheiro, segurança pessoal...). Recomenda também a oração constante para viver esses últimos momentos em comunhão com Deus e fazendo somente a Sua Vontade, a fim de não se aterrorizar com a vinda de Jesus Cristo.

Como conclusão, o que devemos viver é o Evangelho e viver o Evangelho é viver cada vez mais dependente só de Deus e cada vez menos das criaturas, não temendo a nenhum acontecimento, mas temendo somente se separar de Deus pela própria fraqueza. A oração não é só vocal, mas mental, para compreender todo o mistério de Jesus Cristo, como Maria Santíssima fazia (Lucas 2,19.51). Uma excelente conclusão para este primeiro domingo do Advento é o próprio cântico de Maria em Lucas:

E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor,

meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,

porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,

porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.

Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.

Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.

Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.

Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.

Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,

conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre” (Lucas 1,46-55).

A humildade de Maria que comoveu a Deus é conseqüência de sua Imaculada Conceição. Ela é a cheia de graça, porque não se apossa de nada que lhe deu o Senhor Deus. Tudo nela continua a ser plenamente de Deus, em total disponibilidade para Deus. Por isso ela pode dizer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

34.º Domingo Comum

34.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Nosso senhor jesus cristo, rei do universo

Daniel 7,13-14 – Salmo 92 – Apocalipse 1,5-8 – João 18,33b-37

Com este domingo iniciamos a última semana do Ano Litúrgico. Contemplamos Jesus Cristo, sentado à direita do Pai e que virá para julgar os vivos e os mortos. Quando Deus criou o homem e a mulher os fez à Sua Imagem para serem seus representantes no mundo visível, reis do mundo visível. Pelo pecado eles perderam essa condição real e a entregaram a satanás. Por isso diz a Primeira Carta de São João 5,19: “Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todo jaz sob o Maligno” (1Jo 5,19). Jão se faz carente de Jesus Cristo, por sua paixão e morte recupera o reinado do homem sobre a natureza. Por que Ele não se faz carente de nenhum bem da natureza, nem das pessoas. Jesus Cristo só depende do Pai para viver. Assim tem poder sobre tudo pois não precisa de nada para viver: só do Pai. Quem precisa de algo não sabe se possui esse algo ou se esse algo o possui. As paixões humanas nos escravizam.

A leitura da Profecia de Daniel traduz essa realeza de Jesus Cristo recuperada em favor do homem. E o Salmo também celebra a mesma coisa. A leitura do Apocalipse já acrescenta algo a mais: Jesus é a testemunha fiel do Pai, o primeiro a ressuscitar de entre os mortos, o soberano dos reis da terra (Apocalipse 10,5). Fez de nós um reino e sacerdotes para Deus, seu Pai (Apocalipse 10,6). Somos sacerdotes com Jesus Cristo na medida em que participamos de sua Cruz e de sua Paixão. Ele é o Alfa e o Ômega (Apocalipse 10,8), o começo e o fim de todas as coisas, todas as coisas são por ele e para ele.

No Evangelho de São João, Jesus relaciona o seu reino, que não é deste mundo com a Verdade. Por que? Jesus diz que veio dar testemunho da Verdade. “Quem é da Verdade escuta a Sua Voz” (João 18,37). Que Verdade é essa? Antes do pecado de Adão e Eva eles viviam a Verdade. Eles não viviam dos frutos das árvores do Paraíso, mas de Deus que era o doador de todos os bens. São João Batista recorda a mesma Verdade: “João replicou: Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu” (Jo 3,27). Então a criatura, toda criatura vive, na Verdade, do Criador, a Fonte de todos os bens. Só Ele pode dar vida eterna, como deu esta vida mortal às suas criaturas humanas. O pecado consiste em crer que a nossa segurança está nas criaturas, no poder, no dinheiro, na fama e nos aplausos, no sucesso que fazemos diante dos outros. Tudo isso é vaidade. “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade” (Eclesiastes 1,2). Nada disso serve para dar vida eterna a nenhuma pessoa humana. Jesus Cristo vive a Verdade, pois, como já dissemos vive somente do Pai, sem se fazer carente de nenhuma criatura humana. A Vida brota do Pai e de mais ninguém, de nenhuma criatura. Mesmo que morrêssemos de fome, por fidelidade a Deus, Ele nos ressuscitará. Esta é a grande Verdade bíblica: o pecado está em confiar nas criaturas como sustentação da nossa existência. Devemos nos apoiar só em Deus. “Só Deus basta!” já dizia Santa Teresa de Jesus. E São Luís Maria Grignion de Montfort também tinha um mote que dizia: “Deus só”. Reinamos com Jesus Cristo na medida em que somos livres das criaturas como nosso sustento e nos apoiamos só em Deus. Por esta razão São Francisco de Assis dava tanta importância à pobreza de bens. Queria apoiar-se em “Deus só!”.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

33.º Domingo Comum

33.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Daniel 12,1-3 – Salmo 15 – Hebreus 10,11-14.18 – Marcos 13,24-32

O mês de novembro tem uma liturgia toda voltada para os últimos acontecimentos, a segunda vinda de Jesus Cristo e os sinais que a precederão. O Evangelho fala de uma grande tribulação. O Livro de Daniel fala que se levantará Miguel. São Miguel Arcanjo é o anjo que se opõe a satanás, que age sabendo que lhe resta pouco tempo. “Por isso alegrai-vos, ó céus, e todos que aí habitais. Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o Demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12,12). Este tempo de tribulação, diz o Livro de Daniel “será um tempo de angústia, como nunca houve até então” (Daniel 12,1). “Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça” (Marcos 13,30). Isto porque os “muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão, uns para a vida eterna” (Daniel 12,2). Este mistério começa com a Ressurreição de Jesus Cristo mesmo, que se passa durante a geração dos seus contemporâneos. O texto também fala que se uns despertarão para a vida eterna, outros despertarão “para o opróbrio eterno” (Daniel 12,2). Não nos é lícito duvidar da existência do inferno. O inferno não é um vestibular, ao qual Deus dará um auxílio pra que todos passem. É mais um casamento. Deus ama a todos, mas não é amado por todos. Há até quem negue a sua existência e fuja d’Ele intencionalmente, preferindo fazer o mal. O Livro de Daniel continua: “os que tiverem sido sábios brilharão como o firmamento” (Daniel 12,3). Não é o sacramento que nos salva, mas a Sabedoria do nosso viver, a conformidade da nossa vontade com a vontade de Deus. Todos devemos buscar a Sabedoria que é o maior dom do Espírito Santo. O princípio da Sabedoria é o temor de Deus, que é mais um temor da própria fraqueza da pessoa humana que a leva a pecar contra Aquele que é a sua salvação.

O Evangelho diz que “as estrelas começarão a cair do céu” (Marcos 13,25). Isto só pode ser uma imagem, pois as estrelas são muito maiores que a terra e não haveria espaço para tantas estrelas. Diz também que “o sol vai escurecer e a lua não brilhará mais” (Marcos 13,24). Isto pode referir-se à bancarrota do projeto da inteligência do homem, que será incapaz de trazer vida eterna a si mesmo, produzindo uma grande poluição e morte. Quando o projeto humano falir, Jesus mostrar-se-á como a salvação do gênero humano. “Quando os homens disserem: Paz e segurança!, então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as dores à mulher grávida. E não escaparão” (1Ts 5,3). Jesus enviará seus anjos a toda a terra para reunir os eleitos de Deus (Marcos 13,27). Será o tempo de separar os peixes bons dos maus (“O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta. Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 13,47-50)) e de separar o joio do trigo (“Jesus propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: - Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio? Disse-lhes ele: - Foi um inimigo que fez isto! Replicaram-lhe: - Queres que vamos e o arranquemos? - Não, disse ele; arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro” (Mateus 13,24-30)). O Evangelho diz também: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Marcos 13,31). As verdades científicas da inteligência humana, da física, da química e da biologia passarão, mas a verdade do Evangelho não passará jamais. E esta verdade é bastante simples: Deus é o Criador do homem e ninguém pode dar vida eterna a si mesmo. A inteligência humana com todas as suas maravilhas e o seu orgulho não pode dar vida eterna ao homem pois a vida é fruto do amor. A ciência humana acabará por produzir mais morte do que vida, que é o que já presenciamos, por falta de amor. Este é também o nexo da morte de Jesus Cristo na Cruz. Jesus mostrou muito poder fazendo muitos milagres e mostrou também muita sabedoria em seus ensinamentos. Mas nos salvou quando estava imóvel na Cruz. Sofreu a tentação: “A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!” (Lc 23,35). Jesus vive a Verdade, mais Ele mesmo é a Verdade. Na sua imobilidade, nada faz para se salvar. SE descesse da Cruz continuaria mortal. Ao morrer esperando no Pai Celestial, Este O Ressuscita, dando uma Vida Imortal. Assim, o principal é a fé em Deus, a esperança e a caridade que nos unem a Deus e nos fazem esperar em Deus que, tendo-nos dado a vida mortal é o Único que pode nos dar a Vida Imortal.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

32.º Domingo Comum

32.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

1Reis 17,10-16 – Salmo 145 – Hebreus 9,24-28 – Marcos 12,38-44

A Palavra de Deus de hoje traz a mesma perspectiva da Segunda Vinda de Jesus que esperamos. O objetivo de Jesus com seu ensinamento é que nos tornemos absolutamente dependentes de Deus, como Adão e Eva no Paraíso, antes do pecado original. A partir do pecado original Adão e Eva, e com eles todo o gênero humano trocaram a confiança em Deus pela confiança nas criaturas e pelo orgulho. Por isso Jesus ensina que os pobres e os últimos, os mais carentes serão os primeiros. “Muitos dos primeiros serão os últimos e muitos dos últimos serão os primeiros” (Mt 19,30; 20,16; Mc 10,31; Lc 13,30). “Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20). Quanto mais meios fora de Deus a pessoa possui maior a probabilidade de confiar nesses meios e não confiar em Deus. Os meios criados a pessoa vê, Deus ela não vê. Por isso Jesus diz que o seu discípulo deve se desfazer dos bens para segui-lo. “Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19,21).

Na Leitura do Primeiro Livro dos Reis, a mulher é convidada por Elias a crer na palavra de Deus e colocar-se sob a proteção de Deus. Ela obedece e Deus mostra sua fidelidade. A mulher alimentou primeiro Elias e depois ela mesma e seu filho – que esperavam a morte. Pela caridade da mulher Deus deu-lhe meios de vida.

No Evangelho, Jesus censura a vaidade dos doutores da Lei, que gostavam de andar com roupas vistosas e serem o centro das atenções, cheios de sua posição social, bem longe dos pobres, que dependem de Deus. Os doutores da Lei eram cheios de si mesmos e de sua própria importância. E diz: “Por isso eles receberão a pior condenação” (Marcos 12,40). Depois observa os que dão esmolas. Os ricos davam do que lhes sobrava, apoiando-se em seu próprio dinheiro. A pobre viúva deu o que lhe faltava, numa mostra de confiança em Deus. Por esta razão ela é louvada por Jesus e Jesus diz dela: “Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Marcos 12,44). Portanto ela deu mais do que todos, pois a sua oferta foi um ato de confiança em Deus.

O princípio básico que norteia estas leituras é que esquecemos que por mais saúde, mais inteligência, força física, fama e fortuna que tenhamos, nada disso nos deu a vida e nada disso nos dará a vida eterna. Somos absolutamente dependentes de Deus e só Ele poderá salvar-nos para a vida eterna. Não ponhamos nossa alegria nem nossa confiança na fama, na fortuna e nem em nossas capacidades e habilidades pois estas não nos darão vida eterna. Façamo-nos absolutamente dependentes de Deus. Esta doutrina está no centro da mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dia de Finados

Finados

Sabedoria 3,1-6.9 – Salmo 41 – Romanos 8,14-23 – João 11,21-27

O Dia de Finados está diretamente relacionado à Festa de Todos os Santos. Rezamos e oferecemos sacrifícios para que os nossos falecidos participem da assembléia dos Santos no Céu.

A leitura do Livro da Sabedoria afirma a fé. A morte aparece para os que vivem neste mundo como uma grande desgraça, mas nós sabemos, pela fé cristã, que após a morte começa a nossa verdadeira vida, à imagem e semelhança de Deus. Lembra ainda que “por um breve sofrimento receberão grandes bens. (...) os aceitou como holocausto” (Sabedoria 3,5.6). Isto nos lembra que é pelo caminho da Cruz que se alcança a vida eterna no Céu. Lembra ainda que “os que põem sua confiança no Senhor (...) são dignos de graça e misericórdia” (Sabedoria 3,9). Isto significa que é pela penitência que alcançamos a misericórdia divina. E penitência é arrependimento e propósito de luta contra o pecado.

O Salmo é um canto de plena confiança em Deus que não quer a morte do pecador mas que tenha vida eterna. É uma confissão de desejo de Deus, amado acima de todas as outras realidades. A vida eterna, de fato, é a posse de Deus, para aqueles que desejaram essa posse na terra.

A leitura da Carta aos Romanos lembra a filiação divina que recebemos por meio de Jesus Cristo e o desejo de unir-nos a Deus superando as fraquezas da carne, deste corpo mortal que serve de morada para a nossa alma. Ser-nos-á restaurado como um corpo imperecível a exemplo de Jesus Ressuscitado.

O Evangelho de João é uma parte da narração da ressurreição de Lázaro. Essa ressurreição foi uma mostra do poder de Jesus Cristo sobre a morte, mas Lázaro foi ressuscitado para a vida mortal e depois morreu novamente. Para Marta, a ressurreição que haveria no último dia se apresentava muito longínqua e incapaz de consola-la pela morte de seu irmão. Então Jesus Cristo lhe diz: “Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá jamais. Crês isto?” (João 11,26). Então Jesus Cristo traz a Ressurreição mais para perto de nós, pela sua proximidade de nós. A ponto de São Paulo dizer: “Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado no meu corpo (tenho toda a certeza disto), quer pela minha vida quer pela minha morte. Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Filipenses 1,20-21). Tenhamos, pois, toda confiança em Deus que nos dará a vida eterna, se formos fiéis ao Evangelho de Seu Filho.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Todos os Santos

31.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Apocalipse 7,2-4.9-14 – Salmo 23 – Primeira Carta de São João 3,1-3 – Mateus 5,1-12ª

Todos os Santos

A Festa de Todos os Santos inaugura o mês de novembro. É o último mês do Tempo Comum. Neste mês a Igreja reflete sobre as realidades futuras, que se chamam Novíssimos do Homem. Medita sobre o destino de todas as pessoas que deve ser o Céu ou o Inferno. A Festa de Todos os Santos não é a festa dos santos já canonizados, mas a de todos quantos estão ou estarão no Céu, vivendo a vida em comunhão com a Santíssima Trindade. Nesta festa a Igreja se vê antecipadamente participando da glória de Deus. Por isso, a leitura do Apocalipse nos faz contemplar “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do Trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas (vestes nupciais) e traziam palmas nas mãos (simbolizando a Cruz que portaram na terra)” (Apocalipse 7,9). “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas roupas no Sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7,14). O Salmo os saúda: “É assim a geração dos que procuram o Senhor” (Salmo 23,6).

A Leitura da Carta de São João nos dá o título de filhos de Deus. Na verdade Deus só tem um Filho, que é Jesus Cristo, a Palavra ou a Sabedoria Encarnada. Nós somos chamados filhos de Deus por causa da nossa união ao Filho Unigênito de Deus, pelo Espírito Santo. Por esta razão esta Leitura diz: “Sabemos que, quando Jesus se manifestar seremos semelhantes a Ele porque o veremos como Ele é” (Primeira Carta de São João 3,2). Na Eternidade não há separação entre Jesus e os que Ele uniu a Ele. Não se deve dizer: “depois de Deus, eu amo mais a Virgem Maria”, pois esta já está plenamente na comunhão com Deus. Não há mais separação. Quando dizemos “Virgem Maria, rogai por nós” estamos dizendo “Jesus, que vives em Maria, intercedei por nós!”. “Eis por que Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus” (Hb 9,24). “Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2,1). Jesus é o Intercessor. Cada um de nós só pode interceder pelos irmãos – e mesmo os santos – pela comunhão com Jesus Cristo.

Finalmente temos o Evangelho. Traz as bem-aventuranças como estão no Evangelho de São Mateus. Os pobres em espírito são os que se sentem pobres, mesmo tendo muitas graças e coisas, porque anseiam acima de tudo possuir Deus e não O possuindo ainda nesta terra, sentem-se pobres. Deles é o Reino de Deus porque amam a Deus acima de tudo. Os aflitos são os que desejam Deus e passam por tribulações nesta vida, participando da Cruz do Senhor, sendo cordeiros de Deus com Ele. Serão consolados porque Deus se revelará a eles e o seu sacrifício não será em vão. Os mansos são os que não conquistam as coisas por sua própria força, mas tudo recebem por graça de Deus, como a Terra Prometida foi dada a Israel por Deus e não pela valentia dos israelitas. “João replicou: Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu” (João 3,27). Possuirão a terra porque Deus dará a Terra Nova aos que vivem da sua graça e não pela sua própria força. Os que tem fome e sede de justiça são os que desejam que o nome de Deus seja santificado e glorificado, como rezamos no Pai-Nosso e no Magnificat de Nossa Senhora. Esta é a justiça do Evangelhos: ser justos para com Deus e dar a primazia em tudo a Ele. Tudo o que recebemos de Deus não é para nós para ser distribuído com os próximos. Assim a misericórdia que recebemos de Deus nos deve fazer misericordiosos com os nossos próximos, e se assim formos o Senhor sempre terá misericórdia de nós. Os que promovem a paz são os que renunciam a si mesmos para amar até os inimigos, como Jesus diz no mesmo Sermão: “Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,44-48). O filho é aquele que se parece com o Pai e faz as obras do Pai. Os que são perseguidos por causa da justiça são os que são perseguidos por causa da pregação do Evangelho que nos faz ser justos para com Deus. Estes participam diretamente da Cruz do Senhor Jesus. São muitos mártires, “que alvejaram suas vestes no Sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7,14). Estes são também os injuriados e perseguidos por causa do Evangelho. Terão a participação nos bens do Senhor Jesus, em sua Ressurreição. A alegria na dor é o grande paradoxo do cristão, pela esperança que o anima. “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus” (Mateus 5,12a).

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

30.º Domingo Comum

30.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Jeremias 31,7-9 – Salmo 125 – Hebreus 5,1-6 – Marcos 10,46-52

A Prece antes das Leituras muitas vezes orienta o sentido que se deve tirar das Leituras. No dia de hoje diz: “Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e daí-npos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis”. A fé é aceitar que Deus é veraz em suas revelações. Não duvidar delas. Adão e Eva, no Paraíso, aceitaram a palavra do demônio dizendo que Deus era mentiroso e comeram do fruto da árvore do bem e do mal que Deus havia proibido a eles de comer sob pena de morte. Não acreditaram em Deus para acreditar no demônio. Isto foi o começo do seu pecado. A esperança é a certeza de que o amor de Deus prevalecerá sobre os que Deus ama. Que os sofrimentos deste mundo terão um término e virá depois a vida bem-aventurada. A caridade é a situação final da pessoa humana em relação a Deus. Quando não houver mais necessidade de fé, porque o que foi revelado será manifestado, não houver mais necessidade de esperança porque o que se esperou já foi recebido, permanecerá a caridade, o amor eterno entre Deus e sua criatura. “A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade” (Primeira Carta aos Coríntios 13,8-13). A fé, a esperança e a caridade levam a obedecer a Deus na “porta estreita” desta vida para alcançar a vida bem-aventurada, que Deus promete aos fiéis.
Desta forma o tema central das leituras de hoje pode ser a diferença entre a miséria das pessoas nesta vida mortal e a esperança da vida bem-aventurada, sem misérias. “Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Filipenses 3,10-14). Como se pode perceber, para São Paulo, o conhecimento de Jesus Cristo é uma experiência da paz no sofrimento totalmente baseada na esperança. É a experiência do Reino de Deus que se manifesta na parábola da semente: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24).
Na Leitura do Livro de Jeremias a “primeira das nações” revela toda a sua miséria: cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes (mulheres que sofrem dor). E Deus promete um alívio para essas misérias, no retorno a Jerusalém terrestre, pois se faz um pai para Israel. O Salmo antecipa a alegria das maravilhas que o Senhor fará pelos seus fiéis com seu canto.
A Leitura da Carta aos Hebreus mostra que todos os bens, até o sacerdócio de Jesus Cristo é graça do Pai e tudo que a pessoa humana tem é recebido por graça divina.
O Evangelho finalmente mostra que a determinação do sofredor na fé em Jesus Cristo o leva ao alívio de suas dores. Nessa determinação o cego chega a dar um pulo, o que é raro ver um cego fazer. Este pulo simboliza o ato de fé que é um pulo no desconhecido pela pessoa humana e um ato de confiança em Deus. Jesus lhe diz: “Vai, a tua fé te curou” (Mc 10,52). O ato de fé é um ato de total confiança em Deus que Se revela. O ato de fé é um ato que atesta que Deus é verdadeiro e que empenha toda a vida daquele que tem fé. Tudo o que faz é confiado na Revelação que Deus lhe fez.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

29.º Domingo Comum

29.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Isaias 53,10-11 – Salmo 32 – Hebreus 4,14-16 – Marcos 10,35-45

Neste Dia Mundial das Missões, a Palavra de Deus atinge em cheio o coração do Evangelho. Não são os grandes dominadores que são recordados pelas gerações posteriores, mas sim, os que serviram com grande perseverança. Quem é maior aos olhos dos homens de hoje? César, Napoleão, Gengis Khan, ou Pasteur, Santos Dumont, Albert Schweitzer, Albert Sabin, Madre Teresa de Calcutá? Quem serviu vale mais do que quem dominou. O Evangelho denuncia que a sede de poder e de ser o maior é uma ilusão e não traz para a humanidade nenhum fruto.
Jesus Cristo sofreu por todos nós. Se repararmos bem não há nenhum bem que não venha com muito sofrimento, muito sacrifício. O poder muitas vezes destrói mais do que constrói. O serviço ao próximo constrói e salva. A Carta aos Hebreus fala do Sumo-Sacerdote que é Jesus Cristo. Foi Ele o que mais serviu à humanidade, pois não só curou doenças dos mortais, mas deu-nos uma vida eterna, a nós que, pelos nossos pecados não merecíamos.
No Evangelho de hoje, Tiago e João, levados pelo pecado, querem ser mais que os outros apóstolos. Quando os outros apóstolos souberam revoltaram-se também. No fundo todos queriam ser os maiores. E quando a gente quer os primeiros lugares, não suportamos os outros que também querem. Jesus, sabendo que os apóstolos tinham outra vocação diz-lhes: “Vós não sabeis o que pedis”. E entra na questão do batismo e do cálice que o Senhor vai beber. Ora esse batismo e esse cálice são a Paixão e a participação nos sofrimentos de Jesus Cristo, do qual eles vão participar. Tiago será o primeiro apóstolo a ser martirizado (cf. Atos 12,2). E Jesus chama os seus a serem realmente construtores, renunciando ao poder – no Reino de Deus é só Deus que tem o poder. Na Missa o povo católico exclama: “Vosso é o Reino, o Poder e a Glória!”. O poder não deve ser desejado pelos cristãos. O serviço, sim. Pois é o serviço que salva e constrói as vidas e não o poder, a não ser que esse poder esteja só nas mãos de Deus e dos que O temem. Jesus mesmo não veio para ser servido, mas para servir ao ponto de dar sua vida para o resgate de muitos. Os que O seguem também devem dar sua vida para a salvação de muitos. Seguir Jesus é renunciar a si mesmo e dar sua vida para que outros tenham vida (cf. Mateus 16,24; João 10,10).

Nossa Senhora Aparecida

Nossa senhora Aparecida – 12 de outubro – 2009

Ester 5,1b-2;7,2b-3 – Salmo 4 – Apocalipse 12,1.5.13a.15.16a – João 2,1-11

A Oração antes das Leituras diz: “Ó Deus todo-poderoso, ao rendermos culto à Imaculada Conceição de Maria...”. Isto significa que a festa de Nossa Senhora Aparecida é, na verdade, uma antecipação da Imaculada Conceição, pois a imagem achada no Rio Paraíba era de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Deste modo, podemos dizer que Maria é Imaculada não apenas por que seria a Mãe de Jesus, mas também em função da nossa salvação, para termos no Corpo de Cristo, que é a Igreja, um membro que jamais foi derrotado pelo poder de satanás. É na devoção a Maria Imaculada que adquirimos também uma capacidade maior de vitória contra o inimigo de nossas almas. Há um combate entre Deus e os anjos rebelados contra Ele e o campo dessa batalha é o coração de cada pessoa humana. Nesse combate Maria é um poderoso auxílio para a vitória de Deus. Não há vitória, porém, sem riscos. O preço da vitória é a Cruz de Jesus Cristo, partilhada por cada cristão. Vemos isso tanto na Primeira como na Segunda Leituras.

Na Primeira Leitura, Ester é alçada à condição de Rainha da Pérsia, no tempo do Rei Assuero. Acontece, porém, por indústria do ministro Amã, um genocídio contra o povo judeu na Pérsia. O Rei Assuero se casara com Ester sem prestar muita atenção na sua origem. O tio de Ester, Mardoqueu, recorre então a Ester para ver se salva o povo judeu. Esta, depois de muitas orações a Deus, se declara judia diante do Rei Assuero e pede a libertação de seu povo. O Rei poderia ter duas alernativas: atender Ester, ou manter o genocídio e nesse caso repudiar Ester, que seria morta com seu povo. Ester se arrisca. E o Rei a atende. O decreto contra os judeus é anulado e o Rei passa a perseguir o ministro Amã, que é enforcado. Essa história pretende mostrar a intercessão de Maria a favor do povo condenado por satanás à perdição eterna. A única sem pecado está a favor dos pecadores, pela sua salvação.

Na Segunda Leitura, aparece uma Mulher vestida de sol. É uma imagem presente nos Evangelhos, seja na Transfiguração de Jesus, como em suas palavras: “Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol. Aquele que tem ouvidos, ouça” (Mt 13,43). A Mulher tem a lua debaixo dos pés. Isso significa que a Mulher superou o tempo e entrou na eternidade. A lua era um modo de medir o tempo, na Antiguidade. Ela tem também, na cabeça, uma coroa de Doze Estrelas. Essas Doze Estrelas simbolizam seja as doze tribos de Israel, seja os Doze Apóstolos, isto é, a Igreja inteira. A coroa de Maria não é de ouro nem de prata, mas é formada pela Igreja salva com a sua ajuda do poder do pecado e de satanás. Cada um dos filhos de Maria participa de sua coroa. Como podemos ter a certeza de que esta Mulher é Maria? Pela expressão “cetro de ferro”. Esta expressão só ocorre no Salmo 2, uma vez e três vezes no Apocalipse. No Salmo 2:

1. Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações?

2. Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo.

3. Quebremos seu jugo, disseram eles, e sacudamos para longe de nós as suas cadeias!

4. Aquele, porém, que mora nos céus, se ri, o Senhor os reduz ao ridículo.

5. Dirigindo-se a eles em cólera, ele os aterra com o seu furor:

6. Sou eu, diz, quem me sagrei um rei em Sião, minha montanha santa.

7. Vou publicar o decreto do Senhor. Disse-me o Senhor: Tu és meu filho, eu hoje te gerei.

8. Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo.

9. Tu as governarás com cetro de ferro, tu as pulverizarás como um vaso de argila.

10. Agora, ó reis, compreendei isto; instruí-vos, ó juízes da terra.

11. Servi ao Senhor com respeito e exultai em sua presença; prestai-lhe homenagem com tremor, para que não se irrite e não pereçais quando, em breve, se acender sua cólera. Felizes, entretanto, todos os que nele confiam.

Neste Salmo, como se pode ler, é o Filho gerado por Deus que rege as nações com “cetro de ferro”. Nas passagens do Apocalipse também tem o mesmo sentido.

Ele as regerá com cetro de ferro, como se quebra um vaso de argila,” (Ap 2,27).

Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono” (Ap 12,5).

De sua boca sai uma espada afiada, para com ela ferir as nações pagãs, porque ele deve governá-las com cetro de ferro e pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus Dominador” (Ap 19,15).

Então a Mulher só pode ser Maria, a Mãe do Filho de Deus. Após a Ascensão de seu Filho, a Mulher trava um combate contra o Dragão. É a luta da Igreja contra o poder das trevas. A Mulher é socorrida pela terra. O que significa esse socorro da “terra”? A “terra” significa as coisas como Deus as fez e as considerou muito boas (cf. Genesis 1,31). As coisas devem ser consideradas como Deus as fez. A deturpação que a pessoa humana faz, acaba sempre em pecado. Pecado de homossexualismo, de poluição da natureza etc... A Verdade está sempre a favor da salvação da pessoa humana. “Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz” (João 18,37).

No Evangelho temos o casamento de Cana da Galiléia e o primeiro sinal de Jesus. Quem são os noivos desse casamento? Não se sabe. São João se apropria de um casamento para mostrar as núpcias de Deus com a humanidade. Estas núpcias tem dois tempos: o “casamento” entre Deus Pai e Maria “cheia de graça”, pela virtude do Espírito Santo, e a doação do Espírito Santo a todos para todos serem Igreja e se tornarem “esposa de Cristo”. A característica de Maria “cheia de graça” deve ser refletida aqui. Graça é um dom do Criador às suas criaturas, mas que continua sendo do Criador, totalmente sob o Seu Poder. Tudo é graça, o nosso corpo, a nossa vida e as coisas de que nos servimos. Tudo está sempre sob o poder de Deus. O pecado acontece quando a pessoa humana toma “posse” das coisas como suas esquecendo sua origem divina. Só Deus é que cria as coisas. A pessoa humana no máximo as transforma. Maria ser “cheia de graça” significa que de nada ela toma posse, porque nela não há pecado. Tudo nela continua a estar totalmente sob o poder de Deus. Daí a sua total disponibilidade a ponto de dizer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38). Em Maria não há a menor resistência à vontade de Deus. Daí, nessa disponibilidade, Maria se “casar” com Deus, em íntima união e gerar Aquele que é o Filho de Deus e o Filho do Homem. Filho de Deus e de Maria (humana). Com a doação do Espírito Santo em virtude da Paixão de Jesus, há o outro momento, em que com o auxílio de Maria, todo cristão se “casa” com seu Deus em um amor único.

A consagração que fazemos de nós a Nossa Senhora é uma consagração a Deus, pois, como vimos, Ela de nada se apossa e tudo que lhe é oferecido é posse plena de Deus. Por isso, ao dar alguém seu corpo e sua vida toda a Maria está dando-a a Deus. E vivendo aquela Palavra de Jesus Cristo que diz: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mateus 16,24). Ou seja, a devoção a Maria nos faz seguir o Evangelho como verdadeiro discípulo. O que se dá a Maria se dá a Deus e não pode ser retomado. Foi consagrado.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

28.º Domingo Comum

28.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Sabedoria 7,7-11 – Salmo 89 – Hebreus 4,12-13 – Marcos 10,17-30

Como expressa a Leitura do Livro da Sabedoria, o tema da Palavra de Deus de hoje é a busca da Sabedoria. A Sabedoria é o dom do Espírito Santo que abrange todos os outros. Como se diz na Leitura do Livro da Sabedoria ela vale mais do que o ouro e a prata, os cetros e tronos, mais que a saúde e a beleza, e mais que a luz dos olhos. Todos os bens nos vem com a Sabedoria e de todos os bens, o maior de todos, a vida eterna.

A Leitura da Carta aos Hebreus identifica a Sabedoria com a Palavra de Deus. De fato, entender a Palavra de Deus profundamente e vivê-la é um dom do Espírito santo e corresponde à Sabedoria. Claro é que nem todos na Igreja tem esse dom, mas como a Igreja é um Corpo, aqueles a quem é dada a compreensão mais profunda da Palavra de Deus devem ensiná-la aos outros. Nem a todos o Espírito Santo se comunica diretamente, mas quem recebe um dom deve colocá-lo para a vantagem de todo o Corpo da Igreja. Tudo está nu e descoberto aos olhos da Palavra de Deus, ou seja, da Sabedoria. Quem a possui compreende todas as coisas.

No Evangelho, uma pessoa se dirige a Jesus desejando a vida eterna. O caminho para a vida eterna é a Sabedoria. Jesus é a Sabedoria Encarnada, a Palavra de Deus que se encarnou e habitou entre nós (cf. Jo 1,14). Jesus aponta logo o centro da Sabedoria, que é buscar Aquele que só Ele é bom: Deus. Quem bota o seu bem em Deus está no caminho de adquirir a Sabedoria. Pelo pecado original a pessoa humana deixou de colocar o seu bem em Deus e começou a colocá-lo no seu poder sobre as criaturas. A pessoa que interpela Jesus diz que segue os mandamentos, ou seja, não prejudicava a ninguém. Mas será que fazia o bem a alguém? Quando Jesus lhe aponta o caminho da perfeição, que é colocar o bem em Deus só, o interlocutor de Jesus vai embora cheio de tristeza, porque estava cheio de idolatria e tinha seu verdadeiro bem nas riquezas. Pergunta-se: as riquezas eram dele ou ele que era das riquezas? Se ele não consegue dispor do que é seu é porque sua propriedade o domina e não é ele que tem poder sobre sua propriedade, mas sua propriedade tem poder sobre ele. A causa da tristeza é a condenação do pecado original: a pessoa não consegue viver da graça de Deus e tem o seu bem nas criaturas. Daí Jesus dizer que é muito difícil um rico entrar no Reino dos Céus. O rico, geralmente tem o seu coração, não em Deus, mas nas suas riquezas, que não lhe podem dar vida eterna. A Sabedoria que conduz à vida eterna vale mais do que todas as riquezas do mundo e é só ela que pode dar a Paz ao coração do homem diante da morte e das cruzes desta vida. No entanto, diante da infinita misericórdia de Deus, Jesus Cristo afirma que para Deus tudo é possível, inclusive derramar sua graça sobre os ricos, que podem fazer com suas riquezas muito bem, dar comida a quem tem fome, bebida a quem tem sede e remédios a quem está doente, e instrução a quem é ignorante. A própria Igreja, para sua missão, precisa de recursos e muitos ricos ajudam a Igreja em países abastados e essa ajuda vai para países empobrecidos. Para Deus nada é impossível. O mais importante de todos os bens que alguém pode almejar é a Sabedoria que é a prória habitação de Deus no espírito da pessoa humana.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

27.º Domingo Comum

27.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Genesis 2,18-24 – Salmo 127 – Hebreus 2,9-11 – Marcos 10,2-16

A Palavra de Deus deste domingo tem dois temas interrelacionados, que é a unidade do casal homem-mulher e a humildade.
A Leitura do Livro do Genesis proclama que o casal humano deve ser uma só carne. Isto é uma semelhança divina, pois Deus é Três Pessoas, mas uma só Vida Divina. Assim como o Pai e o Filho se amam, cada um se esvaziando de si para viver verdadeiramente no Outro, e deles procede a Terceira Pessoa, que é o Espírito Santo, Espírito de Verdade e de Unidade de Pessoas, assim também o homem e a mulher devem formar uma unidade por meio do Espírito Santo, Espírito de Unidade de Pessoas. Assim a pessoa humana realiza a imagem e semelhança divina na qual foi criada.
“Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher (Gn 1,26-27). (...) Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24). Repare neste texto que a semelhança divina não é a razão e a liberdade da pessoa humana, mas ser homem e mulher, uma só carne, semelhança da Santíssima Trindade, Trina e Una.
A Obra de Jesus Redentor é restaurar a pessoa humana na sua condição original, de Paraíso. Por esta razão Jesus, no Evangelho de hoje, rejeita toda separação entre o marido e sua esposa, sob pena de adultério.
A Leitura da Carta aos Hebreus relembra que Jesus se colocou não só abaixo dos anjos, mas também abaixo das pessoas humanas, como servidor delas, sofrendo morte infame. O Evangelho faz suceder à questão da separação do casal, logo o tema das crianças. E Jesus afirma “Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10,15). Parece fazer alusão que as separações dos casais se deve sempre a mecanismos de poder e que a criança é o modelo para entrar no Reino, pela própria natureza do Reino de Deus. Nós dizemos na Santa Missa: “Vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre”. Então o cristão não deve ambicionar o poder sobre os seus irmãos e sim o serviço a eles. O poder que um pai e uma mãe tem sobre os seus filhos é para servir a eles, educando-os e dirigindo sua liberdade para o bem. Jesus ensinou: “O maior dentre vós será vosso servo” (Mt 23,11). A criança é aquela que se sabe dependente do pai e da mãe. Pode estar até fazendo malcriação contra o pai e a mãe, mas se estes se retiram ela vai atrás deles, na sua completa dependência. Assim também nós somos absolutamente dependentes de Deus, como uma criança o é de seus pais. Por esta razão Jesus coloca a criança como paradigma dos que entram no Reino de Deus. A criança sabe que não tem poder e se coloca na dependência daqueles que lhe dão segurança. O pecado é justamente buscar a segurança no poder sobre as criaturas e não se colocar dependente totalmente do Criador.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

26.º Domingo Comum

26.º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 2009

Números 11,25-29 – Salmo 18 – Tiago 5,1-6 – Marcos 9,37-42.44.46-47

A oração antes das leituras pede a graça a Deus. A graça também são os dons do Espírito Santo e entre estes o dom da profecia, ou seja, falar em nome de Deus.
A tendência ao poder que se seguiu ao pecado original levou a achar que só alguns poderiam falar em nome de Deus. É o que está expresso nas preocupações de Josué na Primeira Leitura e nas preocupações dos discípulos no Evangelho. Na Primeira Leitura, Moisés profetiza sobre o povo cristão no qual todos são chamados a ser profetas. Ainda mais no momento atual em que somos chamados a realizar a Missão Continental. Devemos professar nossa fé sem respeitos humanos e sem a menor timidez. No Evangelho Jesus, que havia dito a Nicodemos que o Espírito sopra onde quer (cf. Jo 3,8), não rejeita uma pessoa que profetiza em seu nome, mas não pertence ao grupo dos Doze discípulos. “Quem não é contra nós é por nós” (Mc 9,40).
Após esse ensinamento Jesus ensina sua presença não só nesse “pregador”, mas também em qualquer necessitado, ou pequenino. No mundo atual muitos escandalizam os pequenos ensinando-lhes o pecado, as drogas, o sexo antes da idade, o turismo sexual e outras aberrações como a violência. Contra todos se insurge o Senhor, afirmando que seria melhor serem afundados no mar com uma pedra de moinho no pescoço (cf. Mc 9,42). E nos previne para, com energia retirarmos de nossa vida qualquer realidade que nos arraste ao pecado.
A Segunda Leitura, da Carta de São Tiago tem um tema diferente. E trata de como todas as coisas que não usarmos para a caridade para promover o próximo voltarão contra nós. A nossa segurança deve estar somente em Deus, como Adão e Eva no Paraíso, e não nas coisas, nos afetos, fama ou prazeres humanos. Todas essas coisas voltarão contra nós. Todos os dons de Deus devem ser usados para fazer bem ao próximo, ao nosso irmão. Aquilo que for recebido de graça e não for dado de graça voltará contra nós no juízo divino. Tornaremos estéreis os dons de Deus? É o que aconteceu com o rico epulão, da parábola contada por Jesus.
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava. Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: - Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas. Abraão, porém, replicou: - Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá. O rico disse: - Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos. Abraão respondeu: - Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos! O rico replicou: - Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão. Abraão respondeu-lhe: - Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos” (Lucas 16,19-31). Nesta parábola, as festas que o rico dava não lhe renderam pois não eram uma renúncia a si mesmo para fazer bem a outrem, mas era um deleite pessoal. O pobre, que não tinha em que confiar, pois não tinha coisas nem amigos encontrou seu apoio em Deus, que socorre os deserdados. Não substituamos jamais Deus, que é a nossa segurança, nem por coisas nem por pessoas. As criaturas não nos podem dar vida eterna, mas somente Deus, que nos deu essa vida mortal nos dará, se nos apoiarmos somente n’Ele, a vida divina e sem fim.